Negrinho
Sua alcunha era Negrinho, devido a grande exposição ao sol, tornou sua pele mais escura do que a maioria dos seus 10 irmãos, mas seu nome de batismo era Antonio, nasceu no dia 11 de Setembro de 1944, na Fazenda Nogueira que pertencia á família, na cidade de Iguatemi, no estado de Mato Grosso do Sul, mas só fora registrado um mês depois, o que era uma prática comum na época, sendo assim sempre comemorou seu nascimento no dia 11 de Outubro. Era alto, magro, elegante, e possuía um par de olhos verdes escuros tão profundos, que chegava a doer, quando se debruçavam sobre os meus. Tinha os cabelos negros como a noite, além de uma linda mecha branca que lhe apareceu aos 14 anos e o acompanhou durante toda a sua vida, e que lhe dava um charme especial... Ele era lindo.
Era um homem bom, meio rude, ás vezes beirava a ignorância, mas nunca o julguei, ele tinha seus motivos e até bem justos. Fora separado dos seus pais e irmãos aos sete dias de vida, pois fora acometido pelo “mal de sete dias” uma doença comum naquele tempo, sendo criado pela sua avó materna. Isso lhe rendeu grandes traumas, e um jeito meio estranho de ser, mas não tirou a admiração e encantamento que despertava em todos que o conheciam. Dono de uma inteligência peculiar dissertava sobre qualquer assunto, sempre tinha um comentário a fazer, sempre tinha uma boa colocação. Mesmo não tendo chance à educação na sua infância, ele tinha sede de saber, e sempre se dedicou aos estudos quando teve oportunidade para tal. Casou-se aos 25 anos, dessa união nasceu um casal de filhos. Veio para São Paulo no ano de 1977, onde iniciou seus estudos, chegando a se formar como Técnico em Eletrônica. Tornou-se um profissional ímpar, e muito requisitado, não lhe faltavam ofertas de trabalho. Viveu a maior parte de sua vida na Cidade de Guarulhos, onde realizou um dos seus maiores sonhos, que era aprender a falar inglês, conseguiu se formar numa escola renomada, mas pouco falava, já que a vergonha imperava.
Mas seu maior sonho mesmo era voltar ao campo, passou a vida toda falando sobre isso, ”quando eu me aposentar”, “quando eu me aposentar”... ”quando eu me aposentar...” Se aposentou aos 60 anos de idade, depois de uma longa e árdua jornada, planejava viver em Goiânia, comprou até uma casa na cidade, a casa que ele nunca viveu, não deu tempo, morreu 15 dias após a compra, em decorrência de uma pneumonia mal curada, não sofreu, foi tudo muito rápido.
Choro sua morte até hoje, sinto sua falta, ele era meu ídolo, ele era meu Pai...