Historieta – Só amando (Capitulo XII)...

Assim que desceu as escadas encontrou Ana Clara sentada na sala chorando e perguntou:

_ O que há?

_ Não queria ter falado daquele jeito com a Claudia, mas ela me tira do sério!

_ Ela tem ciúmes de você! Você é a irmã mais velha, ela te ama, você tem um espírito livre, sem preconceitos, nunca teve medo de defender aquilo que acredita seja certo, é forte, decidida, diferente, e isso assusta as pessoas que te amam.

_ A senhora também se sente assim, assustada?

_ Sim! Porque tenho medo que você sofra, mas por outro lado me sinto orgulhosa de vê-la agir de forma tão decidida. Eu não achei certa a forma como você falou com sua irmã na presença de um estranho, mas eu gostei de ver você defendendo seu amigo.

_ Eu sei que exagerei, vou lhe pedir desculpas.

_ O que está realmente preocupando você?

_ Ele foi agredido, teria sido morto se eu não tivesse intervindo, quase foi demitido, eu não entendo, por que tanta raiva?

_ Eu vou lhe contar a história de seu tio Julio...

_ Aquele que morava nos fundos da casa de vovô?

_ Sim! Ele mesmo!

Dona Julia parou por uns minutos como se a buscar as imagens apagadas pelo tempo na memória e continuou.

_ Seu tio se apaixonou por um outro homem, quando seu avô descobriu mandou matar o rapaz e encarcerou o seu tio no manicômio, onde ele ficou levando choques e surras, até que um dia ele pediu ao pai que o tirasse dali, seu avô se recusou e seu tio ingeriu uma substancia tóxica, ele foi socorrido a tempo e depois foi levado para casa, não pode trabalhar porque ninguém dava emprego, então fazia os serviços da casa como cuidar dos jardins, quase não saia de casa, seu avô solicitava a ele que não aparecesse quando tivesse gente na casa, ele adorava você...

_ E eu o adorava também! Não entendia porque ele não vinha aqui em casa!

_ Para não constranger seu pai! Quando sua avó morreu e seu avô caiu doente, seu tio Julio foi quem cuidou dele, trocava-lhe as fraldas, dava banho, nunca reclamou de fazer esse serviço e no ultimo dia de vida de seu avô ouviu um pedido de perdão do seu pai e de seu avô... As lágrimas interromperam a narrativa.

_ Seu tio aceitou o pedido e beijou as mãos do pai e pediu perdão por fazê-lo sofrer. Seu avô pediu ao seu pai para cuidar de seu tio e para não deixar lhe faltar nada.

_ E daí?

_ Nós descobrimos uma semana depois que seu tio estava morrendo de câncer, ele tinha uma ferida na barriga que estava em carne viva, à dor era imensa mesmo assim ele cuidou do pai doente sem nunca reclamar, seu pai pediu para que ele viesse morar conosco, mas ele não aceitou preferiu a internação e no ultimo dia de vida dele você pediu ao seu pai para ir visitá-lo no hospital, seu pai te levou, pois seu tio te adorava.

_ Eu me lembro! Eu beijei a mão dele e ele disse que eu era linda e que ele ia pedir a Deus permissão para cuidar de mim.

_ Quando você completou 10 anos um carro quase te atropelou e você dizia pra todo mundo que seu tio Julio tinha te salvado e o motorista afirmou que um homem te puxou do meio da rua, mas ninguém viu o tal homem a não ser vocês dois.

_ Eu me lembro! O que a senhora acha que aconteceu com ele?

_ Acho que Deus o recebeu com muito amor!

Claudia sentada na escada ouvia a história com lágrimas nos olhos e em silêncio.

Continua...