Conflito de gerações

Nada de terno engomado, sapatos lustrosos ou cabelos bem-penteados. Isso é coisa do passado, dos coroas caretas e cheios de estigmas. Juventude é all star, calça jeans surrada, camiseta cumprida e boné, talvez um relógio ou uma tatuagem no braço. Algo que poderia ser definido como o “autêntico coletivo”. E assim, sem medo da censura, milhares de jovens chegam às agências de emprego todos os dias, cuspindo sobre as mesas suas idéias inovadoras e seus conceitos anarquistas. Pode parecer engraçado, mas esse grupo da sociedade, que meses atrás ainda dormia com os pais em noite de temporal, hoje causa medo em muitos adultos com anos de experiência no mercado.

É claro que nem sempre e nem todos aparecem mascando chiclete para uma entrevista de emprego, porém, eles trazem em suas mochilas a ameaça do novo. A responsabilidade e a experiência dos adultos pesam alto nesse jogo, mas, às vezes, não suportam o vigor, disponibilidade e maleabilidade dos mais novos. Eis que surge a briga por um espaço que exige a experiência do comportamento antigo e a inovação das atitudes modernas.

Ontem

Os jovens das gerações passadas não conheciam celular, internet, jogos virtuais, funk ou fast food. Apenas aproveitavam as partidas de futebol aos domingos à tarde, os goles de cerveja e as conversas informais com os amigos num banco qualquer da praça. As delícias maternas eram as refeições preferidas e as melodias do rock and roll eram as canções mais pedidas nas rádios. A televisão ainda era artigo de elite e o computador fazia parte de uma realidade intangível.

A juventude que nasceu 40 ou 50 anos atrás era mais revolucionária. Os homens acreditavam que a autoridade estava na razão, e tinham razão. Saiam às ruas, pintavam os rostos em manifesto popular e gritavam por liberdade. A bandeira do avanço humana tantas vezes sacudida por suas mãos, entretanto, os aprisionou na comodidade dos anos futuros.

Logo, o tempo abraçou os sonhos e refez os ideais daqueles que apontavam ser os heróis. Nascer, crescer, reproduzir... Essa é a lei da vida. A fase adulta chegou, os filhos começaram a chorar, as contas começaram a aparecer, os planos acabaram desmoronando. Os embalos de sábado à noite ficaram apenas na lembrança. A corrida pela sobrevivência moderna e as ameaças do capitalismo selvagem passaram a ser a companhia nas madrugadas de insônia. O homem adulto contemporâneo passou a fugir velozmente da desatualização, do passado, do ontem e de sua própria história.

Hoje

Os valores da vida passaram a ser transitórios. As verdades absolutas foram extintas, e o ser humano tornou-se vítima de si mesmo. A juventude atual é o resultado das mudanças imediatas, da evolução tecnológica e multicultural. Num dia, as crianças brincavam de peão, noutro os adolescentes não conseguiam abandonar os jogos de computador. O que a humanidade adquiriu em conhecimento, perdeu pela ausência.

Os jovens estão cheios de futuro, mas vazios de si. Não sabem conversar nos olhos, namorar com compromisso, respeitar os mais velhos, zelar pelos mais novos nem tampouco imaginar o que devem fazer para não se machucar. A felicidade permanece alicerçada na figura de festas, êxtase, sexo, violência e tantas outras bestialidades que envolvem o prazer. As vozes inocentes que sopravam suave nos ouvidos paternos, agora ecoam como gritos de ameaças. É a cria transformando-se em predador. E aí, vence quem for mais forte.

Mas os jovens não são os únicos vilões dessa história. A mídia, as drogas, o Estado e a própria família também contribuem para os rasgos no tecido social. Não se cultiva a responsabilidade civil, social ou pessoal. Os homens esqueceram que a vida não dá, apenas empresta. Os projetos se reduzem em consumir, usar, aproveitar, sugar, extrair, sem jamais retribuir.

Pode parecer incoerente pintar o quadro com essas cores, apresentando o passado como mocinho e o presente como a besta do Apocalipse, mas a geração que hoje bate à porta das empresas com fones no ouvido e um ipod na mão ainda não aprendeu o que é verdade.

Amanhã

O espaço social é triangular e vertical. Nele, jovens, velhos, adultos e crianças travam uma batalha sem honra. Assim, não importa se o adversário é homem ou mulher, se faz parte do mesmo grupo familiar ou religioso, pois a luta pelo topo é selvagem. Portanto, perder é um sentimento irreparável. O fato é que alguns simplesmente ainda não compreenderam que o trabalho pelo trabalho, o sexo pelo sexo, a vida pela vida ou Deus pela obrigação não possuem valor algum.

A solução chama-se educação. Ela é a única força capaz de construir alicerces aptos a suportar o peso da ética, dos princípios e da verdade. O que garante o emprego não são os anos de experiência adquiridos ou vigor e as novas idéias disponíveis. A segurança profissional e a estabilidade no espaço social dependem exclusivamente da responsabilidade e do compromisso com os outros, com Deus e consigo mesmo. Por isso, lembre-se: a bandeira branca está em suas mãos.

Cabreira
Enviado por Cabreira em 10/04/2007
Código do texto: T443979