Cap. IX do Livro O Poder do Perdão: A mentira
Júlia estava disposta a ter um filho ou filha, então resolveu consultar um médico, indicado pela sogra, que ansiava por um neto e que muitas das vezes acreditava naquela mentira, que todos estavam vivendo.
Carlos quis acompanhá-la, mas teve medo, pois ele já sabia que ela não poderia ter filhos, pois ela havia feito uma ligadura depois de sua segunda filha. Ele ficou pensando que história lhe contaria.
Júlia adentrou o consultório do Dr. José Molina, conduzida pela atendente após os exames, ele lhe perguntou:
_O que ela queria? Pois sua saúde é invejável, seu útero está lindo, muito bom mesmo. Daria até para ter mais uns dez filhos! Exclamou o médico em tom de brincadeira. Após a examinar.
_ É exatamente o que quero ter um filho! Disse Júlia.
_ Então a senhora quer que eu desfaça a sua ligadura?
_ Que ligadura? Naquele momento sua cabeça pesava, seu corpo começava a tremer sem parar e seus pensamentos eram desorganizados.
Sem perceber o mal estar da sua paciente continuou o médico:
_ Essa operação e a ligadura da senhora são muito modernas, o médico que a fez deve ser muito bom, pois ela não é vertical como as que costumo fazer, quase não há marcas, mas é possível sentir os pontos quando tocamos com....
_ Dout... Balbuciou Júlia antes de desmaiar.
_ Senhora! Correu o médico para socorrê-la.
Após alguns minutos, o médico pediu para informar a família, que a levou para casa, onde todos esperavam que ela acordasse, nesse período eles combinaram a história, que iriam lhe contar.
Quando Júlia acordou Carlos estava ao seu lado.
_ Era por isso que você não queria que eu fosse ao médico? Por que você não me contou? O que eu fiz comigo? Como poderei ter filhos, agora? Por que Deus?!
Por um momento Carlos teve vontade de desistir de tudo, mas prosseguiu com sua história.
_ Nós tivemos um filho, você queria um só, para que pudéssemos dar atenção, amor e para que nada lhe faltasse, então solicitamos ao médico a cesariana e a ligadura, só que o nosso filho não sobreviveu nem por 24 horas.
_ Para que nada lhe faltasse com o tanto de dinheiro que temos? Não posso ter sido tão imbecil assim. Júlia estava revoltada, pois adorava crianças e não poderia tê-las. Como Deus pudera fazer isso com ela? Como Deus era ruim? Que Deus é esse? Estava indignada com Deus.
Nos dias que se seguiram Júlia esteve amarga e triste, parecia que o mundo havia desabado em sua cabeça e todos, que se aproximavam dela choravam.
Ela estava na biblioteca quando sua sogra entrou e após meia dúzia de palavras saiu enxugando as lágrimas.
Depois de algumas horas foi à vez de Maria, que já adentrou na biblioteca com os olhos vermelhos e após informá-la sobre o almoço saiu chorando do recinto.
Júlia queria morrer, estava doendo demais. Mas via todos sofrendo e apesar da sua dor não queria que eles sofressem também, sentia dentro dela uma certa misericórdia para com os sofrimentos alheios.
Foi então que seus olhos fitaram um livro, que estava quase escondido, em meio a livros maiores, ela levantou-se e o retirou da estante e leu: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de quem seria aquele livro?
Ao abrir a página seguinte leu a seguinte dedicatória:
“A minha amiga Clara
Com imenso amor e carinho, desejando que este lhe ajude a encontrar as respostas para as perguntas de sua vida, a fim de ajudá-la a viver melhor consigo mesma e com os outros.
Para amar verdadeiramente o Pai Celeste se faz necessário amar os nossos semelhantes como a nós mesmos.
Que Jesus nos ilumine em nossos caminhos, e que possamos reparar todos os nossos erros.
De quem muito te ama
Ângela.”
Júlia sentiu-se tocada por aquelas palavras e abriu a esmo o livro, escolhendo uma página, onde a mensagem era a seguinte: “Causas atuais das aflições”, que leu quase sem respirar, lendo em seguida “Causas anteriores das aflições” e em poucas horas havia devorado o capitulo do livro, se sentia leve e aliviada.
Ao sair da biblioteca com o livro em baixo do braço, disse a todos: _ É chegada à hora de voltarmos a sorrir! E se aproximando da sogra lhe mostrou com entusiasmo o livro, que lhe devolverá a vida.
Carlos estava tão triste com a situação de Júlia, que já pensava que tudo fosse um erro sem perdão, mas ao chegar a casa e vê-la mais corada e expressando alguma alegria, o seu pensamento tomou outro rumo.
À noite, Júlia começou a contar como havia achado o livro e como estava o seu estado de espírito naquele momento, ela tinha certeza que aquele livro era um presente de Deus e quando leu a dedicatória todos choraram copiosamente.
Júlia perguntou então quem era Ângela, mas ninguém lhe respondeu, como todos estavam emocionados não quis perguntar novamente.
Como Ângela havia nascido espírita, aqueles ensinamentos lhe calavam fundo na alma e lhe dava a compreensão exata de sua situação de devedora perante Deus e aqueles que a cercavam, passou assim a ajudá-los: amando-os e buscando sempre estar alegre ao lado deles.
***
É muito mais fácil responsabilizarmos Deus por nossos atos, do que admitir a nossa responsabilidade em tudo que nos ocorre. Lembremos sempre que quem conta uma mentira se vê sempre forçado a contar outras.