A beleza de um Mosh
Se tem um lugar onde eu me sinto feliz é dentro de um Mosh. Aquele aglomerado de pessoas vestidas de preto se esmurrando, chutando, dando cotoveladas, dançando freneticamente sem ritmo e rodando de um lado para o outro em um frenesi total. Isso sim é um expurgo para a alma.
Os moshes, ou mosh pit, também conhecidos no Brasil como roda punk ou bate-cabeça, são a maior expressão de agressividade amorosa que existe. Toda forma de arte causa certa sensação em quem se alimenta dela. A música é uma das melhores delas. Há quem chore ao ouvir um MPB ou sertanejo e há quem entre no cio ao ouvir um funk. Já outros dançam ao som das divãs do Pop, enquanto uns mais descolados viajam para dimensões intergaláticas ao som de um progressivo. Mas e quem gosta de um gênero mais pesado?
A única alternativa é o Mosh. Ali a pessoa pode soltar toda sua agressividade e energia retraída em outras pessoas que também desejam o mesmo. E o mais interessante é que o gênero, que na maioria das vezes é tachado por ser composto por cidadãos perigosos e mal encarados, sempre atrai gente do bem. Você não vê uma briga em show de rock. Não vê um furto. Não vê putaria. Só vê gente que ama a música e ama quem ama a mesma música que ele. Então, no mosh, você descarrega toda a sua agressividade sem ferir o próximo. Mesmo empurrando a pessoa, os cotovelos são mantidos afastados para evitar machucar alguém. A pessoa caiu? Rapidamente várias mãos são erguidas e alguém forma uma barreira até que ela esteja de pé. Usou óculos, vacilou, e foi para o mosh com eles? Alguém vai te devolver assim que os encontrar, mesmo que seja somente a armação toda torta.
Há quem diga que odeia essa bagunça, que estraga a festa e que é uma palhaçada. É claro que é. Todo mundo ali é babaca de nascença por estar feliz naquele ambiente. Jogar cerveja para cima e molhar os outros? Até parece que mosheiro tem dinheiro para jogar cerveja fora! A sociedade deveria aceitar essa forma de manifestação, como aceitam crianças de oito anos rebolando até o chão ao som de um MC mirim. O dia em que você estiver muito nervoso, ou ansioso com algo, experimente adentrar em mosh. Te garanto que você não sairá de lá o mesmo. Doi o corpo, mas cura a alma.