Perdi O Amor... Mais Uma Vez
Perdi o senso da minha normalidade mórbida, enlouquecendo-me por completo, fazendo, de mim, um corpo repleto de virtudes ridículas que mais parecem defeitos.
Meus defeitos de virtude é tudo que eu possa alcançar em minha vida.
Minhas virtudes defeituosas, se assim posso dizer, na realidade pura e nobre, não passam de desculpas e motivos que me fazem entristecer a todos, sempre sem querer.
Ganhei mais uma vez.
Ganhei alguns quilos a mais na minha, já gorda, obesa e grosseira, irresponsabilidade. Consegui ganhar o afeto da má sorte e o carinho da infelicidade.
Ontem mesmo, foi tão bonito quando o azar virou-se pra mim e se atracou em meus ombros, ou, ante ontem, quando a infelicidade puxou e arrancou meus olhos com tanto carinho que só não chorei lágrimas salgadas, porque não mais possuía olhos para chorar, apenas o que desceu foram lágrimas de sangue, com seu gosto de ferrugem, coalhado de amargura e desmazelo.
Senti o amor do medo quando fez arrepiar minha espinha, percebi a paixão do ódio por inanição, percebi que tudo na vida são flores que criam suas raízes em um terreno onde só enxergo fezes.
Vi a sombra do arrependimento, e posso lhes dizer, é triste, enfadonho e um tanto mentiroso, pois consegui enxergar a alma dos arrependidos, porém, não vi seus olhos. Não tinha rosto, tampouco possuía uma língua para defender-se.
Quando acordei, senti a meiguice da vergonha e a ternura de seus pequenos olhos, corroendo minha humilde alma, querendo me fazer carícias com seu horrendo olhar piedoso, querendo me esmigalhar com seu afago.
Quando me olhei diante do espelho, enxerguei através da minha imagem, e consegui sentir o peso da maldade que tenho em meu cansado, abatido, batido e moído coração, e vi as costelas da malvadeza, notei os ossos de sua face. Imagem do inferno. Percebi que não possuo maldade, pois, não a alimento, e pelo menos ela anda em baixa comigo. Graças a mim.
Quando consegui acordar de verdade, senti que tudo na vida são escolhas, e eu, mais uma vez, infelizmente, humilhantemente, sem ter razão, acertei a escolha errada de maneira correta. E fiz tudo certo, porém, de algum modo tristemente errado.
Ganhei beijos e abraços das minhas virtudes defeituosas, e reciprocamente devolvi, contudo, já era tarde demais para correr de volta pra trás.