Cap. XXXI O Poder do Perdão: A verdade
Com o passar dos dias Reymond e Alfred tornam-se amigos e juntos brincavam com Joseph e Eleanor, que achava graça dos meninos, enquanto isso Rudy e Sam se tornavam cada vez mais amigos.
Samuel viajou e encarregou Rudy de separar o gado e reunir uma comitiva para ajudá-lo a levar o gado até a fazenda de Samuel e assim seguiram os preparativos para a empreitada.
Rudy convidou Sam para ir com ele, e este foi até Gerald solicitar a permissão, Gerald concedeu concluindo que era bom ele ter alguém de sua propriedade para garantir a segurança do gado, uma vez que ele jamais havia falado com Rudy.
Depois de tudo acertado Rudy se despediu do proprietário com um aceno de mão a distância, sem trocar com ele uma única palavra no dia seguinte seguiram viagem para a fazenda de Samuel.
Durante a noite Rudy saiu dos estábulos e seguiu para a casa grande a fim de se despedir de sua esposa, pois não sabia se a veria novamente, foi quando se deteve ao perceber duas crianças se despedindo ternamente era Eleanor e o menino Reymond, parou por uns instantes e viu quando a menina voltou correndo e abraçou a mãe, que a aguardava nas escadas, soluçando e dizendo:
_ Não verei mais o meu amigo, mamãe?
_ Sim, verá Eleanor! Mamãe sempre encontra o papai durante o sono? Se você não o ver mais, pode pedir a Deus que ele lhe permita vê-lo em sonho.
E assim Pollyanna enxugou as lágrimas da pequena Eleanor, agora já com 11 anos e Joseph no mato chorou sem consolo. Ele tinha que voltar e dizer-lhe toda a verdade, ela o amava e ele sabia que ela lhe era fiel e que Gerald havia lhe roubado tudo e que ele queria tudo de volta: seus filhos, sua esposa, seu lar, tudo. Mas no momento havia um compromisso a ser cumprido e era preciso achar um lugar seguro para eles.
Antes que o dia clareasse, partiram: Rudy, Reymond, Alfred, Sam e mais quatro homens. Eles estavam levando 1500 cabeças de gado e o percurso seria tranqüilo, pois eles não teriam que passar por nenhum território indígena.
Durante a viagem houve apenas um incidente, que fez com que todos os homens respeitassem muito a liderança de Rudy e que confiassem a ele as suas vidas.
Isso ocorreu no último acampamento levantado pelos homens antes de sua chegada à fazenda de Samuel, ao limpar o terreno para jogarem o forro a fim de descansar o esqueleto dolorido, Sam que já havia tirado as botas balança com a ponta do pé uma pequena moita e é picado no dedão ao baixar-se para ver o que o picou recebe outra picada na perna sobre as vestes de couro imediatamente grita de pavor e de medo da morte que com certeza já lhe chamava.
Rudy notando o desespero do companheiro corre e puxa um facão com o qual corta a cobra ao meio saca de outro facão e decepa o dedão do pé de Sam, este imóvel diz que ela também lhe atingiu a perna, mas já temeroso de como Rudy resolveria o problema.
_Onde? Onde ela picou? Pergunta Rudy aflito.
_ Aqui! Aponta Sam.
Rudy com uma faca rasga as veste de Sam e corta em cima da picada e suga com a própria boca o sangue jogando-o longe, faz um torniquete e continua sugando ainda, por alguns segundos mais e então diz:
_ Espero que você viva por que se não terei sugando sangue envenenado de graça e você vai ter que entrar no céu sem um dedo.
_ Assim espero. Diz Sam emocionado. Afinal eu também tenho um filho para criar.
E Alfred como quem acorda de um pesadelo corre e abraça o pai e Reymond se sentia orgulhoso com a ação de Rudy.
Os homens ficaram admirados da coragem de Rudy e muito felizes, pois se ele tivera a coragem para sugar o sangue de um negro ele com certeza faria muito mais por eles, que eram de sua própria raça.
E assim Rudy conseguiu o respeito e amizade incondicional de Sam.
Na manhã seguinte, todos montaram em seus cavalos e seguiram viagem e foi quando Sam contou um pouco de sua vida.
Os quatro homens cavalgavam no mesmo trotar e quando pararam para almoçar e descansar um pouco, pois pretendiam cavalgar a noite, pois era lua cheia e evitaria assim que Sam expôs-se demais ao sol.
Os quatro homens sentaram-se próximos e então Sam começou a falar.
_Durante toda a minha vida eu só chorei três vezes: a primeira foi quando perdi minha mulher e vi meu filho nascer órfão de mãe (neste momento Alfred encosta-se ao pai); a segunda quando sob da morte do senhor Joseph Porter (Joseph – Rudy sentiu-se profundamente tocado pelo carinho que aquele homem, que mesmo tendo sido escravo lhe tinha consideração) e a terceira quando vi um homem branco se importar com a minha vida a ponto de sugar o sangue de um negro como eu.
Antes que Rudy pudesse falar, Reymond que a tudo ouvia com atenção questiona e os homens que se encontravam meio indiferentes, agora já estavam todos prestando atenção.
_ Não entendo só por que é negro tem que morrer? Pergunta o pequeno.
Os homens se entreolharam e ficaram na expectativa da resposta de Rudy. Sam e Alfred também sentiam uma grande emoção naquele momento.
_ Na bíblia diz que todos nós somos irmãos e no meu entendimento todos quer dizer brancos e negros, pois o sangue que corre em tuas veias é da mesma cor do meu e de todos os outros, somos como homens que chegam de lugares diferentes, um é o fazendeiro sempre limpo e arrumado o outro é o empregado sempre sujo e com as vestes rasgadas e encardidas pela sujeira de um dia de trabalho, mas ao tiramos a roupa somos todos apenas homens. E acredito que Deus vai nos julgar por tudo que somos e fizermos e não só pela roupa.
_ É, pai parece que tem lógica, e se a gente não quiser acreditar nisso a gente já até sabe para aonde a gente vai, não é? Diz Reymond para a risada de todos.
Todos os homens riam da simplicidade daquela verdade e principalmente porque todos estavam sujos e rasgados.
Então quando a noite caiu os homens levantaram e seguiram viagem, agora tendo por guia e companheira a lua, que cheia como estava fazia o caminho se iluminar como se fosse dia, apesar da febre e dos calafrios Sam seguia firme.
Depois de quatro meses de estrada chegaram a fazenda de Samuel, que os recebeu bem e que os recompensou regiamente.
Samuel pediu a Rudy que ficasse trabalhando ali com ele, mas Rudy rejeitou dizendo que não poderia uma vez que Sam estava ferido e que ele deveria levá-lo de volta, pois ele e o menino não poderiam voltar sozinhos, seria muito perigoso, por causa dos ursos e das cobras.
Então Samuel disse que ficaria esperando o seu retorno e assim em poucos dias os quatro homens se preparavam para voltar para a fazenda de Gerald.
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Somos todos irmãos é isso é uma verdade incontestável.