UMA PASSAGEM RÁPIDA POR UM SEMINÁRIO DE PADRES

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Rio de Janeiro, Quinta-feira, 25 de Outubro de 2018

Eu devia ter uns treze ou quatorze anos de idade quando apareceu lá em casa o "Zé", como nos o tratávamos. Ele foi conosco para Sergipe uns anos anteriores a isso. Nesta época era ainda um seminarista. E convidou-me a passar uns dias lá no seminário, porque era período de férias e com aquiescência de meus pais, eu fui.

Lembro de certos episódios dessa época. Um deles era assisti-lo desenvolver alguns trabalhos manuais que ele fazia para auto subsistência, haja vista que não era de família tão abastada que lhe pudesse fornecer recursos durante o período em que estudava para ser padre.

Antes de mais nada há que se dizer que ele era um artista. Pintava quadros, esculpia imagens em pedaços de tronco de árvore. Inclusive vi uma dessas suas obras. Ele esculpiu N. Senhora num desses pedaços de tronco de madeira.

Certa vez, também, chegou lá em casa, e havia uma chapa plana de chumbo e ele a pegou, esculpindo com um canivete uma imagem de uma ponte de pedra sobre um riacho. E cai na besteira de levar tal obra para a escola. A professora encantou-se com ela e chegou a insistir com veemência para que eu a cedesse a ela. Claro que não aceitei isso.

Também costumava trançar fios de plástico para fazer bolsas. Pegava os fios coloridos e as montava, vendendo-as a quem se interessasse por elas. E com isso angariava meios de sobreviver por sua conta, ainda um seminarista.

Mas das lembranças mais marcantes desse período em que estava no Seminário com José, foi que ele incumbiu-se de um passeio através da estrada de ferro que subia até o Corcovado. Fomos eu, ele e mais um senhor que era seu amigo, também, a pé.

Seguimos paralelamente ao trilho até lá em cima.

Naquela época, década de sessenta, os tempos eram outros. Não havia nenhum risco nessa epopeia. Hoje em dia não há como alguém pretende-la realizar, sem correr risco de assalto ou algo pior. E até mesmo aquela quantidade de veios de água cristalina que escorria das encostas pedregosas daquela região, nos servia para saciar a sede nesse trajeto ou percurso. Hoje também já não é mais aconselhável tal consumo em função da poluição ambiental que atinge aquela região.

E fiquei no Seminário por uns dias. Assustando-me à noite, quando saía do meu quarto para ir ao de José, e olhava aqueles corredores cumpridos e desertos, no escuro, e esporadicamente observava o deslocamento de algum seminarista com a batina sacudindo de um lado ao outro, chegava a assustar.

Aquela situação não chegou a estimular-me a ser um padre no futuro. Mas foi um período de bons momentos na minha adolescência. E não dá para deixar de lembra-lo vez ou outra.

Aloisio Rocha de Almeida
Enviado por Aloisio Rocha de Almeida em 25/10/2018
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