Cap. XLIII O Poder do Perdâo: Carmem na UTI
Com a ajuda do Dr. Pedro Lopes, Carmem conseguiu tarde da noite adentrar na UTI para ver Ângela.
Carmem não era da família, portanto não possuía permissão para estar ali.
Ela era a irmã caçula do Delegado Magalhães, e há muito tempo namorava um homem, que ainda não se apresentara à sua família. Deixando todos apreensivos, mas como Carmem estava sempre feliz e prometendo que no tempo certo ele seria apresentado a todos, tudo ficava por isso mesmo, e com a doença da mãe Dona Augusta, todos ficaram mais tranqüilos quanto à índole do pretendente a marido de Carmem, pois ele custeara todo o tratamento e Dona Augusta que o conhecera e disse que ele era um homem de bem e todos ficaram tranqüilos e de certo modo felizes, por Carmem ter encontrado um homem bom.
Magalhães era o único dos quatro irmãos que exigia que ele se apresentasse como se deve para fazer o pedido oficial, mas como a mãe avalizará a índole do homem ele se calou, sem jamais suspeitar que se tratasse do marido de Ângela, um caso que ele ainda não conseguira resolver.
Quando Carmem soube através de um telefonema que receberá pela manhã de seu amor dizendo que sua esposa estava viva, ela se sentiu desfalecer, procurou-o no hospital, mas não conseguira se aproximar dele, pois ele estava com sua família, então ela manteve distância, pois a família dele ainda não sabia dela.
Mas queria a oportunidade de conhecer aquela mulher e lhe falar sobre o seu amor por Álvaro, com quem estava envolvida há quatro anos.
No inicio queria mesmo era olhar a rival de perto, mas quando olhou Ângela naquela cama toda intubada e cheia de fios por todo o corpo, sentiu por ela um estranho sentimento de compaixão e então, se aproximou da cama, segurou sua mão e disse:
_ Eu sou Carmem!
Ao que Ângela esboçou um tremor nos lábios dando a impressão de se tratar de um leve sorriso, como se cumprimentasse uma velha amiga e a sua mão fez pressão na mão de Carmem, que se emocionou.
_ Eu vim aqui primeiro porque estava com muita raiva de você, pois você apareceu justamente na hora em que Álvaro me apresentaria a família, mas agora não sei o que sinto. Gostaria de contar a minha história com ele para que quem sabe quando você acordar, talvez... Possa até gostar de mim e não querer mais nada com ele.
Quando Carmem disse isso Ângela apertou sua mão com força.
_ Você esta me ouvindo? Se você está aperte de novo minha mão? Disse Carmem com o coração aos pulos.
E Ângela apertou a mão de Carmem.
_ Você quer que eu vá embora? Aperte novamente!
Carmem esperou um tempo e nada aconteceu então ela começou a falar sobre ela e Álvaro, de como se conheceram, de como ela foi conquistando ele aos pouquinhos, de seus planos e principalmente do bebê, que ela estava esperando e que ainda não tivera oportunidade de contar pra ele. Ela sentiu nesse momento uma dor no coração e uma incerteza lhe assolou o pensamento e ela desvencilhando-se da mão de Ângela saiu da UTI em prantos.
O que farei? Pensava Carmem. Como posso resolver isso sozinha? E a esposa dele? O que ela vai fazer quando acordar? Ela pode resolver ficar com ele? E se ele não gosta de mim? O que vou fazer? Ao chegar em casa chorou muito até adormecer profundamente.
Sonhou que estava em um jardim com flores e uma nevoa branca que cobria um lago próximo, de repente um vulto envolto em uma luz azulada vem trazendo Ângela em uma cadeira de roda, tudo a sua volta muda, as flores se abrem, a nevoa se dissipa e toda a beleza do lago se revela.
_ Por que chorais? Pergunta-lhe Ângela mentalmente, pois os seus lábios não se mexem.
_ Você sabe! Estou grávida e não sei o que fazer?
_ Você ama esse ser, que trazer no ventre?
_ É claro!
_ Então qual é a duvida?
_ Vou estar só? Tenho medo!
_ Nunca estamos só, pois mesmo que nenhum ser visível esteja ao nosso lado, Deus nosso pai nunca nos abandona. E depois, porque teme pela escolha dos outros. Por acaso não somos todos livres para escolher o nosso caminho?
_ Sim, mas se ele me deixar...
_ E, se ele não deixar? Vais sofrer por antecipação? Acaso não confia no amor que ele lhe tem? Pense nisso meu bem e não sofra por antecipação e nem se desespere com as escolhas alheias, porque no final só responderemos pelas nossas escolhas e pelas escolhas certas que ajudamos outros a tomarem. Fique com Deus e se resigne a sua vontade e confie em seu amor por ti.
Aquele ser azulado, que não podia ser percebido senão como uma centelha azul, que ofuscava os olhos, aproximou-se e levou Ângela embora e Carmem se vendo só no jardim pode observar-lhe toda a beleza, as flores eram de cores tão vivas e os pássaros de beleza sem iguais, a água era de um azul cristalino no qual se podia ver o fundo e os peixes, ouvia ao longe uma melodia que não podia descrever a sonoridade e a emoção que lhe produzia na alma, fechou os olhos como a querer escutar melhor e sentindo profunda sonolência, sentiu que voltava ao seu quarto e olhando para baixo viu o seu corpo e levando um susto despertou com a certeza de que aquilo não fora somente um sonho.
Entusiasmada com o sonho, trabalhou animada e feliz o tempo todo e foi tão gentil, que sua mãe até brincou: _ Acaso viste passarinho verde, hoje?
Ao que Carmem apenas sorriu.
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Sempre os nossos anjos tutelares vêm em nosso socorro nos momentos difíceis.