Historieta: Realizando sonhos (5ª parte)...

Assim que caminhou um pouco se deparou com belo riacho onde a água corria acelerada em direção ao mar.

Vendo uma pedra pontuda, resolve sentar-se nela e ali chorar olhando as águas do riacho e desejando que elas lavassem sua alma, que carregassem suas dores.

Dando vazão as lágrimas, ela se recorda de como se casou com Augusto, de como se apaixonou por ele assim que o viu, que ele sempre a desonrou vergonhosamente, mas que nunca havia sido tão explicito, a traição nunca havia sido tão clara e visível como agora.

Lembra-se da filha sua maior alegria, lembrou-se que a chegada da menina conteve os ímpetos do esposo, bem como lhe dera a oportunidade de viver dias de paz e tranqüilidade no lar, foram verdadeiros dias de felicidades no seio familiar.

Lembrou-se de como sua filha transformara seu marido, como ele tinha melhorado no trato com os escravos, e que há muitos havia dado a liberdade.

As lágrimas nublaram sua visão e por isso não viu a aproximação de seu Manuel, que já a observava há certo tempo.

_ Senhora o que há? Estás bem? Eu posso lhe ajudar?

_ Tristeza, desonra,... Disse ela chorando ainda mais.

_ Quem a desonrou senhora? Diga-me e eu o punirei? Disse seu Manuel avermelhando-se.

_ Meu marido! Disse ela ferida e magoada.

_ Que homem é esse que não percebe a jóia que tem? Senhora, se minha esposa fosse jamais a faria sofrer! Disse ele se aproximando.

Ela se manteve em silêncio com os olhos baixos, e ele percebendo a oportunidade de conquistá-la continuou:

_ Senhora se me permitisse faria a muito feliz... Eu a desejo, não como uma aventura, mas como minha esposa, sou viúvo há muitos anos porque jamais havia encontrado mulher como a senhora...

_ Mas eu já sou casada... Balbuciou ela o interrompendo.

_ A senhora pode deixá-lo, pode viver aqui em Portugal comigo, aceito sua filha como minha, podemos formar uma família...

Ele é interrompido em seu entusiasmo pelas lágrimas e os soluços que ela produz.

_ Perdoe-me senhora se a ofendi! Por favor, perdoe-me...

_ Senhor o que me ofende não são suas palavras são os sentimentos que elas me despertam.

_ Sentes nojo de minhas palavras? Disse ele ficando rubro.

_ Não! Elas me consolam e se livre fosse não pensaria duas vezes. Disse ela olhando-o nos olhos e se envergonhando em seguida e como não podia refogar o que dito estava levantou-se e pôs a correr-se para casa.

Manuel percebendo a declaração aberta correu atrás dela e a segurou pelo braço e pela primeira vez seus ímpetos arrebatados se contiveram diante daqueles olhos que traduziam a vergonha e a dor daquelas palavras que manifestavam o desejo, mas que esbarravam no dever.

_ Carlota, por favor, deixe-me ao menos vê-la, conversar com você, dê-me a oportunidade de ser seu amigo? Dizia ele tentando acalmar-se, louco para beijá-la.

_ Está bem! Disse Carlota, mas para se livrar do que como uma promessa que desejasse cumprir verdadeiramente.

Assim que chegou a quinta se recolheu ao seu quarto e lá permaneceu.

Orava sem parar, buscando em suas preces a força para resistir à tentação, não desejava desonrar sua família, manchar o nome de sua filha e quem sabe talvez até lhe impedir a felicidade de uma união.

Logo a febre se abateu sobre ela.

Continua...