Cap. XXXII O Poder do Perdão: A barba

Depois de se despedirem de Samuel, Rudy seguiu com Reymond, Alfred e Sam e os demais homens seguiram caminhos distintos.

Os quatro homens (em verdade dois homens e dois meninos) cavalgaram por três meses, sem nenhum incidente e Sam melhorou gradativamente à medida que se aproximavam de casa. Rudy sentia imensa angustia, pensava no que ia fazer, o que ia dizer, ia ou não acabar com toda aquela mentira, envolto em seus pensamentos não percebeu que se aproximava da porteira da fazenda e assim em poucos minutos foi despertado pelo barulho da festa feita por Eleanor e Joseph para os amigos que chegavam os meninos Reymond e Alfred, açoitando os cavalos dispararam em direção dos dois.

Gerald que de longe observava aquela folia não gostou e chamou Pollyanna para que repreendesse duramente Eleanor e Joseph. Mas ela também se sentiu feliz com a chegada dos pequenos, mas para não se chocar com Gerald disse que o faria mais tarde, e assim tudo se aquietou.

Sam e Rudy passaram direto para o celeiro, onde pretendiam descansar um pouco.

Rudy tomou um banho e logo após resolveu fazer a barba, que já o incomodava bastante pelo tempo e pelo seu tamanho. Enquanto fazia a barba não percebe o olhar curioso e espantado de Sam ao ver o seu rosto limpo. Rudy vira-se ao ouvir um barulho era Sam, que havia tropeçado nos arreios enquanto se afastava de ré, como quem não quer acreditar no que os olhos vêem.

_Meu Deus! É o Senhor Joseph?

_Sim, sou eu mesmo Sam. Responde Joseph percebendo a impossibilidade de continuar mentindo.

E, assim em algumas horas Joseph conta tudo o que sabia e tudo o que lhe acontecera até aquele momento. Sam fica indignado e Joseph tem que conte-lo para que este não cometa nenhuma besteira.

Enquanto isso lá fora os meninos estavam numa conversa animada. E Gerald continuava importunando Pollyanna para que ela fosse chamar os filhos e assim ela não teve outra opção a não ser ir ver onde estes estavam e a passos largos logo se encontrava dentro do celeiro e assim que Sam a percebeu com os olhos se pôs de pé para saúdá-la neste momento Joseph se vira e os seus olhos se encontram por um prevê instante antes que Pollyanna caia desmaiada ao chão.

Joseph e Sam correm em seu socorro, depois de alguns instantes ela reabre os olhos e fala.

_Joseph, eu tinha certeza que quando eu morresse você viria me buscar.

_Pollyanna minha amada é claro que eu jamais a deixaria, mas nós não estamos mortos.

Pollyanna meia sem entender direto olhou em volta e viu Sam e todo o celeiro, achando que seus olhos lhe pregavam uma peça pergunta.

_É Joseph Porter meu marido a muito dado como morto?

_Sim sou eu mesmo.

_Mas como pode nos deixar acreditar que estivesse morto? E em lágrimas enrosca seus braços ao pescoço do marido muito amado.

_Eu não pude voltar. Explica Joseph assim que consegue uma chance, afinal ele também esperou durante anos por aqueles beijos e abraços e tudo que ele menos queria era conversar.

Depois de um tempo, em que choraram, se abraçaram e se beijaram, Joseph contou toda a verdade para Pollyanna, e ela lhe contou tudo o que havia acontecido, desde que ele fora dado como morto, ambos compreenderam o que se passara então.

Despertos por um tiro Joseph e Pollyanna correram para fora do celeiro, onde encontraram Sam e os meninos, que disseram que o tiro havia sido disparado por Gerald, que matou o cavalo que havia derrubado Eleanor e que ela estava bem apesar da queda, mas que Gerald procurava pela esposa, e assim Pollyanna e Joseph compreenderam que o confronto com aquele homem doente da alma não seria apropriado, eles ficaram de se ver no dia seguinte para saber o que fariam, uma coisa os dois sabiam não ficariam mais separados.

Nos dias que se seguem Pollyanna evita um contato com o marido, deixando Gerald profundamente preocupado e perturbado, pois este vivia sonhando com Joseph e nos seus sonhos este lhe dizia que iria levar sua família para bem longe dele.

Pollyanna e Joseph se encontravam sempre que possível a fim de combinarem a sua fuga e a de seus filhos, eles iriam embora para junto de Samuel, começaria uma vida simples e longe daquele homem tão perigoso. Joseph pensava que assim sua família estaria protegida e ele jamais a deixaria novamente.

Acreditava que assim que Samuel soubesse de toda a história não se negaria a ajuda-los e ele poderia trabalhar e estar com sua família, matar Gerald não lhe era uma opção naquele momento de sua vida, onde a única coisa que desejava era proteger os seus de um louco e perigoso homem.

Depois de um mês de preparativos, onde até Sam se empenhava em ajudar, Joseph esperava por Pollyanna para combinarem como contariam para as crianças. Gerald desconfiado e atormentado esperava que Pollyanna saísse para o seu passeio a fim de segui-la para descobrir aonde ia, ou se por acaso estaria com alguém e assim que ela saiu, Gerald a seguiu de perto, mas sempre cauteloso, pois não queria que ela desconfiasse dele.

Assim que ela entrou no celeiro, Gerald procurou um buraco ou uma janela na qual pudesse lhe observar os passos lá dentro, logo encontrou uma fresta pela qual lhe viu abraçada a um homem, não identificou o homem, mas agora sabia o porque de sua indiferença e assim foi até em casa e pegou um de seus revolveres e voltou a fim de eliminar mais um obstáculo a sua felicidade e depois ele reconquistaria o seu amor e tudo ficaria bem de novo. Joseph que estava conversando com Reymond viu quando Gerald passou por eles visivelmente transtornado e o seguiu, viu sua mãe que saia do celeiro e em seguida viu entrar no celeiro Gerald e logo pode ouvir o estampido seco da arma e sem conseguir reagir ficou ali parado observando o que acontecia e logo viu as labaredas de fogo, que lambiam as paredes do celeiro e só naquele momento viu que sua mãe voltava correndo e gritando o nome de seu pai falecido, Gerald que já estava do lado de fora não conseguiu segura-la e Pollyanna adentrou o celeiro correndo e gritando até ser silenciada por uma viga que despencou do telhado e a matou.

Gerald vendo a sua amada entrar no celeiro em chamas fica um tempo imóvel e depois entra correndo e gritando atrás dela, mas não consegue acha-la no meio da fumaça e desmaia.

O menino Joseph que observava a tudo correu para socorrer a mãe, ao entrar no celeiro ele encontrou Gerald caído e o levou para fora e voltando novamente para dentro do celeiro, onde viu dois corpos começando a queimar ao ver que um deles se debatia correu em sua direção, mas nesse instante todo o telhado veio ao chão e o menino corajoso terminava ali sua existência, com a certeza do dever cumprido.

Nesse momento todos já estavam carregando baldes e pás de arreia para fazer com que o fogo parasse, Reymond que não seguira o amigo agora chorava a sua morte e via a tristeza no rosto de todos.

Sam compreendeu que alguma coisa havia acontecido com Joseph e que de alguma forma Gerald ficara sabendo o que estava acontecendo entre ele e dona Pollyanna. Ele havia sido testemunha do socorro dado pelo menino a Gerald, mas não entendia porque o menino havia voltado, mas quando Gerald acordou e gritou por Pollyanna então todos que estavam ali compreenderam a extensão daquelas perdas.

Quando o fogo foi controlado pode-se ver três corpos e então Sam pode finalmente compreender a verdade.

Gerald gritava enlouquecido que um louco havia levado a sua mulher e isso foi o suficiente para que Sam entendesse o que se passara ali.

Gerald já em seu quarto sedado revia os momentos torturantes que haviam acabado de ocorrer, ele atirou num homem pelas costas e agora se perguntava se aquele homem era Joseph Porter e tentando levantar-se da cama foi impedido por Eleanor e Anne Mary, que nunca se havia parecido tanto com Pollyanna como agora, com certeza esse seria o seu castigo conviver com suas enteadas até morrer. Isso lhe seria com certeza uma tortura.

Depois de alguns dias Gerald quis saber quem era o homem que estava no celeiro e então ficou sabendo que se tratava de Rudy, o homem que havia chegado com Samuel, ele não entendia nada, será que Pollyanna estava sendo enganada por este homem, pois ela entrara aos berros no celeiro chamando por Joseph Porter, ou ele seria Joseph? Para essas indagações não possuía resposta e o menino, onde estava o menino?

Reymond foi chamado para conversar com Gerald.

Reymond conta a Gerald como conheceu Rudy e nesse instante ele compreendeu tudo, claro que Reymond omitiu conhecer a identidade de Joseph Porter.

Reymond disse que sentia muito por dona Pollyanna e pelo menino Joseph.

_ Como disse? Balbuciou Gerald.

_ O senhor não sabe, foi ele quem lhe salvou das chamas, mas ele não teve a mesma sorte e morreu ao tentar salvar a mãe ou Rudy.

Gerald pediu para que o menino saísse e começou a chorar copiosamente e se lembrou de tudo que a velha cigana Gina, aquela espanhola maldita que havia morado na fazenda dos Harts.

Longo que Elizabeth morreu e ele ficara noivo de Pollyanna ele foi procurá-la, pois se lembrara do que Elizabeth lhe disse antes dele romper o casamento.

_Ola! Gina...

_Eu já sei por que veio aqui. Quer saber se seu casamento vai ser feliz.

_Não, você roubou a vida de outra pessoa, e essa pessoa voltara para pegar sua vida de volta.

_Os mortos não voltam Gina.

_Mas, ele não está morto. Você vai viver muito tempo sozinho e a solidão e o remorso serão os seus amigos de infortúnio.

_Você vive só. Ficou aqui por bondade de outros enquanto o seu grupo seguiu por ai. O que fez você para estar só?

_Quer mesmo saber?

_Quero! Disse ele com um pouco de ironia.

_Enterrei minha família nesta terra e pedi ao senhor Hart que me permitisse ficar e ele deixou, estou resgatando uma divida e sempre que posso ajudo alguém e estou lhe dando um conselho de graça não vá adiante com esse seu plano de se casar com a senhora Porter, pois isso será sua perdição.

_O que você sabe? Disse Gerald gritando e agarrando a velha cigana. Ao ouvir a referencia a sua futura esposa, ele achou que Gina pudesse saber mais do que estava dizendo. Quem lhe contou que vou me casar com a senhora Porter? Você deve parar de inventar histórias ou eu mando alguém aqui para acabar com você, estamos entendido?

_O que significa isso? Perguntou o senhor Hart, que estava na redondeza e ouvira vozes altas vindas de dentro da casa de Gina e então descendo do cavalo adentrou a pequena choupana. E ficou assustado ao ver o seu ex-genro levantando Gina no ar.

Gerald soltou a no chão e saiu, mas ainda pode ouvir Gina dizer que não estava acontecendo nada para o senhor Hart, que ficou olhando Gerald se afastar com uma feição de raiva.

Gerald fora informado dias depois que Gina havia morrido de morte natural e que o senhor Hart mandou celebrar um culto pela sua morte.

Será que o homem que estava com Pollyanna era mesmo Joseph Porter, só poderia ser! Pollyanna não era leviana. Esses pensamentos o atormentavam. Dormia e tinha pesadelos e por alguns instantes pensava como sua vida poderia ter sido diferente se ele tivesse seguido outro rumo.

Os dias passaram e se tornaram semanas e as semanas meses, e todas as vezes que ele se encontrava com as meninas Anne Marie e Eleanor lhe era uma verdadeira tortura. Ele pensava em mandá-las para a Europa para estudarem ou então para um convento, existia um em um condado próximo, mas ele não teria coragem para levá-las até lá, foi então que chegou a fazenda um padre, que se dizia um missionário a recolher jovens de pequenas cidades e algumas fazendas para o trabalho de servas do senhor.

***

O mal sempre retorna a sua origem. E o mal é sempre a ignorância.