Luiz Carlos Prates, Medicina e Modismos
Há alguns anos, o jornalista e psicólogo gaúcho Luiz Carlos Prates relatou, em um programa local, seu parecer sobre o curso de medicina e seus egressos, o que chamou a atenção na época e voltou agora, uma vez que a procura por este mesmo curso jamais fora tão grande. Apenas no ano passado, os mais de dezoito mil inscritos para o curso de medicina da Unesp-Botucatu fizeram explodir a concorrência e procura por esta modalidade desde que se tem notícia. É porque a profissão é boa? Pode apostar que sim.
Para quem não me conhece, sou vestibulando em Sorocaba-SP e também estou enfrentando esta maratona. Já sofri críticas, dizendo que eu era incompetente e que não estava preparado para profissão, pelos meus colegas de turma, mesmo estando sempre maravilhado pelo campo de atuação e desenvolvendo uma paixão incrível por farmacologia e biologia nestes últimos tempos; e não deixando que os testes vocacionais mintam: apontam todos para a área de saúde e envolvimento pessoal. Mas agora, e quem só está querendo pelo suposto dinheiro (porque médico que ganha é médico que trabalha feito cão) e reconhecimento?
Já perdi a conta do número de gente que me veio dizer que gostaria de ser cardiologista e zerou na parte de biologia, gente que queria ser oncologista mas não sabe o que é metástase, gente que se diz querer ser endocrinologista mas não sabe nem o que é um hormônio tampouco uma proteína em forma de dupla hélice. Mas o pior de tudo é quando o indivíduo está entre duas profissões: medicina e farmácia? Medicina e biomedicina? Melhor: medicina e direito, medicina e engenharia, medicina e letras! Não tem cabimento algum.
Um grande problema é que os pais mandam e o filho, como sempre, obedece. E quando se coloca minhocas na cabeça de uma criança...
De acordo com um censo realizado em outubro de 2012, a relação médico/1000 habitantes na federação é de 2,5; muito acima do recomendado, que seria 2 para cada mil habitantes, ou 1 para cada quinhentos. Em SP, a prática médica está completamente inflada – esse índice ultrapassa 3,6. Tem muito médico para pouca gente e, em contrapartida, no Maranhão, a relação é decimal – 0,68 médicos para cada mil habitantes, ou seja, aproximadamente sete médicos a cada dez mil pessoas. Pode-se chamar isso de saúde pública?
Muitos reclamam que o governo distribui de maneira ruim o dinheiro, os recursos. Até acredito nisso em partes, mas o rombo é maior e mais profundo. O povo é que permite que tudo isso ocorra. Desde que tenham meninas de 17 anos sonhando em vestir branco e atender e não em ajudar as pessoas e dar um diagnóstico preciso, podem apostar meus amigos, que o país, pelo menos no que diz respeito à saúde, continuará essa merda que nós vemos constantemente, com médicos tratando mononucleose como uma virose e onde um câncer terminal é apenas pedra nos rins.