Cap. XLIV O Poder do Perdão: O despertar

Depois da primeira semana ela respirava sem a ajuda de qualquer aparelho, a medicação havia sido reduzida e o despertar dependia agora da própria paciente, que na metade da terceira semana: despertou.

Ângela acordou diante de Carlos que lhe apertava a mão, senhora de todas as suas lembranças e disse: _Será que poderia me dar um pouco de água, por favor?

_ Ângela!!! Meu Deus, muito obrigado!! E acionando uma campainha para chamar os enfermeiros, Carlos não sabia se chorava ou se sorria. A emoção era tamanha que Carlos a chama pelo seu verdadeiro nome.

Ângela por sua vez sorria de leve e sentindo a boca molhar com as lágrimas que corriam de seus olhos e dos olhos de Carlos. Sentia uma felicidade indescritível e uma gratidão imensa a Deus, que em sua infinita misericórdia permitia que ela voltasse a rever o homem que amava ainda nesta encarnação. Lágrimas de gratidão e felicidade se multiplicaram por todo aquele hospital e choro se fizera ouvir muito além dali.

Ângela fora levada para um quarto, onde continuava sobre cuidados médicos e rodeada de amigos.

Carlos fora o primeiro a falar com ela depois que ela acordou.

_ Ângela, eu tenho tanta coisa pra dizer ...

_ Não precisa dizer nada, Carlos! Eu me lembrei de tudo, inclusive de nós dois, de sua mãe, do pequeno Lucas, de tudo.

_ Você vai me perdoar?

_ Não há nada a ser perdoado. Carlos, eu é que tenho que te pedir perdão. Eu tenho tanta coisa pra te contar, que você não sabe, fui eu que trai o nosso amor e não o contrario.

_ Você não tem nada que possa ser censurado, nada!

Carlos se aproximou mais enquanto Ângela chorava, abraçando-a e sentindo o seu coração junto ao seu por alguns instantes, eles se esqueceram do mundo a sua volta.

Álvaro que desejava punir Carlos de algum jeito e que só não o denunciara até agora porque fora aconselhado pelo advogado da família a não fazê-lo antes que Ângela acordasse e contasse a sua versão da história. Dr. Luiz inclusive lembrou Álvaro que ela poderia acabar sendo incriminada por uso de documentos falsos.

Ângela abraçada a Carlos sussurrava-lhe ao ouvido todo o seu amor por ele, quando Álvaro sedento da verdade adentra o quarto e interrompe a cena dizendo: _ Ângela, nós precisamos conversar?

_ Sim, eu sei. Responde Ângela sem pestanejar.

_ A sós!

_ Tudo bem! Eu já estava de saída mesmo. Diz Carlos meio contrariado.

_ Não vá embora?

_ Eu não irei! Eu vou ficar aqui fora, qualquer coisa é só chamar? Carlos se sentia agora o próprio rei. Ele sentia que ela não iria ficar longe dele e isso era tudo que ele queria.

Quando Carlos saiu. Álvaro se aproximou e disse: _ Você parece muito bem, e parece também que você já tomou sua decisão?

_ Sim, eu já tomei.

_ Eu queria dizer que eu vou processar ele. Disse Álvaro, mais por raiva do que por uma decisão tomada. Ao ver que ela se quer daria a chance dele se explicar ele se via preterido. Enquanto que seu rival era o escolhido.

_ Por que vai processá-lo?

_ Porque ele nos privou de sua companhia. Nossas filhas sofreram muito.

_ Não foi ele quem me traiu? Foi você. E, eu trai meus próprios sentimentos.

_ Eu...Eu! Balbuciou Álvaro ao se lembrar de seus atos levianos.

_ Sim. Você e seu passado criminoso e eu que durante muito tempo esforcei-me por amar-te, quando na verdade traia-o em pensamento e muitas vezes em sonhos, nos quais sempre busquei a figura de Carlos. Para disfarçar o meu deslize eu usava a mascara do ciúme, como pode ver não erraste sozinho. E seus deslizes com certeza foram mais motivados pela ausência do amor sublime em nosso lar. Como pode, ver eu não posso acusá-lo de nada, a não ser que me acuse junto. Nós dois erramos, você errou quando me drogou, eu errei quando me casei com você mesmo sem amá-lo, errei quando não consegui ama-lo como merecia, errei quando me permiti enfurecer diante de uma cena de adultério, mas eu já vivia em adultério há muito tempo. Errei quando não confiei no amor de Carlos por mim, quando não lhe contei sobre o meu deslize. Como pode, ver todos nós erramos, mas eu não lhe desejo mal, desejo que seja muito feliz ao lado de Carmem.

_ Como soube de Carmem? Disse Álvaro um tanto confuso.

_ Ela veio me visitar varias vezes durante o meu coma e contou-me toda a história.

_ Você ouvia tudo?

_ Sim. Eu ouvia tudo e foi assim que fui tomando consciência de mim, de meus atos, de meus erros, e de meu amor por Carlos, eu sei que se você me amou um dia de verdade vai entender e recomeçar sua vida e permitir que eu possa recomeçar a minha e incluir nela as nossas filhas. Disse Ângela chorando.

_ Eu acho...

_ Por favor, antes que responda algo, gostaria de pedir para que reflita com muito carinho em tudo isso que conversamos hoje. Por favor, Álvaro não queira me punir mais do que já fui punida! Eu lhe tenho um enorme carinho e peço que me perdoe, por nunca ter te amado como merecias! E gostaria que você não deixasse a sua oportunidade de ser muito feliz ao lado de Carmem, pense nisso!

_ Tudo bem! Álvaro sentia naquele momento um misto de amor e remorso que o fazia chorar. Aproximando-se de Ângela pediu-lhe permissão para abraçá-la ao que ela assentiu com um menear de cabeça. Quando se abraçaram houve um choro copioso de ambas as partes, sentiram naquele momento que as magoas se desfaziam em lágrimas sentidas e verdadeiras de puro amor fraternal, que lhes aquecia o peito, nisso adentra o quarto: Lisa, Lucas e o pequeno Thiago, que antes que alguém pudesse segura-lo corre para os braços de Ângela, que o abraça e o beija com amor de mãe.

Lisa meia sem jeito ao ver que Álvaro e Ângela choravam pede desculpas. Enquanto que ele busca sorrir e com um aperto de mão se despede de todos e sai do quarto.

_ Desculpe se atrapalhamos a reconciliação de vocês! Diz Lisa.

_ Não, você não atrapalhou nada.

_ Vocês vão retomar as suas vidas, juntos? Pergunta Lucas um tanto apreensivo por causa do amigo Carlos.

_ Não e sim. Nós vamos retomar as nossas vidas, mas cada um vai tomar a sua própria direção, e em comum apenas nossas filhas.

_ Ainda bem, porque se não seriamos nós que teríamos que consolar Carlos.

Ângela sorri tristemente não sabendo qual será a reação de Carlos depois que toda a verdade vier à tona.

Depois de algum tempo Lucas e sua família se despedem para que outros pudessem entrar.

Ana e Susan, que aguardavam ansiosas finalmente podem entrar para ver sua mãe e falar com ela e ouvir as respostas dela.

Ana já estava chorando antes mesmo de entrar, Susan assim que viu sua mãe sorrindo de braços abertos não pode segurar o choro e correram ambas para os braços de Ângela e aqueles três seres ficaram mais de meia hora em um abraço saudoso, que não desatava porque nenhuma tinha coragem para fazê-lo.

Foi então que Camila que também estava no quarto se manifestou pondo fim aquele abraço caloroso de saudades incalculáveis.

_ Oh! Ainda bem que alguém resolveu olhar pra mim. Disse ela para riso geral.

_ Que bom vê-la! Disse Ângela abraçando-a.

_ Obrigada!

_ Obrigada! Sou eu que devo agradecer por tudo que fizera pelas meninas, por Álvaro, enfim por tudo.

_ Você vai pra casa com a gente, né mãe? Perguntou Susan aflita.

_ Eu não sei... Meu bem. Eu e se pai, nós...

_ Oh! Susan isso é entre ela e papai. Disse Ana.

_ Mas...

Antes que Susan pudesse continuar Ana interviu, dizendo:

_ Mãe, para nós não importa para onde você vai, porque uma coisa nós já sabemos nós não iremos ficar longe de você.

_ Eu amo vocês! E abraçando as filhas, Ângela sentia se completa, plenamente feliz, sua única preocupação era Carlos e o que ele faria.

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Num casamento nunca se erra sozinho.