Escrevendo a Paz

O mundo, após sucessivas cambalhotas, parece não mais saber ficar de pé. Tonto e desnorteado, cambaleia para todas as direções, sem rumo certo. De pernas para o ar, tornou-se impossível divisar o certo do errado. Os limites, os princípios e os caracteres de uma untuosa parcela da humanidade simplesmente desapareceram em prol da ganância, dos incontroláveis impulsos e desejos compulsivos pelo poder e fortuna. Tornaram-se um imenso aglomerado de seres completamente individualizados, com suas atenções voltadas para o próprio umbigo. De lhos fechados, recusam enxergar as puras e ingênuas belezas. Com os ouvidos tapados, repelem as variadas e sublimes melodias da natureza. E de bocas abertas, vomitam as mais perversas e putrefatas palavras, agressivas e estúpidas, desedificando pilares antes construídos em bases sólidas.

O homem, animal dotado de intelecto, cede, cada vez mais, lugar aos instintos primitivos e bárbaros, aplicando engenhosas criações na ação covarde e atroz de destruir outros homens. Nesta atmosfera densa e escura, luta todos os dias para superar o medo e conseguir viver, ou melhor, sobreviver.

Mas não estamos condenados ao fracasso e ao sofrimento eterno. Na vivemos em um mundo sentenciado de morte. Devemos, sim, esquadrinhar soluções e aplicá-las em nossas ações diárias. Existem milhares de pessoas, em todos os cantos da Terra, dispostas a reverter este cenário sombrio instaurado no palco deste novo milênio. Se comparados à magnitude de nosso universo, poderíamos igualá-los às estrelas e planetas, pulverizados na imensidão Bruna do espaço: exemplos de foco de lutas e indignação que concentram esforços no ofício de mudança conjuntural das escalas de valores humanitárias. Diríamos que são seres verdadeiramente humanos que sonham e trabalham para construir um mundo melhor.

São pessoas que se dedicam a expor quão simples é chegar à tão sonhada paz mundial. Vista hoje como um patamar tão longínquo e, praticamente, utópica a ser alcançada, a paz, ao contrário do que a grande maioria dos terráqueos imaginam, não está tão distante de nós. Paradoxalmente, ela reside dentro de nós mesmos. Não há fórmula, teorema, regra,lei, ou qualquer outro mecanismo para que a conquistemos. Devemos apenas deixar que esta emane do nosso corpo. Amar os organismos naturais que, conosco, compartilham a imensa biosfera do planeta. Ações como desgrudar a condicionada visão do negresco jornal de todas as manhãs e direcionar a atenção ao bailar de uma borboleta sobre um pequeno girassol de plástico, ou o preciso voar de um beija-flor à procura de néctar em uma samambaia artificial, presa ao teto de um escritório. Reservar alguns minutos do nosso precioso tempo para nos espelharmos mais no comportamento dos animais, que parece gritar aos nossos ouvidos, implorando que o homem cesse a destruição de toda a vida na Terra. Deveríamos adotar o comportamento amigo como o que há entre as rêmonas e os tubarões, entre os pássaros-palito e os crocodilos, entre as orquídeas e os jacarandás. Para alcançarmos a paz, basta agirmos como seres verdadeiramente espontâneos e naturais. Basta que o homem novamente se humanize!

Texto que escrevi para o concurso de redação promovido pela UNESCO e FOLHA DIRIGIDA entre os estudantes universitário do Rio de Janeiro.

Rafael de Oliveira Sobral

Universidade Federal Fluminense - UFF