Cap. XLIX O Poder do Perdão: Em São Paulo

Em São Paulo, Maria contava a José tudo o que havia acontecido com Ângela e com o menino Lucas, que agora se chamava Thiago.

José estava lívido diante da história que Maria narrava, seus pensamentos e o sentimento de remorso também se misturava a sua emoção fazendo-o chorar.

_ Sabe Maria tudo parece conspirar para que a verdade apareça, não é?

_ É sim.

_ Eu também guardo uma verdade, que preciso confessar e um perdão que preciso obter para viver em paz com minha consciência.

_ Do que você esta falando José?

_ Do menino!

_ Que menino?

_ O nosso Lucas.

_ Que história é essa? Perguntou Maria puxando uma cadeira e sentando-se a mesa para ouvi-lo.

_ Eu fui um dos homens que seqüestrou o menino. Fui eu quem o deixou aqui por que eu não tive coragem para deixá-lo jogado por ai.

_ José, o que esta me dizendo?

_ A verdade. Fiquei muito feliz quando o seu pai o encontrou aqui e achei que estava tudo terminado, mas eu me enganei. Eu sei agora que preciso enfrentar o pai dele e pedir para que me perdoe e até mesmo quem sabe cumprir um tempo na cadeia, porque como eu disse pra você parece que cedo ou tarde a verdade sempre vem à tona e eu quero poder viver em paz de novo. Isso que aconteceu com dona Ângela e seu Carlos me mostraram o que tenho que fazer. E por isso Maria que eu gostaria que você me desse às contas porque eu vou voltar e enfrentar o meu destino.

_ Você não vai fazer nada disso, antes de conversar com dona Ângela, que era a nossa dona Júlia. E eu vou ligar para o seu Carlos vou fechar a casa e nós iremos lá conversar com eles e você vai contar tudo primeiro para dona Júlia, quer dizer Ângela.

Maria falou com Carlos lá no hospital e pediu permissão para fecharem a casa e irem ao encontro deles.

Carlos consentiu e eles assim o fizeram.

Maria e José chegaram ao hospital no dia em que Ângela iria receber auta-médica.

Assim que Carlos os viu, ele foi ao encontro dos fiéis empregados e estes lhes pediram para ver Ângela o mais rápido possível.

José contou toda a história para Ângela e Carlos. Carlos ficou muito impressionado com aquela atitude corajosa de José. Ângela o confortou dizendo:

_ Todos nós erramos. Mas é preciso muita coragem para fazer o que é certo.

Depois de abraços consoladores, Carlos chamou o dr. Lucas, que veio todo sorridente achando que ele queria a auta .

_ Já sei, já sei! Você quer levar Ângela e esta sem paciência para esperar a ronda. Só por isso acho que vou deixá-la aqui mais alguns dias. Brincou Lucas.

_ Não é nada disso! Disse Carlos com ar sério.

Lucas ao entrar no quarto percebeu pelos rostos e pelo olhar lacrimoso de Ângela que algo estava errado.

_ O que houve? Perguntou ele.

_ Sente-se Lucas! Pediu Carlos.

_ O que foi? O que esta acontecendo? Perguntou ele assustado ao perceber a presença de José, que ele agora reconhecia como sendo um ex-funcionário seu.

_ Esse é José! E ele tem algo a lhe dizer. Disse Ângela.

_ Eu sei quem ele é. Ele foi um funcionário meu, eu o demiti por justa causa. Tudo bem com você, José?

_ Não senhor! Respondeu José visivelmente abalado.

_ O que houve? Do que se trata você esta doente? Quer que eu o ajude? Tudo bem, nós podemos atender sem custas pra você. Não tem problema.

_ Não é nada disso senhor. Eu vim aqui para lhe dizer que fui eu quem roubou o seu filho e o deixou no quintal da casa de dona Júlia, não dona Ângela.

_ Como? Disse Lucas lívido caído sentado sobre um sofá.

_ Eu e o Godofredo íamos pegar a sua esposa e o menino, mas não saiu como planejamos... E assim José narrou tudo até aquele momento.

Na cabeça de Lucas havia um misto de raiva e remorso, pois ele também havia feito algo ruim e jamais tivera a coragem de contar tudo para ninguém, naquele momento ele se lembrava de seus sonhos com Ângela, o desespero de sua mulher, o seu abandono do lar, a benção que foi achar o seu filho e tudo que ele tinha de bom agora e ele começou a chorar.

_ Eu sei que esta sendo difícil para você, mas tente escutar tudo e perdoar. Disse Ângela.

_ Eu quero que o senhor me perdoe por todo o sofrimento que eu lhe causei e eu quero que o senhor saiba que estou pronto para me entregar a policia...

Foi quando entrou todo alegre o pequeno Thiago que correu e abraçou Ângela, que esta sentada de frente para a porta. Depois ele virou e viu José e Maria e correu para abraçá-los e quando viu que eles choravam foi logo dizendo:

_ Ela esta bem e vai voltar logo, vocês não sabem? E vendo o pai no canto do quarto meio recomposto das emoções, disse a ele: diga papai para eles que minha mãe dois esta boa e já vai poder voltar pra casa.

_ É verdade! Disse Lucas abatido. Lisa que percebia que algo não estava bem, abraçou o marido dizendo eu vou levá-lo daqui e olhando para o pequeno disse:

_ Vamos embora que o seu pai precisa examinar a sua mãe dois? Depois a gente volta ta bom!

_ Tudo bem! Disse o menino dando de ombros.

Depois que eles saíram e Lucas já um pouco mais refeito das emoções, olhou para José e disse.

_ Eu sequer sabia que você havia participado do seqüestro uma vez que a única pessoa identificada fora Godofredo. Seu nome jamais fora se quer mencionado. Aos olhos da Lei você não é culpado de nada. E eu não tenho a intenção de mencionar o seu nome e o fato de você ter se preocupado de levar o meu filho para um bom lugar e depois ter se empregado lá para saber se ele estava sendo bem cuidado e a demonstração de carinho dada pelo meu filho a você indica que você não é má pessoa. E isso pra mim basta.

Todos estavam emocionados.

_ Apesar do senhor ter tido essa atitude nobre de me perdoar eu infelizmente tenho a marca da morte em minhas mãos, porque sua esposa se suicidou por causa do que eu fiz.

_ Apesar de sermos responsáveis por tudo que cativamos e por todos os que nos rodeiam, cabe também a cada um fazer de sua vida uma fonte de esperança, alegria, paz e amor. Como diz o ditado popular: “você pode levar um burro até a beira do rio, mas ele só bebera água se quiser”, assim também é a nossa vida, podemos viver como se estivemos no paraíso ou no inferno. Disse Ângela.

_ É verdade! Completou Carlos num suspiro profundo.

_ Vá com Deus! Disse o dr. Lucas.

Maria abraçou José e pediu licença a todos para saírem. E uma vez lá fora ela lhe disse.

_ Como foi generoso o Senhor Deus para contigo!

_ É verdade. Disse José com os olhos marejados.

_ Vamos embora?

_ Pra onde?

_ De volta para casa.

_ Não posso, eles não vão me querer mais lá.

_ Ainda bem que os encontrei aqui. Disse Carlos.

_ O que foi senhor? Perguntou Maria.

_ Ângela pediu para vocês voltarem para casa, pois nós ainda vamos ficar uns tempos por aqui.

_ Eu também! Exclamou José.

_ É claro! A menos que você não queira?

_ Eu quero senhor! Podemos voltar hoje mesmo?

_ Então, ótimo! Vocês precisam de alguma coisa?

_ Não esta tudo bem.

_ Maria se precisar pagar ou fazer qualquer coisa, você sabe onde fica tudo, certo?

_ Sim, senhor!

José estava passado, não acreditava que tudo isso estava acontecendo com ele.

Ao saírem do hospital eles encontraram várias pessoas em polvorosa felicidade, mas não sabiam que ali estavam as filhas de Ângela, Álvaro e Carmem.

José ao olhar as meninas sentiu-se alegre com a alegria delas. Ele que no passado fora quem as conduziu a morte, na roupagem de padre Guido.