A tese, o tema e a leitura no Ensino Médio - O PROCESSO DE LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA
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Revista Pedagógica
Linguagens, códigos e suas tecnologias
2ª série do Ensino Médio e
3ª série da Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio
Sistema de Avaliação Baiano da Educação - SABE - 2012
avaliação:o ensino-aprendizagem como desafio
A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM LARGA ESCALA
O diagrama a seguir apresenta, passo a passo, a lógica do sistema de avaliação de forma sintética, indicando as páginas onde podem ser buscados maiores detalhes sobre alguns conceitos apresentados.
Para ter acesso a toda a
Coleção e a outras informações
sobre a avaliação e seus
resultados, acesse o site
www.avalieba.caedufjf.net.
(Matriz de Referência)
Página 20
Esse recorte se traduz em
habilidades consideradas
essenciais que formam a
Matriz de Referência para
avaliação.
Para realizar a avaliação, é
necessário definir o conteúdo
a ser avaliado. Isso é feito por
especialistas, com base em
um recorte do currículo e nas
especialidades educacionais.
A avaliação em larga escala
surge como um importante
instrumento para reflexão
sobre como melhorar o ensino.
A educação apresenta um grande
desafio: ensinar com qualidade e
de forma equânime, respeitando
a individualidade e a diversidade.
Através de uma metodologia
especializada, é possível obter
resultados precisos, não sendo
necessário que os estudantes
realizem testes extensos.
Com base nos objetivos e
nas metas de aprendizagem
estabelecidas, são definidos
os Padrões de Desempenho.
As habilidades avaliadas são
ordenadas de acordo com a
complexidade em uma escala,
através da qual é possível
verificar o desenvolvimento dos
estudantes.
A análise dos itens que compõem
os testes elucida as habilidades
desenvolvidas pelos estudantes
que estão em determinado
Padrão de Desempenho.
As informações disponíveis
nesta Revista devem ser
interpretadas e usadas como
instrumento pedagógico.
Os resultados da avaliação
oferecem um diagnóstico do
ensino e servem de subsídio
para a melhoria da qualidade
da educação.
______________
Matriz de referência DE LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
AVALIE BA 2012 - ENSINO MÉDIO 1Ensino Médio 2EM 3EM
I. SUPORTES E GÊNEROS TExTUAIS: SUAS FUNÇÕES COMUNICATIVAS
D1 Reconhecer a função sóciocomunicativa de um gênero textual. x x x
D2 Identificar o público leitor de um texto considerando sua forma, assunto, tema, função sóciocomunicativa,
indícios gráficos, notacionais e imagens. x x x
D3 Estabelecer, em textos de diferentes gêneros, relações de sentido entre recursos verbais e não verbais. x x x
D4 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. x x x
II. RECONSTRUÇÃO DOS PROCESSOS DE TEMATIZAÇÃO: TÓPICOS E SUBTÓPICOS TEMÁTICOS
D5 Identificar informações explícitas em um texto. x x x
D6 Inferir tema ou assunto principal do texto. x
D7 Diferenciar ideias centrais de secundárias. x x x
D8 Comparar textos que tratam de um mesmo tema quanto a sua abordagem, em relação ao leitor, ao suporte e às
intencionalidades. x x x
D9 Distinguir fato de opinião. x x x
D10 Avaliar posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou mesmo tema. x x x
III. MODOS DE RECEPÇÃO DE DIFERENTES DISCURSOS: IMPLÍCITOS, PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS
D11 Inferir informações implícitas em textos de diferentes gêneros. x x x
D12 Inferir o significado de palavras e expressões usadas em um texto. x x x
D13 Inferir efeitos de ironia e humor em um texto. x x x
D14 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. x x x
D15 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos. x x
D16 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de recursos estilísticos. x x x
IV. PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO E TExTUALIZAÇÃO (OU TExTUALIDADE E TExTUALIZAÇÃO)
D17 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições. x x x
D18 Reconhecer recursos linguísticos de conexão textual (coesão sequencial) em um texto. x x x
D19 Reconhecer a composição de diferentes tipologias textuais em gêneros diversos. x x x
D20 Identificar elementos da narrativa: personagem, ponto de vista, espaço, tempo, conflito gerador, clímax,
desfecho. x
D21 Identificar a tese de um texto. x x x
D22 Identificar um argumento que sustenta a tese de um texto. x x x
D23 Reconhecer no texto estratégias argumentativas. x x x
V. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
D24 Identificar as marcas linguísticas ou situações de uso que singularizam as variedades linguísticas sociais,
regionais e de registro. x x x
D25 Identificar marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. x x x
VI. ESTÉTICAS LITERÁRIAS E SEUS CONTExTOS HISTÓRICOS
D26 Reconhecer elementos que caracterizam a literariedade de um texto como objeto estético e semiológico. x x x
D27 Estabelecer relações entre o texto literário e o contexto histórico, social e político de sua produção. x x x
D28 Reconhecer em obras literárias nacionais características formadoras da cultura brasileira. x x
VII. REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS: DIVERSIDADE E UNIVERSALIDADE
D29 Estabelecer relações intertextuais entre textos literários da contemporaneidade e diferentes manifestações
culturais de épocas distintas. x x x
VIII. PRODUÇÕES ARTISTICAS E SEUS CONTExTOS
D30 Estabelecer relações entre diversas produções artísticas contemporâneas e o contexto histórico, social, político
e cultural (dança, música, produções audiovisuais). x x x
D31 Reconhecer elementos compositivos da obra de arte, como objeto estético e semiológico. x x x
Revista Pedagógica p. 21
__________________
Os resultados das últimas avaliações realizadas em diversos estados
permitem uma série de análises sobre como vimos formando os
jovens no Ensino Médio. O desempenho dos estudantes na área de
Língua Portuguesa, por exemplo, merece nossa atenção. Que textos
nossos jovens que se formam nesse nível de ensino são capazes
de compreender e de produzir? Que habilidades de leitura esses
estudantes já deveriam ter desenvolvido, ao longo de seus anos de
escolaridade? De que forma tópicos como, por exemplo, Coerência
e Coesão no Processamento de Textos vêm sendo abordados na
sala de aula?
O tema Coesão e Coerência é especialmente importante na formação
de produtores de texto, mas também é um tópico incontornável para
o desenvolvimento de habilidades de leitura. O estabelecimento
de relações entre as partes de um texto, além da identificação dos
recursos empregados para a sua continuidade; a identificação da
tese de um texto, assim como a dos argumentos que sustentam essa
tese; a distinção entre partes principais e secundárias do material
lido; as relações de causa e consequência, além do reconhecimento
de conectores lógicos que ajudam a construir esses sentidos;
e, finalmente, a identificação do conflito que gera o enredo e os
elementos de uma narrativa são habilidades esperadas de um
estudante que conclui o Ensino Médio e, quem sabe, pretende
continuar seus estudos em nível superior. E não se trata apenas de
uma necessidade da vida escolar. Um leitor capaz de reconhecer
o que alguém defende por meio de um texto é, potencialmente,
um cidadão mais capaz do debate, da resposta e da reação. Sem
compreender uma “ideia central” é difícil ter segurança sobre o que
se lê e sobre o que se pode responder.
Conforme apontam dados das últimas avaliações para o Ensino
Médio, a habilidade de identificar a tese de um texto tem sido
54 Avalie Ensino Médio 2012demonstrada, em geral, por menos da metade dos jovens que
participaram dessas avaliações. Que dificuldades esses estudantes
encontram para perceber de que trata um texto ou, melhor dizendo,
o que um texto defende? Dessa dificuldade, provavelmente, decorre
uma outra: a de identificar os argumentos que sustentam essa tese.
No entanto, ao que parece, os jovens encontram menos problemas
para idenficar os argumentos do que para apontar a tese do texto.
Como isso pode ocorrer?
A compreensão global de um texto é um elemento necessário
para a distinção do que seja sua tese. Somente após construir uma
visão geral da “ideia” é que se pode sintetizar uma tese central,
sustentada por argumentos lançados no decorrer do texto. Se o
trabalho de leitura, na sala de aula, centra-se em textos muito curtos
ou se, raramente, o professor trabalha os textos argumentativos
(sejam eles artigos de opinião, ensaios, editoriais, manifestos, peças
jurídicas etc.), o jovem estudante não consegue se apropriar de um
conhecimento mais amplo sobre esses textos.
Outro tipo de procedimento em sala de aula que pode não ajudar no
desenvolvimento dessas habilidades é o trabalho com fragmentos
de textos. Como construir uma compreensão global e recuperar a
tese de um texto quando apenas se conhece um pedaço dele? O
trabalho com textos, especialmente no Ensino Médio, já poderia
exigir leituras mais robustas, isto é, textos maiores, mais complexos,
para uma análise que levasse em conta tanto os detalhes quanto
os elementos mais gerais. Mapas conceituais ou esquemas podem
ajudar na visualização do que um texto explicita e defende, não
apenas quanto aos seus elementos menores, mas, principalmente,
quanto à composição de sua “ideia central”.
Ideia central, tese, enredo são todos elementos “macro” dos textos.
Assim como é importante identificar o que um texto defende (sua
tese), é também fundamental destrinçá-lo para reconhecer seus
argumentos ou as diversas ideias que ajudam a construir, justificar
ou sustentar uma ideia central. Se os estudantes de Ensino Médio
Revista Pedagógica 55"
Se os estudantes
de Ensino Médio
identificam
argumentos, mas não
reconhecem, com a
mesma acurácia, a
tese do texto, algo
parece indicar uma
leitura dos fragmentos
(ou das partes) melhor
do que a do todo.
"
identificam argumentos, mas não reconhecem, com a mesma
acurácia, a tese do texto, algo parece indicar uma leitura dos
fragmentos (ou das partes) melhor do que a do todo.
Identificar uma tese construída em um texto é saber não apenas
do que o texto trata. O tema central pode não ser a tese. Para dar
um exemplo simples: o tema pode ser o aborto, mas a tese pode
ser, em linhas gerais, contra ou a favor dessa prática. Em textos
cujos temas são menos populares, as teses podem demandar
mais leituras, informações e intertextualidades. Para temas muito
polêmicos e públicos, como é o caso do aborto, por outro lado,
existe a possibilidade de serem interpretados sob a interferência de
discursos como o médico/científico e o religioso. Mesmo com relação
a gêneros de texto menos apropriados à argumentação, como uma
notícia de jornal, por exemplo, é possível proceder a uma análise
linguístico-discursiva que revele defesas, ataques, argumentos e
uma tese.
De fato, o resultado das avaliações em larga escala no que tange às
habilidades relacionadas a Coesão e Coerência ora em foco nos leva
à certeza de que é necessário trabalhar os textos, em sala de aula,
com nossos estudantes do Ensino Médio, de maneira a incentivar a
leitura abrangente de textos inteiros, não fragmentados. Se é possível
identificar a trilha dos argumentos de um texto, também deve ser
possível construir, pela leitura, a tese que eles ajudam a sustentar.
Coesão, coerência e as partes do texto
Um dos aspectos mais comumente trabalhados quanto ao tópico
Coerência e Coesão é o que diz respeito às relações entre as partes
de um texto. As aulas que focalizam repetições, substituições e
outras estratégias que ajudam a dar continuidade a um texto, isto
é, ajudam a “amarrá-lo”, a “tecê-lo”, para que se torne mesmo uma
trama legível, são bastante comuns no Ensino Médio e mesmo antes.
Aulas de produção textual ou de leitura têm como ponto central a
relação, por exemplo, entre pronomes pessoais e seus referentes
56 Avalie Ensino Médio 2012"
Todos os gêneros
de texto se compõem
de algum tipo de
recurso de coesão e
de coerência. Mesmo
textos curtos ou
associados a imagens
contam com um
mecanismo que os
torna textos.
"
em um texto; ou a substituição de palavras por seus sinônimos;
ou mesmo questões como ambiguidade. A repetição, geralmente
considerada um problema nos textos dissertativos, é uma questão
ligada à coesão e à coerência.
Embora esse seja um aspecto abordado em livros didáticos e nas
aulas de Português, o desempenho dos estudantes avaliados ao final
da 3ª série do Ensino Médio, segundo resultados obtidos através
das avaliações educacionais, é bastante insatisfatório. Menos da
metade dos jovens que se formam nesse nível de ensino conseguem
estabelecer relações entre as partes de um texto, para o que é
necessário identificar repetições e substituições que contribuem
para construir sua continuidade, isto é, para que o texto avance.
Todos os gêneros de texto se compõem de algum tipo de recurso
de coesão e de coerência. Mesmo textos curtos ou associados a
imagens contam com um mecanismo que os torna textos. Na leitura,
é importante (e fundamental) saber identificar esses recursos,
desenvolvendo estratégias que nos ajudem a compreender as
tramas do texto e até mesmo conseguir revelar sentidos que estão
menos explícitos pelos mecanismos da escrita.
A aprendizagem de classes de palavras, tais como, por exemplo,
pronomes, advérbios ou substantivos, passa a, de fato, fazer sentido
quando as vemos em pleno funcionamento nos textos que lemos.
Em lugar de decorar funções e listas de pronomes, é fundamental
perceber o uso dessas palavras em textos onde elas ajudam a compor
linhas temáticas e referenciais. Da mesma forma que é fundamental
formar leituras capazes de desvelar esses mecanismos, é importante
que esses leitores se apropriem desses recursos também como
produtores de textos melhores.
Qual o sentido de se trabalhar com listas de pronomes? Não são
as mais difíceis, já que se trata de uma classe finita de palavras.
Em português, teremos os pronomes pessoais, os de tratamento,
os relativos, os possessivos etc. Em sua maioria, são palavras que
Revista Pedagógica 57aprendemos cedo, como falantes nativos de nossa língua. No entanto,
a análise e a sistematização de como eles funcionam em um texto são
aprendidas na escola (ou deveriam ser). O estudo dos mecanismos
que empregamos, com essas palavras, para a construção de nossas
mensagens, orais e escritas, devem ser abordados em sala de aula,
muito preferencialmente com textos reais, que de fato circulam em
nossa sociedade. Revistas, jornais, livros (impressos ou digitais, para
todos os casos) são materiais fáceis e nos oferecem insumo para a
reflexão sobre a textualidade.
No caso de textos genuinamente digitais, há ainda questões que
emergem nos dias de hoje, tais como a coesão construída por meio
dos links, elementos de vinculação sobrepostos a certas palavras
no texto, para que o leitor tenha a opção de acessar outras partes
do mesmo texto ou outros textos relacionados ao primeiro. Não é
complexo? Como dar conta dessas questões sem um conhecimento
estabelecido sobre a leitura de textos impressos?
Palavras como “isso” ou “essa”, por exemplo, que apontam, às vezes,
para parágrafos inteiros, têm grande poder de síntese. Toda uma
descrição pode ser condensada na palavra “esse”, que pode ajudar
o leitor a compreender o que vem a seguir, no texto. Expressões
inteiras que qualificam um personagem podem ser, também,
informativas, como no seguinte trecho:
Prensky publicou a Parte 2 desse texto, em dezembro do mesmo ano,
enfatizando seus argumentos médicos e reforçando as supostas características
já fisicamente diferentes dos jovens que viviam na sociedade da informação.
Os “nativos digitais” seriam, para ele, então, crianças e adolescentes, ou
melhor, estudantes do básico ou da faculdade, nascidos após a popularização
do computador e das redes.
Segundo o dono da Games2Train, os “nativos digitais” seriam
pessoas moldadas pelas muitas horas de TV (especialmente MTV),
videogame e outras visualizações.
58 Avalie Ensino Médio 2012O referente em foco é Prensky, um autor norte-americano. A autora
do texto de onde vem esse fragmento emprega vários meios de se
referir a Prensky, sem repetir seu nome: “seus”, a elipse do sujeito
no verbo “reforçando”, “ele” e “dono da Games2Train”, que é,
ainda, uma informação nova, no texto, sobre Marc Prensky. Não é
interessante? Esse é um aspecto do tópico coesão e coerência que
ajuda a compreender o uso da língua, no jogo da comunicação. A
palavra “desse”, empregada no início do fragmento, refere-se a algo
que já havia sido mencionado a respeito de um texto de Prensky.
Esses são exemplos de coesão local, isto é, um aspecto da composição
de textos que tem abrangência local quando estamos lendo. Há
mecanismos de coesão e coerência que são mais abrangentes, isto
é, relacionam-se a partes maiores do texto e até o extrapolam, indo
para relações com outros textos, com o contexto etc. O reforço da
compreensão desses mecanismos é urgente e fundamental para a
formação de leitores competentes.
O principal e o secundário na leitura de um texto
O que é principal e o que é secundário na leitura de um texto? Como
é possível aprender a distinguir esses elementos? De que textos
estamos tratando quando pensamos em elementos menos e mais
relevantes para a leitura?
Especialistas em leitura destacam a importância dos objetivos para
a execução da leitura. Os objetivos do leitor determinam e guiam os
aspectos que ele lerá como menos ou mais importantes. Leitores com
interesses diversos provavelmente atribuirão importâncias diferentes
às informações encontradas, por exemplo. É conhecida a atividade que
apresenta a alguns grupos de estudantes um texto sobre uma casa. O
que diferencia os parâmetros de leitura de cada grupo é o perfil que é
atribuído a cada um deles: um grupo lê como se fosse um corretor de
imóveis; outro grupo se faz de comprador; um outro lê como ladrão;
ainda um outro grupo lê como decorador; e assim é possível mostrar
Revista Pedagógica 59como os objetivos da leitura fazem com que algumas partes se tornem
mais relevantes do que outras para determinado grupo.
O gênero de texto também é composto de forma a propor ao leitor
uma relação de importância entre suas partes. A notícia de jornal,
por exemplo, é redigida conforme certo padrão em que os fatos mais
importantes são narrados primeiro e, depois, vêm os detalhamentos.
Dessa forma, a morte de alguém ou o resultado de uma eleição
são dados logo no início para, então, virem as explicações sobre
circunstâncias e razões. Às vezes, a relação entre principal e
secundário vem marcada graficamente, na forma de títulos com letras
maiores ou boxes com fundos mais escuros. Esse tipo de indício
deve ser apresentado ao leitor em formação, para que ele aprenda
a ler não apenas as linhas, mas as entrelinhas e outras linguagens.
O desempenho dos estudantes avaliados ao final da 3ª série do
Ensino Médio, conforme resultados obtidos através das avaliações
educacionais, é bastante insatisfatório para a habilidade de
“Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto”.
Menos da metade dos estudantes conseguiu se apropriar desse
conhecimento ao longo do Ensino Básico. Isso significa que a leitura
dos textos apresentados pode estar sendo plana ou superficial, isto
é, os jovens leitores não conseguem compreender o texto e atribuir
a ele diferentes relações entre os sentidos que são construídos.
Como seria possível, então, rever e retomar o trabalho com partes
principais e secundárias de textos? Novamente, a escolha de textos
completos pode ajudar o professor e o estudante, na sala de aula.
De rótulos de alimentos a reportagens de revistas, muitos gêneros
de textos são produzidos conforme informações menos e mais
priorizadas, e de fácil identificação. Outros gêneros, como contos
ou poemas, se distanciam desse tipo de abordagem, uma vez que
suas partes se relacionam de outra forma. No caso dos contos, há
aspectos como ápice ou clímax da narrativa; no caso dos poemas, o
eu lírico cria elementos que podem ser analisados também conforme
as teorias da literatura. No entanto, no caso de textos não-literários,
que circulam em nosso cotidiano, é possível fazer análises que
60 Avalie Ensino Médio 2012nos mostrem que partes são secundárias e se relacionam com um
elemento principal do texto. Por exemplo: que aspecto de uma notícia
é mais relevante e que outros são detalhamentos e especulações;
que elementos de uma carta podem ser considerados principais,
conforme o contexto dado; que aspectos de um rótulo podem ser
importantes para determinado objetivo de leitura etc.
A sumarização, isto é, a produção de resumos dos textos também
pode ajudar o professor a diagnosticar a maneira como os estudantes
compreendem um texto, especialmente para o caso de narrativas e
argumentações. Em um resumo, é possível perceber dificuldades de
recomposição das ideias principais, reordenamentos inapropriados
de fatos e dados, além de dificuldades do leitor para se soltar do texto
original ou abandonar detalhes em prol de elementos mais importantes.
Em razão de todos esses aspectos, o contexto da leitura e do leitor
devem ser explicitados na questão que os avalia. O leitor precisa
assumir um ângulo de leitura que o ajude a selecionar os elementos
menos e mais importantes do texto que tem diante de si. Dessa forma,
é fundamental dizer ao estudante que, na leitura de um rótulo, por
exemplo, sua atuação deve se dar em relação ao tema da nutrição
saudável, do modo de preparo ou dos problemas da obesidade
infantil. Pode-se propor uma análise sob o ângulo da publicidade ou
sob o ângulo de regulação sanitária. Tudo depende das luzes que
se jogam sobre o texto. Se essas luzes funcionam como parâmetros
(em geral, lemos para fazer ou saber algo), é possível ajudar os
estudantes a perceberem os pontos mais salientes do texto ou aos
quais é atribuída maior importância, enquanto outros pontos são
periféricos, o que não quer dizer que não tenham importância relativa
para a composição do texto, de seu sentido global, da construção de
seu sentido, tema ou tese, conforme o caso.
Os resultados das avaliações que apontam habilidades de leitura
desenvolvidas aquém do desejável e do esperado para jovens
concluintes do Ensino Médio nos mostram alguns pontos críticos da
formação do leitor. Tais pontos podem ser observados e tratados de
forma direta por todos os envolvidos na formação básica.
Revista Pedagógica p. 61