Historieta – Só amando (Capitulo XIX)...
Aninha foi se deitar e antes de fechar os olhos ela elevou o pensamento a Deus. Em prece pedia a Deus que amparasse dona Petrolina e que a ajudasse a fazer algo por aquela que estava sendo sua segunda mãe.
Na manhã seguinte dona Petrolina saiu muito cedo e com isso evitou a conversa com Aninha.
Aninha foi trabalhar e voltou decidida a falar com dona Petrolina e a esperou na sala, quando a viu entrar soube imediatamente que algo não estava bem.
_ O que está acontecendo?
_ Eu estou morrendo...
_ Por que não nos falou? Como não percebemos?
_ Não foi culpa de vocês! Eu sou boa em esconder as coisas... Eu não tenho mais ninguém...
_ E nós! E eu e José?
_ Desculpe minha filha... Não foi isso que eu quis dizer...
_ Tudo bem! Mas o que podemos fazer?
_ Esperar!
No outro dia Aninha pediu licença no emprego para cuidar de dona Petrolina e com isso passou a não dar mais a ajuda que dava a irmã, mas José sabendo das preocupações de Aninha para com a irmã, passou a levar o dinheiro todo mês até a casa de Claudia em nome de Aninha sem que ela soubesse. Claudia o recebia friamente.
Tempos depois Claudia descobriu envergonhada que quem a estava ajudando era José.
O tempo passou e dona Petrolina morreu e o bebê de Claudia nasceu e as coisas melhoraram.
Dona Petrolina deixou todos os bens para Ana Clara que criou uma fundação para amparar e tratar os homossexuais doentes e repelidos pela sociedade.
Ela começou a falar nas reuniões da fundação sobre o amor:
“_ Jesus amou a todos sem distinção, não perguntou qual a cor, qual a religião, ou a raça, ou qualquer outra pergunta que pudesse distinguir quem quer que fosse por qualquer razão; então aqui na “Fundação Paulo e Petrolina”, nós não perguntamos qual a sua opção sexual, simplesmente o atendemos em nome de Jesus - Nosso Irmão e o recebemos nesta condição de nosso irmão também!”
Depois de um tempo ela continuou:
“_ O amor não tem sexo, simplesmente ama!”
Ana Clara colhia relatos dolorosos do Brasil inteiro, descobria atrocidades e intolerância por onde passava, mas não desistia de levar seu amor incondicional a esses irmãos.
Ouvi que numa cidade interiorana um grupo de policiais pegou quatro jovens e sabendo que se tratava de gays (porque era assim que eles eram conhecidos na época) e depois de humilhá-los eles foram executados impiedosamente, um sobreviveu e para continuar vivo teve que fugir de sua cidade, pois as autoridades não se importavam afinal eles não os consideravam como SERES HUMANOS.
Durante uma reunião uma irmã contou a história trágica de seu irmão, garoto de programa, transexual, muito bonito, foi levado para um beco, onde o homem ao descobrir que se tratava de um transexual sacou a arma e o executou, nada foi feito, pois o ato foi considerado como sendo em prol da legitima defesa da honra.
Uma mãe relatou que o seu esposo internou o filho num hospital para loucos, pois ele descobriu que o filho era gay, o filho não resistiu àquela tortura e numa noite invadiu a cozinha e de posse de uma faca cortou os pulsos.
Então houve o relato mais triste daquele dia a história de uma mulher, que acreditou durante toda a vida que ela só poderia ser filha do diabo, pois nunca desejou um só homem, até chegar a essa casa de amor.
_ Eu acreditava que Deus jamais olharia para mim, odiei o meu corpo, rogava todos os dias pela morte, vocês não compreendem a tortura que é amar alguém, cuja maior barreira é o seu corpo...
Ela parou e chorou, um choro sentido e compartilhado por todos os corações que estavam ali presentes.
_ Eu tentei o suicídio várias vezes, mas nem a morte Deus queria me dar, a pessoa a quem amei, me amou também, mas o pai a obrigou a se casar com um homem rude e violento, um dia eu soube que ele a matará, pois ficara sabendo que ela gostava de uma mulher...
Lágrimas abundantes, e depois recomeçou:
_ Eu fui responsável por sua morte! Todos os dias eu rogo a Deus, que não permita que outros nasçam assim como eu, a dor é imensa e só nos resta conviver com ela, eu não arrumo trabalho porque as pessoas ficam sabendo de minha condição e passam a me discriminar, e aqui aprendi a fazer algo, que a própria casa compra e que me rende um bom dinheiro, que garante meu sustento e de minha mãe envelhecida e viúva, que está ali e que nunca desistiu de me amar. Aprendi a amar um homem, cujo nome é Jesus, o amor incondicional que um dia pisou na terra árida da Galiléia e fez brotar no coração do ser o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo!
E foi assim que Ana Clara e José viveram uma jornada inteira ao lado um do outro, amparando outros irmãos encarcerados nas celas do corpo.
Sem preconceito, só amor!
É assim que se ama alguém, lembrando algo basilar “SOMOS FILHOS DE DEUS, inclusive os homossexuais!”
Continua...