Zeleitos e Zelites
No mundo hodierno, a despeito dos avanços econômicos, sociais e culturais que possibilitam maior justiça e equanimidade nas sociedades, há ainda muito caminho a trilhar, sobretudo quando se estende a mirada aos chamados países em desenvolvimento.
A designação em si - em desenvolvimento - tem sua dose de ambiguidade ao retratar uma situação específica e dar-lhe foros de outra. Ou seja, o em desenvolvimento, contrapõe-se ao desenvolvido e aí, semanticamente já se observa algo de incongruente. Dizer que os países em desenvolvimento deviam chamar-se subdesenvolvidos seria dar-lhes - na visão onusiana, ou seja, das Nações Unidas - conotação negativa, condenatória até. Daí, o eufemismo - que as feministas me perdoem, mas a própria palavar eufemismo tem conotação reducionista e isso não é criação de minha lavra nem palavra... - mas, enfim, daí o eufemismo de em desenvolvimento.
A realidade, contudo, é mais crua do que a retórica. E dói, como sói, e a idéia de filantropia entre as nações, embora registre muitos avanços ao longo do tempo que tenho visto e vivido, é coalhada também de retrocessos e nem sempre a o otimismo, o bom senso, a verdade e a justiça prevalecem. Um exemplo bem atual é a crise migratória que a Europa vem enfrentando.
Outro exemplo, e naturalmente perverso é a situação que vivemos em nosso próprio país. Lula elegeu-se e se reelegeu, fez a sua sucessão apoiado numa plataforma de justiça social, de maior equilíbrio na distribuição da renda e, chegou a granjear reconhecimento internacional
para, ao curso de uma tumultuada reviravolta política em seu próprio país passar a ser demonizado como a raiz de todos os males, de toda a corrupção, e só não - até que se prove o contrário - de todas as malas. Essas são ainda, por ora, apanágio dos que mais ferrenhamente criticam o governo distributivista.
E é isso, a meu ver: Lula e Dilma chegaram entre os zeleitos e deslumbrados com o poder, simplesmente cegaram-se ante as zelites.