Cap. XXXVII O Poder do Perdão: Novamente na fazenda
Ao chegar à fazenda viu tudo diferente. Lembrou-se do pai, do sr. Joseph, do menino, das meninas e seu coração doeu.
_ Ane Marie que saudade! Exclamou ao vento num sussurro profundo.
_ Quem vem lá? Perguntou o capataz da fazenda.
_ Sou eu Alfred!
_ Não pode ser! Alfred era negro.
_ Posso provar! Gritou Alfred já sobe a mira da arma do capataz. E arrancando a luva mostrou a mão.
_ Mas que é isso? Assustou o capataz.
_ Uma doença! E é contagiosa.
_ Então é melhor ir embora.
_ Vim porque seu patrão mandou-me chamar.
_ Pode passar! Exclamou ele se afastando.
Ao ver Justine, Alfred gritou e essa lhe reconhecendo a voz buscou-lhe o rosto, mas não o viu.
Alfred se aproximou, desceu do cavalo e foi em direção de Justine que o olhava assustada.
_ Sou eu! Sou eu! Alfred.
_ Meu Deus o que houve?
_ Depois eu lhe conto! E abraçando e beijando-a perguntou sobre Gerald.
E ela narrou-lhe toda a história, a morte de seu pai, o ferimento que não se curava, as doenças que insistiam em derrubá-lo e por fim a sua prostração na cama que já durava alguns meses, os delírios e as febres são o pior de tudo! Falou Justine com lágrimas nos olhos.
_ Desejo vê-lo.
_ Vamos, pois ele não fala em outra coisa desde que lhe escreveu aquela carta, pedindo sua presença.
No quarto de Gerald a penumbra tomava conta de tudo e ele viu com pesar aquele homem forte de outrora jogado em um leito, enfraquecido e só.
_ Quem está ai?
_ Sou eu Justine e o menino Alfred.
_ Alfred! Que benção... e as lágrimas embargaram a voz de Gerald.
_ Sim eu vim lhe ver.
_ Tenho que lhe pedir perdão por todo o sofrimento que lhe causei, que causei as meninas, a Pollyanna... E o silêncio se fez presente, só sendo interrompido pelos soluços cheios de dor e remorso de Gerald.
Passando um tempo, refeito o equilíbrio emocional Gerald continuou.
_ Eu não tenho mais muito tempo de vida e gostaria de passar todos os bens que tenho para você, e uma parte para Justine e para o velho Robert, que foi o meu fiel amigo nesses últimos anos de existência. Gostaria que você aceitasse isso e me perdoasse por todo o mal que lhe fiz.
_ O senhor apesar de aparentemente ter sido um algoz em minha vida e na vida daqueles que amei, o senhor nunca me fez mal, o mal que praticaste fora sempre para consigo mesmo. E apesar de tudo o senhor acabara por me fazer um grande bem, pois me deixaste naquele convento, onde aprendi a conhecer a Jesus, a perdoar e acima de tudo a ser grato a Deus por tudo que me deste e a busca entender o que vivo com serenidade e confiança em Deus e nos seus desígnios.
_ Essas suas palavras acalentam a minha alma que a muito vive atormentada.
_ Acredito que nada sofremos sem que Deus o permita.
_ Por que Ele faria isso?
_ Para que possamos aprender com as nossas experiências e nos melhorarmos sempre, o arrependimento acredito seja o primeiro passo.
_ Como ficaste branco?
_ Eu peguei uma doença que manchou o corpo em especial o rosto tornando-o totalmente branco.
_ Que pena!
_ Isso acabou sendo-me uma benção!
_ Como assim? Quis saber Gerald.
E Alfred lhe narrou toda a história, sua pregação, a promessa feita a Eleanor e como ajudou um certo senhor Hart.
Gerald estremeceu ao ouvir o nome do pai de Elizabeth, a mulher que o amava e pela primeira vez dirigiu a ela um pensamento de carinho.
Gerald e Alfred conversaram por longas horas e esboçou sinais de melhoras e nos dias que se seguiram Gerald até se levantou e passou a ouvir as pregações que Alfred fazia aos trabalhadores da fazenda às palavras evangélicas chegavam aos seus ouvidos como bênçãos de reconforto e paz.
Durante as tardes Gerald sempre chamava Alfred para conversar sobre Jesus, sobre todos os acontecimentos da vida e um dia tomando coragem contou-lhe sobre Joseph Porter e tudo que ele fizera e Alfred lhe contara o que ele não sabia e então Gerald chorou sentidamente, só naquele momento percebia toda a extensão de suas atitudes e todos aqueles que ele havia feito o mal.
Gerald sentindo a morte se aproximar mandou buscar um juiz para que escriturasse tudo o que era de sua vontade e assim em alguns dias lavrou o testamento. E ele fez questão que todos soubessem de sua derradeira vontade.
Muitos que estavam entusiasmados com as pregações de Alfred ficaram felizes. E mais ainda por que ele prometera dar a cada trabalhador um pedaço de terra para plantarem, seriam donos de seus próprios narizes.
Mas existia um grupo descontente, pois um negro estava se tornando muito rico por aquelas bandas e isso era inadmissível e entre esses disfarçados estavam Guido e Antoniete. Eles estavam se escondendo no mato e quando vira passar por eles o homem da pregação, eles não tiveram dúvidas em segui-lo. Ao chegarem na fazenda se disfarçaram de trabalhadores e pediram pouso, no que foram prontamente atendidos, pois naquela época o inverno já estava rigoroso. Logo tomaram conhecimento de quem era o moço e da sua história e ficaram revoltados, pois um negro os havia denunciado.
Guido e Antoniete esperavam uma oportunidade para se vingarem de Alfred.
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Quem não aprende pelo amor, aprenderá pela dor.