Historieta: Realizando sonhos (10ª parte)...

Depois de um tempo a condição delicada de Carlota se tornou visível aos olhos de todos.

Maria Francisca foi ao quarto da mãe e a vendo em trajes de dormir, a barriga que já estava bastante crescida chamou a atenção e dona Carlota aproveitando a ocasião, disse:

_ Filha preciso lhe falar?

_ Eu sei mãe.

_ Eu nunca lhe contei a minha história com seu pai, mas acho que chegou à hora.

E respirando fundo e trazendo a filha para se sentar em uma poltrona que ficava diante da cama, pensou um pouco como se buscasse as palavras certas para compor aquele relato.

_ Seu pai era um moço muito bonito que se apaixonou por uma moça que lhe era proibida...

_ Você? Pergunta a filha interrompendo a narrativa.

_ Não! Uma negra da senzala de seu avô.

_ Como?

_ Mas precisamente a mãe de José.

_ O que?

_ José é mesmo seu irmão, por parte de pai.

Respirou e continuou:

_ Mas foi para impedir que seu pai fugisse de casa com a mãe de José, que seu avô fez um acordo com meus pais... Nobres no sangue, mas falidos financeiramente...

_ Então ele a comprou?

_ De certa forma, sim! Só que eu me apaixonei por seu pai assim que o vi, seu avô deu cabo da negra e trouxe para a fazenda o menino José, antes de morrer revelou a nós a verdadeira origem de José, que você sempre amo como um irmão.

_ Mas, José sabe disso tudo?

_ Sim! Mas nunca se rebelou ou murmurou contra o pai, acho que aceitou por amor a você.

_ E meu pai não fez nada para defender o amor de sua vida?

_ Na verdade ele não pode, seu orgulho era grande de mais, ele desejava ter uma família respeitável e uma amante ou um amor escondido de todos.

_ Por que está me contando isso?

_ Deixe-me terminar, por favor?

_ Sim!

_ Seu pai teve outras amantes antes de você nascer, Maria também é sua meia irmã...

_ Mas a mãe dela viveu lá na fazenda até morrer no parto. A senhora sabia dela também?

_ Sim. Fui eu quem impedi que seu avô fizesse o mesmo que fez com a mãe de José. Disse a ele para por rédeas em seu filho. E ele me disse para lhe dar um filho, um herdeiro, senão ele mesmo me mataria, pois ele não queria morrer sem ver netos.

_ Mamãe...

_ Acalme-se, não se aprece em julgar! Recomendou Carlota.

_ Não vou fazer isso, só lamento tudo o que passou.

_ Não lamente, pois eu não lamento. Mas continuando nossa história... Carlota respirou e prosseguiu:

_ Descobri depois de alguns meses que seu avô estava morrendo, e que ele só não matou José porque já sabia disso, e mestiço ou não – José era seu sangue. Depois de um ano seu pai acalmou e então fiquei grávida de você. Quando você chegou tudo mudou, seu avô melhorou e seu pai também, logo seu avô partiu e seu pai assumiu tudo.

_ Mãe ele continuou traindo-a?

_ Por alguns anos não! Durante uns anos vivemos como uma verdadeira família feliz e unida, mas eu já não tenho mais a jovialidade de antes e o seu pai perdeu o interesse e recomeçaram suas aventuras e eu fiquei esquecida, então me dediquei exclusivamente a você. Mas já é tarde continuamos amanhã cedo, pois a nossa conversa ainda não acabou.

_ A sua benção, mãe?

_Que Deus lhe abençoe!

Abraçando e beijando a filha, ambas se recolheram aos seus quartos.

Continua...