Historieta: Realizando sonhos (14ª parte)...
Dois camarotes estavam preparados para receber as ilustres viajantes, as passagens foram apresentadas e Maria Francisca solicitou a abertura da porta entre os camarotes e assim acomodou as mulheres e o pequeno Pedro.
José foi colocado nas cabines indicada para os criados e se manteve em prece, pois sabia que a presença daquela criança poderia desencadear a fúria de seu Augusto.
A viagem seguia tranqüila e todos os dias, José se reunia às mulheres para conversarem e pensarem no que fazer para salvaguardar a vida do pequeno Pedro. Reunião que só era possível por causa do pedido de Maria Francisca ao capitão.
Numa dessas reuniões Maria falou:
_ Nunca imaginei que uma pessoa rica pudesse sofrer.
_ Deus é justo Maria e as dores são as mesmas. A morte atinge a todos, assim como as dores. Meu pai, por exemplo, quer dizer nosso pai, também sofre...
_ Com o que? Interrompeu Maria.
_ Ele amava a mãe de José, mas não teve forças, nem coragem para enfrentar os preconceitos de sua época. Ele teve com ela um filho que tenho certeza que ele ama, mas não tem coragem para assumir publicamente, meu avô retirou dele tudo, inclusive a mulher que ele amava, depois tentou agir da mesma forma com sua mãe, mas minha mãe não permitiu, hoje ele se encontra enamorado de outra mulher, mas continua sem coragem para assumi-la. Eu acho que as dores dele são maiores que a nossa. Vocês não concordam?
_ Mas ele maltrata os escravos, usa as escravas, como pode defendê-lo? Fala Maria indignada.
_ Não o estou defendendo, mas buscando entende-lo. Não cabe a mim julga-lo e eu acredito piamente que ele sofre mais que eu, você ou José porque nós nos amamos, sempre fomos amigos, eu penso que ele age assim para se defender de si mesmo, de seus sentimentos, ele não tem amigos, é temido, suas conquistas amorosas não podem se tornar publicas, vive na sombra, sem poder se revelar.
José ouvia a tudo aquilo profundamente tocado. Ele já havia sentido raiva de seu Augusto, mas nos últimos tempos o seu amor por Maria Francisca havia transformado aquele sentimento.
_ Ele é mais escravo que nós! Disse José.
_ É verdade meu irmão! Ele é escravo dele mesmo. Nós somos livres e por isso eu posso dizer que amo vocês. E levantando, abraçou José e Maria.
Eles riam daquela conversa e a ama de leite de Pedro se aproximando pergunta:
_ Vocês são irmãos?
_ Sim!
_ Mas eles são mestiços?
_ E daí? Qual o problema?
_ Eu nunca vi uma branca assim. Disse Chica.
_ Chica conte-nos a sua história! Pedia Maria Francisca.
_ Eu sou escrava...
_ Não! Você é livre, seu Manuel deu sua carta de alforria para mim. Disse José.
_ O que aconteceu com seu filho? Perguntou Maria Francisca algo preocupada.
_ Ele morreu! Eu também já estava dando um jeito de morrer também, quando o meu senhor me vendeu para esse tal senhor Manuel. Eu encontrei uma criança, que precisava do meu leite e ele mamou assim que eu o coloquei no peito, então eu tive vontade viver... E começou a chorar.
_ Que bom! Também amo você, porque amou o meu irmão! Disse Maria Francisca abraçando Chica.
A partir daquele dia, todos conversavam juntos, inclusive Chica.
Enquanto isso em Portugal, Alberto chegava a quinta desesperado com a carta, que recebera do pai.
Continua...