Historieta: Realizando sonhos (20ª parte)...

Assim que saíram Maria Francisca, que está em pé ao lado de Alberto pergunta:

_ Quem é você?

_ Sou Alberto Gusmão Alcântara da Silveira...

_ Você é o filho de seu Manuel? Pergunta ela tremula e com a voz embargada.

As mãos dela estão sobre o peitoril da sacada e ele então deslizando a sua mão pelo peitoril encosta suavemente nas dela e responde:

_ Sim, sou eu!

_ Por que demorou tanto tempo para nos encontrar?

_ Eu não sabia que me esperava?

_ Eu deixei uma carta!

_ Eu não a recebi!

_ Você veio buscar Pedro?

_ Vim! Mas agora acho que desejo algo mais? Disse ele sobrepondo a mão sobre a dela e se aproximando cada vez mais.

_ O que deseja? Pergunta ela sentindo o calor da mão dele e o suor frio da sua.

_ Case-se comigo? Pergunta ele finalmente.

_ Mas nem me conheces?

_ Não preciso, pois desde que a vi pela primeira vez lá na vila, meu coração a reconheceu e sei que a amo...

_ Fala sem medo do que sentes...

_ Porque o que sinto é tudo que realmente possuo, eu penso em você, eu ouço sua voz...

_ Quando ouviu minha voz?

_ No dia em que foi se confessar para fugir de um pretendente. Disse ele rindo.

_ Então conheces meus segredos?

_ Sim! Mas o que houve com o meu pai de verdade?

_ Ele suicidou depois de ter perdido minha mãe...

_ E como se tornou mãe de Pedro?

_ Seu pai foi registrar o bebê, mas se esqueceu do nome de minha mãe ou o funcionário errou no momento do registro, mas foi graças a isso que meu pai aceitou a presença de Pedro aqui.

_ Você aceitou renunciar a sua vida para salvar Pedro, por quê?

_ Primeiro foi porque me vi naquela situação de confusão, depois por causa da carta de minha mãe...

_ Ela sabia que o registro estava errado?

_ Não! Nenhum de nós percebeu o erro até chegarmos aqui.

_ Mas, então não entendi?

_ Na carta que minha mãe escreveu para mim ela falava de sacrifício e renuncia, e dizia que a felicidade independente das circunstancias da vida, que eu buscasse ser feliz em qualquer situação. Pois que a felicidade era uma conquista intima assim como a liberdade.

_ Mas a liberdade também é material?

_ Sim, mas a matéria sofrerá mais se o pensamento e o sentimento estiverem cativos, lembre-se nós podemos aprisionar um corpo, mas há algo que jamais em nenhuma situação da vida você pode aprisionar...

_ O que? Pergunta ele ansioso.

_ O pensamento e o sentimento! Todo o resto nós podemos aprisionar e torturar. Minha mãe sabia que eu sempre fui livre para pensar e sentir, pois formulei minhas próprias verdades e amei a todos os que quis amar. Amei meus irmãos mesmo antes de saber que eram, amei minha mãe mesmo após a sua queda, amei seu pai, amei Pedro e amei meu pai e entendi suas dificuldades, amo aqueles que me servem, amo a nova companheira de meu pai, minha nova irmãzinha, amo essas terras e sou livre para expressar o meu amor.

_ Eu também me libertei, mas adoraria ser cativo.

_ Como?

_ De você!Diz ele se aproximando e roubando-lhe um beijo.

Eles se olham e há emoção em seus olhares e sentido o novo convite da vida Maria Francisca fala:

_ Sim!

_ O que? Pergunta Alberto.

_ Sim! É a resposta para a sua pergunta. Diz ela.

Ele então a levanta e a roda em pleno ar. E a alegria daquele casal chama a atenção de todos, que correm para ver o que está acontecendo.

_ O que é isso? Pergunta Augusto.

_ Senhor! Agora diante da resposta positiva de sua filha pergunto-lhe: “O senhor me aceita por genro?”

_ Como? Balbucia Augusto incrédulo.

_ Mas é claro que sim! Diz Justina ao abraçar o companheiro.

_ Diante da felicidade estampada no rosto dela não há como recusar, certo pai? Indaga José.

_ E Pedro pergunta Augusto? Algo aborrecido.

_ Eu o aceito como filho de meu coração! Diz Alberto.

_ Eu farei um novo casamento em breve! Diz o padre feliz.

_ Sim! Responde Maria Francisca.

O tempo passa e dois casamentos se realizam: o de Antonio e Maria e por fim o de Maria Francisca e Alberto.

Diante da eminência do casamento com um total desconhecido seu Augusto, que era muito zeloso pede uma investigação sobre o passado de Alberto, que se apresentava totalmente sem família. O investigador contratado viaja a Portugal, onde descobre toda a verdade sobre a origem de Pedro e sobre o deslize de Carlota.

Todas as informações só são reveladas assim que os noivos estão em lua de mel no Rio de Janeiro capital do império chamado Brasil.

Seu Augusto fica furioso, mas Justina agora mais equilibrada e forte lhe chama a atenção de forma enérgica.

_ O que pretende fazer? Matar Pedro? Matar o esposo de sua filha? Agir como o seu pai desrespeitando pessoas e sentimentos? Sua filha foi capaz de renunciar a própria liberdade, porque ela não podia ter certeza de que você a receberia bem, ela deu a vida para que essa criança vivesse? Ela não se preocupou com ela, com como você a trataria, com como essa cidade a trataria? Sua esposa lhe pediu em carta para que a amasse, pediu desculpas por ter lhe tirado a oportunidade de ser feliz com a mãe de José? Ela renunciou ao seu amor e cuidou dessa filha enquanto você tinha suas amantes? Você a mandou para longe para que pudéssemos ficar juntos? Ela sabia de tudo e mesmo assim não o acusou em sua carta. Seja grande Augusto e perdoe esse deslize pelo bem de todos. Eu não acredito que você não ama Pedro, que você não é grato por ela ter aproximado seus filhos José e Maria de você, foi ela quem uniu todos a sua volta. Foi sua filha quem me trouxe para junto de você graça a forma digna que essa mulher a criou, sem preconceito, com respeito e amor pelo outro. Sinto o amor de dona Carlota em todos nós aqui... Dizia Justina soluçando.

E contendo a emoção continua:

_ Não acredito que você seja tão mesquinho e egoísta que não possa abrir mão de seu orgulho e de sua vaidade. Disse ela se retirando.

Havia uma força invisível que chumbava Augusto a poltrona e uma força moral se apresentava diante dele o chamando para o testemunho do amor.

Justina chorava em seus aposentos, consolada por Chica e Josefa, Maria e José chegam depois para lhe apoiarem.

Seu Augusto se tranca no quarto por vários dias sem conversar com ninguém, nem o padre consegue faze-lo sair do quarto.

Depois de três dias José ameaça arrombar a porta, então ela finalmente se abre e seu Augusto sai.

Todos estão visivelmente abatidos, olhos inchados e vermelhos, então ele finalmente fala:

_ Eu não posso mudar o que houve, mas não conseguiria imaginar minha vida sem aquele moleque e minha filha infeliz, então eu resolvi que tudo continua como está.

Todos choram e Justina o abraça amorosamente e José e Maria agradecem pela sua escolha.

A felicidade é restaurada na fazenda e quando o casal retorna é informado de todos os acontecimentos, mas vêem com alegria o jeito carinhoso de Augusto para com Pedro, que diz:

_ Vovô eu estava morrendo de saudade de você? Por que você está chorando vovô?

_ Porque eu também estava morrendo de saudade de você!

_ Não chore vovô eu não vou mais embora! E abraça o avô.

Augusto chama Maria Francisca e Alberto para uma conversa.

Continua...