Cap. XVII O Poder do Perdão: O dia seguinte
Lucas saiu da casa de Júlia e Carlos, profundamente impressionado com aquela mulher e naquela noite não conseguiu conciliar o sono, pois o remorso o corroia.
No dia seguinte tomou a decisão de ir novamente até aquela casa e contar tudo a Júlia. Tomou o café e partiu do hotel até a mansão disposto a acabar com toda aquela farsa.
Parou em frente à mansão e esperou que Carlos saísse, logo em seguida aproximou-se do portão para se fazer anunciar.
Maria chamou Júlia que estava no quarto de Lucas, onde este sempre esperava a mãe para os primeiros cumprimentos do dia e a prece matinal, apesar de seus quatro anos de idade, esse capricho amoroso sua mãe fazia questão de cumprir a risca.
Júlia que já havia beijado, abraçado e realizado com o filho a prece lhe deixa aos cuidados de Maria, que vai lhe providenciar as vestes para o banho da manhã, enquanto ela descia para atender o visitante inesperado.
Na sala Lucas (o médico) andava de um lado para o outro pensando como lhe contaria tudo.
_ Bom dia, meu caro doutor a que devo a honra de vossa presença em minha casa?
_ Desculpe por não avisa-la previamente, mas é que eu gostaria de conversar com a senhora em particular.
_ Mas, por quê? Indagou Júlia querendo saber a natureza da conversa.
_ Ontem o seu marido não me deixou contar-lhe toda a verdade sobre a venda da clinica... Parou uns instantes como a sondar a curiosidade de Júlia.
_ Bem, meu caro doutor se sente à necessidade de se expressar com relação a este assunto pode fazê-lo mais duvido que possa acrescentar algo diferente a essa história. Júlia sinceramente acreditava que aquele homem apenas precisava falar e ela como sempre ouviria lhe as queixas, sem criticá-lo, tentando ajuda-lo uma vez que lhe percebia extremamente ansioso e emocionado.
_ Dona Júlia eu preparei uma cilada para que o meu amigo me vendesse a clinica, uma vez que ele faria qualquer coisa para trazê-la para São Paulo, pois a senhora se encontrava doente.
_ Mas... Pensava Júlia agora nos imensos sacrifícios que o marido havia feito na tentativa de reestabelecer-lhe a memória.
_ Posso continuar? Perguntou Lucas.
_ Sim. Assentiu com um menear de cabeça.
_ Pois bem. Ele ficou doido com a sua doença e eu percebi a oportunidade de me tornar proprietário da Clínica então fiz lhe uma proposta irrisória pela clinica e ele aceitou, me tornei dono da clinica e fiquei atormentado pela culpa...
Antes que Lucas pudesse completar a sua história, Julia interrompeu dizendo:
_ Não há com o que se atormentar afinal o meu marido em um momento difícil fez uma escolha, da qual pelo visto ele não se arrepende, pois nunca mencionou o fato nem lhe atribuiu qualquer desmerecimento a sua pessoa ou atitude que tenha tomado em qualquer época de nossas vidas, mostrando assim que nunca lhe quisera mal. Portanto não se atormente, considero que sua atitude não tenha sido correta, mas acredito que possas reparar isso atendendo melhor seus pacientes ou atendendo gratuitamente pessoas que não possam pagar pelo tratamento, nós não nos sentimos lesados, mas se há em vós este sentimento podeis fazer para outrem ou até mesmo conversar de forma franca com Carlos, que duvido muito que lhe tenha algum desafeto.
Lucas ia continuar a conversa quando desce as escadas em desembalada corrida o pequeno Lucas, todo sorridente e arrumado para despencar no colo de Júlia que o envolve em um grande abraço. Em seguida aponta para o doutor e lhe diz:
_ Não vai cumprimentar o nosso visitante é seu chara?
_ Bom dia! Eu me chamo Lucas, o senhor também?
_ Sim. Diz Lucas percebendo agora que não poderia lhe contar nada uma vez que isso iria destruir aquela criança.
_ O Lucas é um raio de luz em nossas vidas, pois como o senhor deve saber nunca recuperei a memória, vivo das lembranças que adquiri depois dessa tragédia que vivemos.
Lucas percebendo o erro despede-se de todos e diz ao pequeno Lucas:
_ Você sabia que você se parece comigo?
_ É mesmo. Diz Júlia meneando com a cabeça. Percebendo naqueles instantes alguns traços comuns aqueles dois, sobe-lhe um frio na espinha ao pensar na possibilidade do pequeno Lucas ser filho daquele homem e então lhe pergunta quase num automatismo:
_Quantos anos teria o seu filho, hoje?
_ Ele teria a idade do seu.
_ E onde está ele? Pergunta o pequeno Lucas.
_ Com Deus, eu acho? Uns homens levaram-no para longe de mim.
_ O senhor conhece a minha história doutor? Disse Lucas.
_ Não, não conheço.
_ O senhor poderia vir aqui amanhã e poderíamos conversar, eu, o senhor e minha mãe?
_ Sim, obrigada!
_ Eu vou lhe contar como cheguei aqui moço! Exclamou Lucas sorrindo.
E assim o doutor desceu rapidamente as escadas, enquanto Júlia e Lucas se abraçavam.
***
A verdade sempre há de vir à tona. “...porque não há nada de secreto que não deva ser descoberto, nem nada de oculto que não deva ser conhecido e manifestar-se publicamente.” (São Lucas Capitulo VIII).