Historieta: Realizando sonhos (13ª parte)...

Graças ao médico, tudo se encaminha e dona Maria Francisca Carlota é sepultada no Mausoléu da família de seu Manuel. O enterro é precedido de muitas lágrimas, preces e desesperos.

Naquele mesmo dia José teve que buscar uma mãe de leite para o pequeno Pedro em homenagem ao imperador Pedro II, de quem dona Carlota era amiga e admiradora.

Seu Manuel fora levado para a quinta, pois Maria Francisca temia uma ação irrefletida de sua parte. Colocado junto a José para que este pudesse ficar de olho nele o tempo todo.

No dia seguinte todos estavam abatidos e dona Rosálina que acompanhava aquela tristeza passou a atender aquele grupo mais de perto, ajudando no que podia.

_ O que farei agora menina? Perguntava seu Manuel desolado a Maria Francisca.

_ Viverá, lutará, assim como todos nós!

_ Não tenho força! Isso é um castigo porque eu pequei para com Deus... E Ele me levou sua mãe como forma de me castigar.

_ Seu Manuel pense um pouco, e perceba o tamanho da bobagem que o senhor disse. Deus é amor, bondade e justiça, então de repente Deus que é bom para puni-lo resolve deixar a mim e ao Pedro órfãos; Deus que é justo também para puni-lo resolve levar minha mãe, privando-nos de sua presença, tudo isso só para puni-lo; Deus que é amor resolveu ser mal para com outras pessoas só para puni-lo? Não me diga senhor algo assim, a culpa não é do Pai.

_ Então deve ser minha? Disse ele chorando.

_ Seu Manuel minha mãe foi muito feliz ao teu lado, ela escolheu viver esse sonho de estar com o senhor por um tempo, ela já não era tão jovem, Pedro estava virado e ela sofreu muito para tê-lo e algo não saiu como deveria. Foi uma fatalidade, só isso, não culpe Deus ou quem quer que seja!

Maria e José estavam admirados da fala de Maria Francisca. E se perguntavam se deveriam entregar a carta de dona Carlota a ela ou se deveriam entregá-la no Brasil como ela havia recomendado.

Dona Rosálina trouxe uma carta que acabara de chegar.

Vinha do Brasil e era uma carta de seu Augusto dizendo que as passagens já estavam marcadas e ao verificarem a data perceberam que a viagem seria daqui a um mês.

_ Não voltem! Disse seu Manuel.

_ Nós temos que voltar até para dizermos o que houve com minha mãe. Disse Maria Francisca bastante triste.

_ E Pedro? Quis saber Maria.

_ Volta conosco! Disse Maria Francisca agora com o coração apertado. E percebendo a impossibilidade começou a chorar.

Todos perceberam a situação. Pedro era filho de seu Manuel, era ele quem deveria criá-lo, quem deveria cuidar. Dona Carlota não estava mais ali, e ele era o pai com todos os direitos sobre o menino.

Os dias passaram e seu Manuel mais forte voltou a sua quinta, resolveu algumas questões legais como o testamento, onde deixava tudo dividido meio a meio. Escreveu para seu filho contando sobre o seu novo irmão e sobre a perda de seu amor, mas não especificou essa perda como sendo a morte.

E entrando novamente naquele desanimo, foi tomado de profunda angustia e decidido, resolveu escrever duas cartas: uma para Maria Francisca e outra para seu filho.

Meu caro filho Alberto!

“Minha dor é profunda e não tenho mais animo para resistir a mais essa despedida.”

“Resolvi que não quero passar por esta dor novamente então resolvi que é hora de partir!”

“Perdoe-me filho, mas não posso mais viver!”

De seu pai Manuel.

Ps.: Cuide de seu irmão.

Para Maria Francisca escreveu:

Menina-flor como foi bom conhece-la

filha de minha alma!

“A dor me alcança mais uma vez e não consigo resistir, suas palavras são doces, mas meu coração está amargo.”

“Cuide bem de seu irmão na minha ausência.”

“Eu vou encontrar-me com aquela que amo!”

Fique com Deus!

Manuel.

Chama um criado e dá a seguinte recomendação, envie a carta ao meu filho e espere uma hora e entregue a outra na quinta dos Carrasqueira. Pagou regiamente o criado, que cumpriu sua missão.

Assim que este saiu, ele preparou poderoso veneno e ingeriu-o e depois de alguns minutos foi tragado pela noite escura da morte.

Maria Francisca estava angustiada, andava de um lado para o outro e por fim chamou José e lhe disse:

_ Vamos buscar seu Manuel agora!

_ Sim! Disse José percebendo a angustia da menina moça.

Então logo partiram e assim que saíram o criado chegou trazendo a carta endereçada a Maria Francisca, que Maria recebeu e guardou.

Na quinta de seu Manuel a menina se deparou com a cena horrível do suicídio, sendo amparada por José.

Depois de alguns minutos. Chamou os empregados e solicitou que o médico da família fosse chamado, ao que foi perguntada:

_ Não deveríamos buscar o padre? Disse uma das criadas.

_ Não! Chamem o médico.

Assim que todos saíram José disse:

_ Mas ele já está morto! Porque chamar o médico?

_ Para que ele dê um laudo. E para que ele possa ser enterrado em solo sagrado.

_ Como assim?

_ Se o padre vier vai ficar sabendo do suicídio e ele não será enterrado junto de minha mãe e sim em outro lugar.

_ Entendi! Disse José.

E depois perguntou:

_ Mas isso não é errado?

_ Errado é negar a um ser desesperado a bondade de Deus. Tenho certeza que ele vai sofrer, mas não acredito em inferno eterno, nem em sofrimento sem fim, sigo a igreja, mas isso não quer dizer que tenho que aceitar que Deus não é bom! Não foi isso que Jesus disse! E Ele ainda afirmou que nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou se perderia, então Ele não poderá negar socorro a seu Manuel, porque ele também é uma das ovelhas de seu rebanho.

O silêncio tomou conta do quarto. O médico chegou e o laudo foi providenciado e seu Manuel enterrado em solo sagrado, no Mausoléu de sua família ao lado de dona Carlota e de sua primeira esposa.

A viagem se aproximava, Maria Francisca leu a carta de seu Manuel e se lamentava por não ter sido mais rápida.

Todas as providências foram tomadas, Pedro seguiria com eles, pois não havia ninguém para cuidar dele.

E Maria Francisca deixou aos cuidados de dona Rosálina uma carta para o filho de seu Manuel: Alberto.

O dia da viagem chegou e eles partiram, levando a criança e seus documentos.

Continua...