Historieta: Mais uma emoção... (Capitulo IV)
Seu José solicitou permissão para falar, estava rubro de raiva, mas conteve-se e buscou palavras educadas em seu pobre dicionário de homem honesto e trabalhador.
_ Eu permito que o senhor tire meu filho de mim, mas não permito que o senhor jogue-o num desses abrigos, de onde nos chegam as piores noticias.
Deu uma pausa e continuou:
_ Caso o senhor tire o meu filho de mim... Eu quero que o senhor o leve para a sua casa... E aproximando-se da mesa do juiz depositou sobre ela a mala do filho.
_ O que é isto?
_ A pouca roupa que meu filho tem! Mas o senhor além de levá-lo para sua casa o senhor deverá torná-lo homem de bem, pois se o senhor não o fizer... Naquele momento seu José se calou, mas seus olhos gritaram para o juiz o que aconteceria caso o menino não se tornasse um cidadão de respeito.
_ O senhor está me ameaçando?
_ Não! Só estou lembrando ao senhor que Deus existe e que Ele vê sua atitude neste momento.
O juiz não disse, mas sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. E falaria algo mais se a sala não tivesse ficado lotada de repente por vizinhos, amigos, policiais e até o delegado apareceu por lá para prestar solidariedade a seu José.
A integridade do delegado Armando era conhecida de todos no fórum da pequena cidade, sua presença ali indicava o elevado apreço que ele tinha pelo envolvido.
_ Como o senhor sabe não poderei levá-lo para minha casa, mas acho que diante das novas provas...
_ O senhor determinara então que ele seja tratado numa clínica! Disse seu José exultante de felicidade.
Antes que o juiz dissesse algo o povo que lotava a sala do tribunal aplaudiu de pé.
E uma saúva de palmas foi pedida em prol do juiz. Ao que os presentes responderam com:
_ Ipi! Ipi! Urra!
O advogado aproveitando o momento disse:
_ Senhor juiz para que instituição o senhor mandará o menino?
O silencio se fez imediato.
O juiz engolindo em seco, perguntou:
_ Quais as instituições com vagas disponíveis?
Uma lista foi apresentada e uma delas foi escolhida.
O juiz preencheu o requerimento e o delegado fez questão de conduzir o jovem até a clinica levando com ele o papel do requerimento para a internação.
Os alunos ficaram orgulhosos de ver a atuação brilhante de seu professor e preocupados com o andamento dos processos, pois o caso evidenciou que na ânsia de atender ao novo, muitos cuidados não eram tomados.
Seu José se despediu do filho que foi encaminhado a Clinica.
Durante as crises de abstinência o jovem era amarrado e quanto ficava violento era espancado.
O juiz nunca fiscalizou as clínicas, os abrigos, a veracidade das denuncias, nunca tirou nenhuma das crianças que se drogam, que se prostituem, que se violentam das ruas da pequena cidade apesar de tudo que está escrito no tal estatuto.
Será que para esses pequenos cidadãos não existe o tal estatuto?
André o filho de seu José voltou para casa com um braço fraturado, ficou longe das drogas e quando via cenas de violência se mijava inteiro.
O médico diagnosticou:
_ Ele tem “Síndrome do Pânico!”
Hoje ele vive do artesanato que produz, conseguiu cursar até o segundo grau e aí parou.
Aprendeu a fazer artesanato e vive com o pai, pois esse nunca desistiu do filho.
Suas irmãs se formaram em direito e uma se tornou defensora pública e a outra uma vez por semana doa o seu tempo e o seu trabalho aos que não podem pagar por JUSTIÇA nesse país chamado BRASIL!
Continua...