A chegada do estranho - Cap. 1 - Parte 1
Estávamos no meio de uma manhã de primavera. O dia estava tão tranquilo quanto o habitual. O ar estava quente e o vento acariciava meu rosto num carinho fraterno. Podia sentir o perfume doce e revigorante das flores desabrochando, banhadas pelo orvalho. Os cachos dos meus cabelos balançavam em ondas, tocando minha nuca e minhas costas. Aquilo me causava um arrepio gostoso, mas estava em uma caçada e precisava me concentrar. Acertar aquele cervo era algo importante e devia ser feito no menor tempo possível, pois precisava preparar a refeição antes que eles acordassem.
O animal já estava na direção da ponta da flecha. Ele se alimentava de um arbusto que crescia desordenadamente ao redor de um majestoso Cedro, que parecia estar ali desde o início de tudo. Podia acompanhar sua respiração e assim saber o ponto exato para uma flechada mortal. Foi então que senti um forte aperto no peito, um que não sentia a muito tempo. Era necessário abandonar a caçada e voltar ao ninho, pois o perigo estava por perto.
Cavalguei o mais rápido que pude. Montada em Faiçal, fui tomando atalhos e cortando a floresta como só quem viveu por muitos anos se estreitando por ali poderia fazer. A Floresta das Almas é considerada a região mais perigosa das montanhas do sul, já que muitos curiosos não conseguirem retornar. Ela se localiza entre as três montanhas irmãs: a das Nuvens, dos Corvos e dos Dragões, sendo essa última a localização do ninho.
Quando cheguei ao pé da Montanha dos Dragões, pude vislumbrar o vulto negro do intruso que empunhava uma espada que brilhava como uma estrela. Ele parecia distraído olhando para a montanha, que parecia a mais imponente de todas vista por aquele ângulo. Ele possuía um corpo magro de mais para um guerreiro e cabelos irregulares. Era um oponente fraco, inimaginável saber como chegara vivo ali. Mas agora ele não seria poupado.
Segurei a respiração, foquei a ponta da flecha no meio de sua cabeça, puxei a corda e disparei. Podia já imaginar o sangue escorrendo pela pena de harpia, presa na extremidade da flecha. Neste curto instante, algo chamou a atenção do estranho e ele se abaixou. Fiquei desconcertada com a coincidência. Normalmente eu não errava o tiro. Todos os anos de treino com elfos havia me tornado uma excelente arqueira.
A flecha destinada a tirar a vida do forasteiro agora estava cravada em um lindo e majestoso carvalho. Isso lhe chamou a atenção e começou a correr, procurando algum lugar que lhe oferecesse proteção, até conhecer a localização de quem o atacara de modo tão silencioso. Mas antes que ele saísse do meu campo de visão, lancei-lhe uma flecha tomada pelo fogo verde de dragão – que aprendi a soprar ainda pequena – que acertou em sua coxa direita. Ele caiu.