Pensando a solidão

Segundo a Enciclopédia e Dicionário Koogan/Houaiss, "solidão é o estado de quem está só, retirado do mundo, isolamento (...) / Ermo, lugar despovoado e não frequentado pelas pessoas. / Isolamento moral, interiorização".

Porém, com uma sabedoria ímpar, Francisco Buarque de Holanda mostra que a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo não é solidão, mas carência; o retiro voluntário ao qual o indivíduo se impõe as vezes para realinhar os pensamentos também não é solidão, mas equilíbrio. Solidão não é o vazio de gente, isso é apenas circunstância. "Solidão é muito mais do que isto! Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."

Assim, uma pessoa sozinha no meio de uma multidão não significa que ela seja necessariamente uma pessoa solitária, apenas mostra que ela está só, não sendo obrigatoriamente um estado permanente, mas apenas circunstancial. Afinal, Martha Medeiros já demonstrou de forma bem simples e clara em uma de suas crônicas que "a solidão é invisível, só é percebida por dentro". Isso demonstra que a solidão é um sentimento que não pode ser apontado por ninguém, apenas por vc mesmo, não é algo que vem de fora, mas de dentro, é a nossa própria perda, não é estar em um vazio de gente, mas em um vazio de si próprio.

Renato Russo também discutia a questão da solidão em uma de suas músicas dizendo: " Digam o que disserem, o mal do seculo é a solidão. Cada um de nós, imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição". Assim, apesar do alerta do Chaplin ("Não sois máquinas, homens é que sois!"), tornamo-nos, segundo Arnaldo Jabor, máquinas e "agora estamos desesperados por não saber como voltar a sentir". Fomos treinados a fazer de tudo, desde que não interrompamos a carreira, a produção, e hoje produzimos tanto que não sabemos mais encarar coisas simples que se perderam " nessa marcha de evolução cega". "Estamos com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que demonstrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar para quem você gosta e depois saber que vão apenas dormir abraçados".

Renata Cunha
Enviado por Renata Cunha em 13/07/2014
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