Mixórida
Há na televisão, em revistas em quadrinhos, na Internet e nos produtos de uso diário, como o xampu e os taticínios industrializados, as lancheiras e os artigos de cama, mesa e banho, um sem-número de heróis.
Não há como explicar o porquê de tantos heróis e heroínas do cotidiano lutarem contra vilões, acabarem com o mal e não serem considerados mocinhos. Talvez porque voar como um pássaro e ter um cinto de utilidades seja mais importante do que levar comida p'ra casa, pagar as contas, dar educação, carinho e bens necessários, ler uma história antes de dormir. Quiçá esta história influencie no raciocínio dos filhos e das filhas, pois o faz-de-conta não é verossímil; existe bruxa má e maçã podre, mas não contrafeitiço nem príncipe encantado. A historinha não é jornal, não tem crume, não é real.
A boa ação não é salvar muitas pessoas de um trem-bala desgovernado nem combater o crime com bomerangues e ganchos. A podreza é a grande malfeitora. E quem sustenta uma família de onze ou doze filhos com R$ 350,00 é o grande herói; o super-herói. Ester bem-feitor anônimo, assim como mais de cento e noventa e milhões de subempregados no mundo, passa por todos os seus problemas, bebe uma média de café-com-leite e ainda vai agasalhar os filhos quando chega de doze horas de trabalho.