O coqueiro do Lavrado
Essa mera enunciação é emblemática na história da Velha Serrrana. E dos quase trinta mil habitantes hodiernos do município, não creio que 10% deles tenham tido a oportunidade de ver ao vivo esse monumento prodigioso de nossa natureza circundante.
O bairro do Lavrado, hoje todo urbanizado, formava nos anos cinquenta uma escassa povoação, à margem de dois campos de futebol e da cadeia municipal. Mato e poeira predominavam naquela meio inóspito de vegetaçao de cerrado - a despeito de seu enleio.
E na paisagem daquela encosta, que ia subindo pro horizonte, destacava-se a figura altaneira do dito coqueiro, que, por todos reverenciado, era dito abençoado. E não era um coqueiro comum: ao invés da efígie longilínea, como sói em sua espécie, seu tronco perfazia um círculo inteiro, até reaprumar-se rumo ao céu.
O que se dizia daquela venerável manifestação da natureza é que o dia em que deixasse de existir, a Velha Serrana iria sentir. E os mais velhos
declinavam um rosário de agourentas premonições. Entretanto, era também dos poetas, dos namorados, dos apaixonados e mesmo de curiosos, era o coqueiro um encanto, na sua mais crua singeleza, aquela proeza da natureza.
Até que, com a força devastadora de mil machados, veio ao seu encontro um raio, e ei-lo prostrado ao solo. Acidente, dolo? E se continuou a especular quando o Criador iria nos dar seu consolo. Ou o bolo?