Marcas que viraram produtos

Com toda essa onda de fotos de artistas nuas, ouviu-se falar muito de Photoshop. Inclusive, tivemos discussões a respeito de exigências de uso de advertências quando houver retoques com o editor e, em alguns casos, até proibições da utilização para não esconder a real forma da modelo.

As pessoas que veem as fotos retocadas pensam, “Nossa como essa modelo é perfeita, eu nunca ficarei assim”. Portanto os artistas digitais deviam sempre colocar uma informação referente ao uso de retoques e edições na imagem.

No entanto, não quero falar sobre isso. Quero falar de algo muito interessante que acontece há muito tempo, e que lembrei justamente por causa da questão do Photoshop.

Quem está lucrando mais com toda essa história é a Adobe.

— Quem?

Adobe é o nome de uma empresa desenvolvedora de Softwares. A Adobe criou vários softwares, como o Premiere (edição de vídeo), After Efects (efeitos especiais) e o próprio Photoshop para edição de imagens. Existe uma lista consideravelmente grande de Softwares da empresa, mas listá-los aqui não convém.

O Photoshop deixou de ser uma ferramenta e passou a ser um “produto”, às vezes até um verbo e em alguns casos até uma filosofia de vida.

Quem nunca ouviu a frase: “Que imagem photoshopada”?

— Photoshopada?

Pois é, usar Photoshop em uma imagem a deixa photoshopada, isso acontece. É um verbo novo na nossa ortografia, “photoshopar”. Às vezes a imagem nem foi editada pelo dito cujo, mas é comum de as pessoas dizerem que ali tem Photoshop. Se você não sabe, existem outros editores de imagem.

A Microsoft tem dentro dos seus sistemas operacionais, um software chamado Paint. Aposto que todos já devem ter brincado no Paint, mas, nem de longe, ele consegue resultados de edição como o Photoshop.

Nunca ouvimos alguém falar: “Aquela imagem está ‘paintiada’”

Soaria até engraçado falar isso e nos remeteria a ideia de que a imagem tem cabelos e que foi “penteada”.

— Mas por que a Adobe está ganhando com isso?

— Propaganda grátis da sua ferramenta.

Existe uma associação da marca ou ferramenta com o produto em si. Existem no mercado, dezenas de exemplos parecidos com esse, dos quais a marca ficou tão conhecida que substituiu o nome do produto.

Agora citarei vários exemplos e com certeza, deixarei vários exemplos de fora.

Bom, o primeiro caso que citarei é a marca Bombril. Poucas pessoas sabem que o nome do principal produto da Bombril é “esponja de aço”.

Quem nunca presenciou a mãe falar assim: “Preciso ir ao mercado comprar Bombril”?

Em alguns casos, a pessoa vai ao mercado e compra outra marca, mas para aquela pessoa, o produto se chama Bombril.

Aproveitando que a mãe vai ao mercado, ela faz uma lista de compras. Final de semana ela vai fazer uns pãezinhos e um bolo, então coloca farinha de trigo, leite, ovos e pó Royal.

— Opa, mas pó Royal não é uma marca também? O produto fabricado pela Royal é fermento químico.

Se for ao mercado, já aproveita e compra Maizena para preparar algum prato para a criançada. Se falar que vai comprar amido de milho, sua mãe vai perguntar: “Mas o que é isso? Compra só Maizena e está ótimo”. Depois você fala para a sua mãe que Maizena é a marca do amido de milho.

A criançada é bem exigente também. Levar ao mercado é complicado, porque eles querem pegar de tudo. Se passar na parte de frios, eles veem de longe o Danone.

— Mãe, compra Danone?

— Eu comprei semana passada, você quer mais?

Agora se você fala para a criança que vai comprar iogurte, ela fala que não quer, ela quer Danone. Na verdade, tem criança que, se você falar iogurte, ela logo imagina aquela bebida gostosa que tem os bichinhos vivos, como é mesmo o nome?

— Lactobacilos vivos. É isso.

Essa bebida se chama Yakult. Iogurte e Yakult têm pronuncias parecidas, daí a confusão. Então a mãe compra o iogurte e o leite fermentado com lactobacilos vivos, mas, se a criança perguntar, é Danone e Yakult.

É claro que tem algumas mães que compram o “Danone” e o “Yakult” de outras marcas, porque são mais baratos. Que confusão, não?

E já que estamos na área de lacticínios, para finalizar as compras no mercado, não pode faltar o Leite Moça para fazer aquele docinho final de semana.

Essa é fácil, não é? Leite Moça é igual Leite Condensado.

Saindo um pouco do mercado, a mãe se lembra de passar na farmácia, pois o seu filho levado estava correndo, caiu e ralou a perna. Ela pede Merthiolate para passar no machucado e pede também Band-aid para sarar logo.

O farmacêutico entrega os produtos e fala:

— Aqui estão seus produtos: o antisséptico e o curativo.

A mãe o olha com cara de dúvida, mas pega os Merthiolate, o Band-aid e sai.

Entretanto, antes de chegar ao carro, o marido grita:

— Pega Prestobarba pra mim!

Prestobarba é algo novo, porque antigamente os homens usavam Gillete.

Alguém se lembra? Poucos sabem que Gillete é a marca, pois o nome certo é lâmina para barbear. Hoje, porém, o mais comum é usar o aparelho de barbear. O mais engraçado é que o “Prestobarba” é da “Gillete”. Eles conseguiram criar dois produtos que viraram nome, literalmente.

Lá vai a mulher comprar o que o marido pediu na farmácia e acaba lembrando também de comprar Cotonete. Esse é clássico, se você vai a qualquer lugar e fala: “Eu quero hastes flexíveis com ponta de algodão”, a pessoa vai pensar que você é louco. “O que isso que esse sujeito está querendo?”

Aí você fala:

— Quero Cotonete.

— Ah, por que não disse antes?

Após o mercado, o pai resolve ir ao boteco tomar uma cervejinha, mas seu filho quer ir junto e, de tanto insistir, acaba tendo que levar.

Lá, o pai pergunta:

— Quer Tubaína?

Como o garoto não conheceu muito bem a época de ouro em que Tubaína era uma bebida largamente consumida, o garoto responde:

— Quero Coca.

O dono do bar vai lá e pega uma refrigerante de Cola, que, coincidentemente, é da marca Coca-Cola.

O garoto, quase satisfeito, pede ao pai:

— Pai, compra Chiclete?

Existem muitas marcas de goma de mascar, mas para a criança, todos são Chicletes.

A mãe liga para o pai e fala:

— Passa na papelaria para comprar alguns materiais de escola do menino.

O marido não querendo ir embora do bar ainda, pergunta irritado:

— Mas você já não comprou?

— Eu comprei algumas coisas, mas faltou Bic, Durex e tem que tirar Xérox de uns documentos dele.

Palavras como “caneta esferográfica”, “fita adesiva” e “fotocópias” são coisas muito estranhas de se falar, então vai Bic, Durex e Xérox mesmo.

E para completar o desgosto do marido, a mulher ainda fala que quer jantar fora. Era só o que faltava pra terminar com seu dia. Estava inclinado a contestar, mas ele logo aceita diante das palavras da esposa:

— Se você não sair comigo, vai jantar Miojo hoje.

Macarrão instantâneo é rápido, mas nem sempre nutritivo, daí o marido aceitou os termos da esposa.

E assim é o nosso cotidiano, as marcas estão presentes em nossas vidas cada vez mais. Nós convivemos com os nomes de marcas e associamos muito bem ao produto. Essas empresas, ou são pioneiras no segmento, ou tem um marketing tão bom para divulgação que conseguiram fazer seus nomes entrarem em nossas cabeças.

Bom, é isso. E se quiser tirar Xérox desse texto, fique a vontade.

01/09/2011

Elberton Freire