Cap. XXXIV O Poder do Perdão: No bordel

Guido parou diante de um hotel, e disse para as meninas que descansariam ali antes de seguirem viagem.

Assim que entram no salão do hotel perceberam que algo estava estranho, pois tinha vários homens e algumas mulheres em trajes despudorados, pareciam-se oferecer aqueles homens sem qualquer cerimônia.

As meninas sentiram-se enjoadas diante do que viam e ouviam. Nisso uma mulher muita bem trajada apesar de usar pesada maquiagem aproximou-se e beijou Guido entusiasticamente para desespero das meninas que pressentiam algo ruim no ar.

_ O que trouxe dessa vez para mim? E olhando para as meninas que se afastavam dos dois indo cair no colo de dois senhores, que as apertavam em seus colos para desespero das duas.

_ Parem! Gritou Guido e continuou.

_ Para apertá-las vão ter que pagar.

_ Meninos levem-nas para o palco. Disse Antoniete.

No palco Anne Marie e Eleanor começam a perceber o que todos ali queriam, e os lances pela posse das meninas começam.

Logo um senhor de rudes modos torna-se o comprador de Anne Marie, que era a mais velha e mais cheia nas formas, este logo a agarra e a arrasta escadas a cima em direção de um quarto e pelo caminho ouvem Guido que diz:

_ Aproveite-a bem, mas não danifiquem o material!

Anne Marie morde, chuta, tenta de todas as maneiras fugir, mas não consegue, no quarto ela é espancada e estuprada, diante de tamanha dor perde a consciência, acordando momentos depois ensangüentada e muito ferida então olha e vê a janela entreaberta, corre em direção a ela quase sem veste e pula para fora caindo no chão, a dor é tão grande, que ela não consegue levantar e então se arrasta pela rua até que é parada pelo seu algoz.

_ Aonde pensa que vai? E sorrindo para ela retira a arma e começa a atirar em sua volta.

_ Mate-me, por favor! Suplica-a.

_ Não posso! Você é uma mercadoria valiosa, depois de limpa e devidamente vestida, outros pagarão para estar com você.

Anne Marie reúne toda a sua força e se levanta e corre em direção de Curtis e lhe grava os dentes no peito, este puxa, empurra, bate, mas ela não solta, então ele atira nela, neste instante os olhos dela se abrem e seus lábios sorriem suavemente, neste momento chegam Guido e Antoniete.

_ O que você fez seu idiota! Grita Guido ao ver o corpo inerte daquela jovem, num fleche sente-se mal.

_ Você vai me pagar o prejuízo? Diz Antoniete.

_ Vocês é que deveriam me pagar uma vez que a mercadoria me atacou! Grita Curtis.

_ Isso não vai ficar assim! Grita Antoniete e sai.

Voltando ao salão Antoniete percebeu que Eleanor havia sido finalmente comprada apesar de duvidar que aquele homem gaga desse conta de fazer algo para com aquela menina, afinal de contas todos ali sabiam que o senhor Hart era um bom homem e a pouco tempo convertera-se ao protestantismo, e já realizava pregações por aquelas bandas contra os bordeis, que existiam por ali.

Mas ele pagou preço justo e caro pela mercadoria, então ele poderia subir com ela, e assim ele o fez.

Eleanor segura pela mão foi conduzida entre lágrimas e prece ao quarto do alto da escada, duas jovens que serviam a uma mesa, abaixaram os olhos e choraram o senhor Hart percebeu que as jovens estavam sentidas pelo que imaginavam fosse acontecer a menina.

No quarto o senhor Hart abriu a janela e disse para a jovem:

_ Venha que eu lhe ajudo a descer, pegue aquele cavalo branco, que está selado e fuja daqui, siga pela estrada até o rio depois siga por dentro do rio, assim ninguém poderá segui-la.

Eleanor não acreditava em seus ouvidos e só deve certeza que isso era verdade no momento em que o senhor Hart a puxou para a janela.

Quando Eleanor se viu no chão, ela correu em direção ao cavalo e logo subiu na sela, meio desajeitada, tocou-o para que esse partisse tudo estava bem, quando percebeu a sua frente um homem que arrastava um corpo, o cavalo impinou-se, e ela ficaram com o pé preso na sela.

E, Curtis assustado, fugiu com medo de alguém estar tentando mata-lo com o cavalo do senhor Hart, todos conheciam esse cavalo, pois ele usava uma corrente que brilhava no escuro ofuscando a vista de quem tivesse em seu caminho.

De cabeça para baixo ela pode ver que o corpo que estava sendo arrastado era o de Anne Marie e soltando um grito de horror e de dor fez com que o cavalo disparasse arrastando-a pela estrada.

Reymond e Alfred que estavam voltando viram o cavalo e correram para socorrer a pessoa que se encontrava em apuro, em alguns minutos conseguiram parar o cavalo e para sua surpresa e desespero viram que a pessoa era Eleanor, que Reymond abraçava em seus braços como a querer impedir que ela partisse.

Eleanor buscou forças e contou o que havia ocorrido, enquanto Reymond chorava e abraçava-a, Alfred buscou o corpo sem vida de Anne Marie, que se encontrava no meio da estrada.

Ao chegar na beira do rio Eleanor pediu para parar e eles obedeceram.

_ Dê-me um pouco de água para matar a minha sede, por favor?

_ Sim! Sim! Respondia Reymond quase sem força. Descendo-a do cavalo e a arrumando-a no chão e pegando o cantil correu até a beira do rio para buscar água fresca, nisso Alfred gritou.

_ Corre! Que ela não esta bem!

_ Eu gostaria de pedir a vocês que me enterrassem aqui junto do rio, eu e minha irmã, e fossem dizer ao meu pai tudo o que aconteceu e que vocês busquem esse senhor Hart e o agradeçam por mim. E num suspiro profundo Eleanor deixava esse mundo.

Alfred e Reymond fizeram as covas e as enterraram, eles estavam angustiados, pois não puderam salvar as meninas nem lhes contar a verdade sobre Gerald.

Galoparam em direção a fazenda, com seus corações sobressaltados e doloridos.

Gerald não conseguira dormir a noite e triste buscava as figuras alegres das meninas, logo cedo disse a Justine que iria buscá-las e que ela deveria ser para as meninas uma segunda mãe, gesto que deixava Justine encantada, feliz da vida.

Gerald pediu que providenciassem tudo para a sua partida, logo que Sam foi avisado da novidade resolveu sair a procura dos meninos para evitar uma tragédia.

Sam seguiu pelo meio da fazenda não encontrando-se assim com os meninos que voltavam pela entrada principal da fazenda.

Ao ver os meninos, Gerald grita:

_ Venham cá! Vamos buscar juntos, aquelas meninas? Tenho certeza de que elas vão ficar felizes em ver vocês. Gerald estava realmente sendo sincero e acreditando que desse jeito estaria também se protegendo de qual quer ímpeto menos digno.

_ Infelizmente, nós não podemos senhor! Disse Alfred com os olhos marejados de lágrimas.

_ O que houve?

_ Elas estão mortas! Disse Reymond olhando Gerald com ódio.

_ Como? Perguntou ele já segurando sua arma.

_ O padre Guido não era padre coisa nenhuma...

_ O que você está me dizendo? Gritava Gerald transtornado.

_ Ele pega as meninas por essas fazendas afora e vende-as num bordel para quem pagar mais. Diz Alfred.

_ Anne Marie foi morta pelo homem que abusou dela e Eleanor foi comprada por um senhor que a tentou salva-la, mas não conseguiu, nós as enterramos perto do rio da cidade vizinha. Disse Reymond com ódio. E tudo isso é culpa sua!! Gritou ele indo em direção de Gerald.

Os dois rolaram no chão e o revolver disparou matando Reymond, quase que imediatamente.

_ Você o matou!! Gritava Alfred em desespero.

_ Recomponha-se moleque! Você vai me levar até o convento e lá veremos essa história direito! E agarrando Alfred pelo colarinho da camisa o jogou em cima de um cavalo e o amarrou ao seu, deu ordem aos empregados para que cuidassem de tudo em sua ausência e para que enterrassem o corpo do menino.

No convento tudo foi confirmado, o padre responsável pela escola cristã disse que não existia nenhum padre Guido naquela congregação. O senhor Giovanny Versati ficou estarrecido com o fato e disse que jamais aquela escola, que buscava formar moças para a vida religiosa, saia recrutando jovens pelas fazendas, essas jovens chegavam até a igreja de duas formas: pela mão dos pais ou pela orfandade.

_Porém pela descrição que me fazem desse tal Guido... fez uma pequena pausa como a buscar na memória algo e continuou dizendo...

_ Combina com um homem muito ferido que chegou aqui e que foi por nós socorrido. Ficou aqui conosco por um tempo, mas logo percebemos que sua presença não era salutar para as nossas jovens e então notei com tristeza que duas jovens órfãs que havíamos abrigado aqui estavam envolvidas por ele. Assim tomei a decisão de mandá-lo embora, mas na noite em que ele partiu as duas jovens desapareceram. Buscamos as autoridades, mas elas não quiseram fazer muito pelas meninas, pois elas não tinham família então ficamos com as mãos atadas.

_Como!! Como isso pode acontecer! Eu estou sozinho no mundo, tudo me foi tirado... E não conseguindo mas vencer as lágrimas deixou-as rolar em abundancia.

Alfred condóia-se por Gerald pela primeira vez, senti que ele era sincero.

_ Eu gostaria que as meninas fossem enterradas aqui. Disse Gerald.

_ Tudo bem! Concordou Giovanny.

E, todas as providências foram tomadas e após o sepultamento Gerald colhido pelas fortes emoções desfaleceu diante de todos.

Giovanny determinou que Alfred os ajudasse cuidando do senhor Gerald. Não permitindo assim, que nenhuma das irmãs fizessem a sua higiene pessoal, depois de muitos dias e algumas semanas ele se recuperou e ao tomar ciencia de todos os cuidados que Alfred lhe dedicou se encheu de orgulho e gratidão e perguntou ao jovem o que ele gostaria de fazer.

_ Eu gostaria de ficar aqui e seguir o sacerdócio.

_ Eu falarei com o padre Giovanny. Garantiu Gerald.

Em conversa reservada com o padre descobriu que Alfred não poderia ser padre uma vez que este era negro. Mas Gerald insistiu e disse que pagaria para que o menino fosse instruído pelo padre e recebesse a formação cristã, mesmo que mais tarde não pudesse exercê-la.

Então o padre concordou em instruir o jovem Alfred na doutrina cristã.

Dois dias depois Gerald partiu garantindo a Alfred, que contaria ao seu pai sobre o ocorrido e pediria a ele para vir visita-lo em breve.

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A compaixão é um dos mais nobres sentimentos do ser, pois nos dá a verdadeira dimensão das necessidades humanas, e na medida em que nos compadecemos atendemos o outro como irmão.