Cap. XVI O Poder do Perdão: O destino de Lucas e a viagem a São Paulo
Materialmente as coisas iam bem, pois a Clínica nunca havia feito tanto dinheiro, mas este se tornava sem valor, pois não tinha com quem dividi-lo nem por quem conquista-lo.
Às vezes gastava verdadeiras fortunas em noitadas com mulheres e pessoas que se compraziam com o desperdício.
Com essa vida desregrada logo despertou interesse de uma jovem chamada Lisa acostumada com a vida fácil, logo percebeu uma chance para se aposentar bem. Envolveu-o com o seu charme e depois de alguns meses estavam casados, apesar de seus desregramentos. Lisa procurou logo por fim aqueles gastos exorbitantes e aquela atividade noturna não muito saudável.
Com Lucas mais sóbrio e com Lisa o envolvendo de forma mais salutar a vida de casado não lhe parecia tão ruim.
Lisa logo passou a controlar toda a clinica e o seu faturamento, Lucas se sentia totalmente envolvido por aquela mulher e não dava ouvido a nenhum dos seus amigos.
Lisa parecia até se apaixonar por ele, mas apesar de achá-lo um bom homem não o considerava o companheiro de sua vida, mas por hora se contentava em tê-lo por esposo.
Mas o tempo é o remédio para todas as dores e um reformulador de opiniões. E o tempo passou.
Lisa se envolveu com o trabalho na clinica e com o trabalho social desenvolvido ainda quando Carlos era o dono, que atendia a crianças com câncer.
Com o passar dos dias ela estava cada vez mais envolvida com essas crianças, suas histórias, sua vida e foi aos poucos trazendo o entusiasmo daquele trabalho para si e para o seu lar, como a sua única família era o marido foi se tornando cada vez mais apegada a ele, e aquele homem que lhe parecia um baú agora lhe era o companheiro muito amável com o qual ela pretendia dividir sua vida.
Lisa sente-se cada vez mais próxima de Lucas e desejosa de constituir com ele uma família e esse desejo é compartilhado com o esposo, mas esse receoso de ser novamente surpreendido pelo destino, diz que não quer ser pai novamente. Mas ele promete pensar sobre o assunto quanto vê a decepção nos olhos da esposa.
Dias depois...
Lucas vai a São Paulo para um encontro médico, ao chegar no local do evento deparasse com Carlos que lhe convida para jantar mais tarde em sua casa acreditando que esse não aceitaria, mas Lucas aceita e comparece na hora marcada.
Na hora do jantar a campainha da porta soa anunciando uma visita que Carlos acharia melhor se manter longe dele.
Maria atende a porta e conduz o visitante para a sala de jantar, onde já estão todos à mesa, para a qual ele é convidado a sentar-se.
_ Boa Noite! Diz Júlia em tom sorridente e aproximando senta-se também a mesa.
_ Este é o doutor Lucas, que veio nos visitar. Diz Carlos.
_ E está é minha esposa...
_ Não diga: é Ângela!
_ Não sou Júlia! Diz Ângela sem entender nada.
_ Por que achou que eu me chamava Ângela?
_ Por que você se parece com ela.
_ Então o senhor conheceu essa famosa Ângela?
_ Sim...
_ Mas o que o traz a São Paulo nos dias de hoje? Interrompe Carlos.
Júlia percebendo que o esposo gostaria de dar outro encaminhamento a conversa calou-se.
_ Eu vim para o encontro e para rever velhos amigos afinal você nunca mais voltou, não quis mais visitar os amigos, nem quis saber como a clinica ia? Falava Lucas.
_ Não quero saber dessas coisas! E tentando mudar o assunto novamente perguntou:
_ Fale-me sobre sua vida?
_ Não soube então de minha tragédia, contei a minha esposa como adquiri de você a clinica e ela quase me matou.
_ Mas, por quê? Perguntou Júlia querendo entender aquela conversa.
_ Então o seu marido não lhe contou. Ironizou Lucas.
_ Pare com essa palhaçada Lucas, eu vendi a clinica porque quis e ponto. Vamos falar sobre outra coisa: a família!
_ Não sabe? Perdi. Meu filho foi raptado e minha esposa enlouqueceu matando-se alguns meses depois.
_ Mas que tragédia? E seu filho o senhor o encontrou?
_ Não. Lucas percebeu a sinceridade daquela mulher e percebeu que ela não conhecia mesmo a verdade. Sentiu-se envergonhado, pois ele havia sido parte integrante naquele plano que lhe tirou do convívio de sua família. Por instantes pensou em lhe contar toda a verdade.
Carlos estava angustiado e desejava que aquilo acabasse logo.
_ Meu caro doutor sinto pelas suas perdas, mas tenho certeza que na vida nada nos é cobrado quando não devemos ou se Deus não nos acha capaz de suportar, tenho certeza que muito em breve o Senhor vai lhe premiar pela coragem de resistir e enfrentar tamanha dor. Disse Júlia consoladora.
_ Sim... Sim... Balbuciou Lucas lembrando-se do sonho. Desculpe-me mais preciso ir.
Sem que ninguém pudesse demovê-lo de seu propósito Lucas levantou e saiu emocionado.
Sem entender nada Júlia atribuiu aquela atitude à dor que ele deveria sentir pela perda de sua família.
Ao sair Lucas esbarou-se em José, que o reconheceu imediatamente e sentiu o coração palpitar.
***
Deus em sua infinita misericórdia sempre nos reúne a todos (devedores e credores) para que possamos reparar as nossas dividas.
O tempo é um medicamento salutar para as reformas que devemos realizar.
E para os entediados as atividades mais simples são os primeiros passos da recuperação do ser, transformando-o em um trabalhador da Seara do Senhor.