NO SÍTIO DE TIO EMÍDIO, COM O PRIMO ZEZÉ.

Rio de Janeiro, Quarta-feira, 17 de Outubro de 2018

A cidade de Lagarto, lá em Sergipe, é a fonte onde a minha família iniciou-se. Meus pais, eram de lá. Logo ao casarem-se vieram para o Rio de Janeiro. Então, nasci nesta cidade. Naquela época era o Distrito Federal, capital do país. E por sorte minha pude ir conhecer aquela cidade já aos oito, nove ou dez anos de idade, não lembro ao certo.

Por incrível que pareça, não senti a diferença de um lugar para o outro. Talvez isso se explique pela natureza rural que sempre possui. Atribuo, até, uma questão genética, por óbvio. E de família muito grande, muitos tios, tias e primos.

Um deles, tio Emídio, irmão de meu pai, vivia em Lagarto. Possuía vários filhos, mas três deles buscaram viver no sul/sudeste do país. Dois deles convivi com eles. Um foi para o Paraná e sofreu um trágico acidente, morrendo. Só o vi através de uma fotografia, já no caixão, enviada a nós não sei por quem.

Mas nessa época, o Zezé, ou Zeca, como o tratavam, ainda vivia na cidade. E morava com o pai e a mãe. E como todos dali, era voltado para a "malhada". Este termo era aplicado quando se queria falar da agricultura, da plantação. Mas também gostava de cavalos. E possuía mais de um.

E nós, eu e meu irmão, que mesmo nascidos no Rio de Janeiro, gostávamos disso também. Então juntamos "a fome com a vontade de comer". Íamos no sítio para visitar tios e primos, mas também para andar no cavalo do Zeca. E fizemos isso algumas vezes, enquanto permanecemos naquela cidade.

E um dia, Zezé indo levar os cavalos para o pasto, após trata-los com cuidado, permitiu que eu e meu irmão montássemos cada um num deles. E ele seguiu no dele em direção ao pasto, sendo acompanhado pelo meu irmão, mas eu fiquei para trás porque o cavalo em que estava não quis obedecer ao comando de seguir junto com os outros.

Foi então que gritei por Zezé, chamando sua atenção para este fato. E vi-o morrer de rir, logo dando um assovio, e o cavalo o obedecendo, começou a trotar em direção a eles. O bicho era adestrado e eu nem sabia.

Mas Zezé era danado. Acostumado com bichos, gostava de galopar estrada afora, em direção à cidade, e por várias vezes, como já relatado em outro conto, ele passou defronte ao sítio de vovó Bodoga, galopando desenfreadamente, e nós o chamávamos de maluco. E ele gostava e morria de rir dessas situações. Mas nem parava, seguia em frente ao destino que pretendia.

Para mim e meu irmão, isso era uma situação maravilhosa. Acostumados a viver na grande cidade, onde era tudo diferente, viver aqueles dias em Lagarto foi uma realidade pra lá de extraordinária. E só voltei lá quando já tinha me transformado num adulto, com vinte cinco ou trinta anos. Mas daí já fui com alguma frequência. O meu apego àquela cidade eu diria que é inexplicável.

Aloisio Rocha de Almeida
Enviado por Aloisio Rocha de Almeida em 17/10/2018
Código do texto: T6478452
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