Cap. XLVI O Poder do Perdão: No Jardim

Carlos estava sentado num banco do jardim interno do hospital, olhar preso na imensidão. Corpo solto no banco estava tão longe seu espírito que não percebeu a aproximação de Álvaro.

_ Tudo foi muito pior do que ela disse lá dentro. Durante a noite em que dormi com ela, dormi apenas com o corpo dela, que era imaculado até então. Ela estava tão bêbada que dizia o seu nome a todo o instante.

_ Por que você fez isso conosco?

_ Por que eu a amava mais que tudo, a desejava tanto que não parei para pensar, melhor eu não me permiti pensar.

_ Eu sinto por ela não ter me contado.

_ Ela bem que tentou.

_ Como assim?

_ Ela só soube com certeza que havíamos dormido juntos porque ela acordou no meu quarto, na minha cama. Quando ela acordou começou a chorar desesperadamente correu para o banheiro e se lavou tanto que parecia querer limpar do corpo uma sujeira que lhe nodoava a alma. A minha secretaria que ficou espiando ligou-me e eu vim correndo pra casa e a vi naquele estado, fiquei desolado, depois a levei para casa e ela me disse que lhe contaria tudo e que ela nunca mais gostaria de me ver de novo. Eu fiquei pensando mil maneiras de impedir que ela lhe contasse, mas vocês ficavam mais juntos que unha e carne. Mas o destino parecia estar do meu lado porque ela não conseguiu lhe contar e na terceira semana ela soube da gravidez e ao conversar com a sua tia ela lhe disse que o melhor para o bebê era estar ao lado do pai. E quando ela contou a sua mãe que estava grávida esta também lhe disse que o melhor jeito para se criar um bebê feliz era ao lado do pai, apesar da tristeza que sua mãe ficou ao saber que o bebê que Ângela trazia no ventre não era seu. Acho até que se ela soubesse primeiro a história, ela teria tido para Ângela dizer que era seu para ver você assumir e viver feliz com ela. E como eu não parava de me desculpar e pedir para que ela se casasse comigo, finalmente ela aceitou, mas durante quase um ano eu fiquei sem tocá-la, vendo-a ali, sem poder chegar perto, até que um dia eu lhe pedi para que me amasse ou então me deixasse e só ai eu comecei a viver de fato com minha esposa.

_ Por que esta me contando isso?

_ Por que eu sei o quanto você deve estar sofrendo, sem duvida se naquela época ela realmente o amava ou não?

_ Isso que você me contou me ajudou a entender um pouco melhor o que aconteceu daquele dia até o momento em que ela me disse que estava tudo acabado.

_ Hoje, fui eu que entendi que estava tudo acabado para nós dois, quando ela contou a nossa história e quando relembrei como tudo começou então percebi que era o fim e vi nos olhos dela o amor profundo que ela sempre sentiu por você. Eu nos últimos quatro anos me envolvi com alguém que me ama como ela te ama e acho que vou aproveitar o que o destino me oferece como uma nova chance de ser feliz. Quando eu olho para trás e vejo todo o sofrimento que passei sabe o que é mais triste?

_ O que?

_ Pensar que tudo isso fui eu que escolhi. Mas eu também paguei um pouco do meu mal quando você a resgatou de mim.E levantando-se saiu do jardim. Naquele momento sentia-se mais leve e experimentava pela primeira vez uma sensação de leveza tão grande que parecia pisar nas nuvens.

Ao chegar em casa Álvaro beijou as filhas e agradeceu a Deus tudo o que tinha.

Enquanto isso no jardim Carlos ficou envolto em seus próprios pensamentos. E percebeu que fizera o mesmo que Álvaro fez com ele ao roubar sua amada e ainda prejudicará as meninas, seu coração doeu.

Camila que esperava por Álvaro na sala perguntou-lhe:

_ E, agora o que vou fazer? Não tenho para onde ir?

_ Do que você esta falando?

_ Que agora que você e Ângela vão voltar a viver junto, eu não poderei mais ficar aqui.

_ Nós não vamos voltar a viver junto. Inclusive eu tenho umas coisas para te contar e conto com a sua ajuda para me facilitar às coisas por aqui. E assim Álvaro narrou toda a sua história com Ângela e sua história com Carmem com quem pretendia constituir família. Falou das emoções, que vivera naquele dia.

Camila ficou tão empolgada com a idéia de continuar ali, que foi logo dizendo que Álvaro não teria problema algum com Ana, mas que Susan talvez desse algum trabalho.

_É você tem razão Susan não aceitara o meu envolvimento com Carmem e nem admitira que sua mãe não venha morar aqui.

_ Você pode pedir a ajuda de Ângela neste ponto? Quem sabe ela nos ajude!

_ Já é tarde, vamos dormir?

_ Claro! Responde Camila olhando para o relógio da sala.

No quarto Álvaro relembrava de suas duas meninas: Ana era doce, sempre alegre e animada com tudo; Susan estava sempre triste e brava com a vida sempre disposta a brigar por tudo e com todos.

Nem sempre foi assim tudo começou a mudar depois do desaparecimento de Ângela. Ana chorou e se resignou sempre na esperança de que sua mãe estivesse impossibilitada de estar presente em nosso lar e Susan não chorava, mas sempre que falávamos sobre o assunto ela expressava a sua tristeza e afirmava que a mãe as abandonara e eu nunca a desmentia, pois também achava que ela tinha nos abandonado.

Ana era sem duvida nenhuma o raio de luz que o felicitara a vida, todas as noites nos últimos anos ela o esperava para dizer boa noite para lhe dizer algo carinhoso e para lhe informar do dia.

Nos primeiros anos eu sentia vontade de mandá-la embora, pois sua alegria chegava a me irritar, mas a presença de minha irmã me impedia de fazê-lo. Oh! Minha irmã que benção foi em nossas vidas.

Mas com o passar dos anos eu passei a esperar com certa ansiedade pelo momento de nos falarmos e de certa forma me alegrar em sua alegria.

Toc! Toc! Alguém bate a porta. Álvaro que estava envolto em seus pensamentos não vê Ana entrar no quarto.

_ Papai? Papai?

_ Ana! O que foi?

_ Nada! Só não consigo dormir pensando na mamãe. Tive um pesadelo horrível, onde ela morria.

_ Foi só um sonho, Ana! Deite aqui e faça uma prece e procure dormir.

Álvaro acalentava a filha enquanto agradecia a Deus pela presença de anjos em sua vida mesmo sem os merecer.

Após alguns minutos Ana pegou no sono e dormia tranqüilamente nos braços de seu pai. Logo Álvaro também adormecera.

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Confessar os nossos erros é o primeiro passo no reconhecimento de nossas responsabilidades, porém nunca estaremos só ou abandonados pela Misericórdia de Deus, que sempre nos socorre com seus anjos tutelares.