Um engraxate no Largo da Matriz
Hoje é sábado, amanhã é domingo. Dois dias de mais trabalho para mim, pois vai vir muita gente aqui no Largo. No sábado as ruas ficam cheias com o povo que vem da roça. No domingo, também ficam cheias na hora da missa das oito e, aí, é o dia inteiro. Ainda mais que não para de chover! Claro, podia parar no sábado e no domingo, mas sujar muito sapato e botina na semana. Mamãe, quando eu chegar em casa à noite, vai ficar muito contente, pois gosta muito que eu ganhe dinheiro e ajudar em casa.
Se Deus ajudar, com mais um ou dois fins-de-semana, vou poder comprar aquele retalho que ela gostou tanto, para que ela faça um vestido novo para a Missa do Galo. Coitada, os seus vestidos já estão bem ruins. Tomara que dê tudo certo, que os sapatos do povo sujem mais, muito mais, esses dias antes do Natal. E eu não brinco: ficam limpinhos!
- Engraxate! Engraxar, moço?
(Pitangui, MG, 1966)