Cap. IV do Livro O Poder do Perdão: No aeroporto
No caminho para o aeroporto Carlos recomendou a Júlia, que ela se mantivesse discreta, justificando que seria para evitar o constrangimento de alguém a reconhecer sem que ela soubesse quem era, na verdade ele estava com um frio na barriga, só de pensar que alguém pudesse lhe reconhecer.
Ele pensava também nos documentos, pois teria que apresenta-los, esperava que eles lhe valessem cada centavo pago. Ele se dirigiu ao Box da Polícia Federal, onde não houve nenhum problema, estava tudo certo, agora era só entra no avião da família e partir. Então quando se virou em direção ao pessoal, que os espera em uma sala viu uma jovem conversando com Ângela seu coração disparou, andou o mais rápido que pode, ao se aproximar ouviu a jovem dizer:
_ A senhora parece-me tão familiar!
Ao que Júlia respondeu: - Eu devo ter cara de população.
Então todos riram.
_ Desculpe, eu realmente acho que a conheço, de algum lugar! E se afastou.
_ Eu acabei de descobrir outra coisa. Disse Júlia.
_ O que foi? Perguntaram todos ao mesmo tempo.
_ Sou famosa, pois essa é a segunda pessoa que me disse, só aqui neste aeroporto, que eu tenho um rosto familiar.
_ É, você com certeza é a nossa estrela. Disse Carlos.
Ao ouvir este comentário Júlia corou. Aquele homem sem dúvida a amava. Mas porque não se lembrava dele? O que havia acontecido para que ela esquece-se de tudo? Sentia-se tocada por aquele homem, pelo jeito que ele demonstrava o seu amor, mas ao mesmo tempo sentia um vazio dentro de si, como se lhe faltasse algo.
Dentro do avião, todos devidamente confortáveis, ele subiu e ela viu a cidade de cima. Júlia sentiu naquele momento uma vontade inexplicável de chorar, sentiu como se deixasse para trás algo que lhe fosse muito valioso.
Dona Lourdes vendo-a chorar se aproximou e lhe perguntou:
_ O que houve?
_ Não sei, apenas sinto uma dor no peito como se estivesse esquecendo algo muito importante e desatou a chorar.
_ Chore minha filha! Chore. Naquele momento dona Lourdes tomava consciência de que ela estava sofrendo por suas filhas e seu esposo. O que haveria ocorrido? Ela também pensava em seu filho, na sua felicidade e por alguns instantes permaneceu abraçada aquela jovem que ela amava, mas que com certeza estava destruindo também. Sentia se impossibilitada de decidir entre a felicidade daquela jovem e a de seu filho. Queria rezar para conciliar esses pensamentos, mas não conseguia concatenar as idéias com a prece, que com certeza seria lhe reconfortadora.
_ O que há? Perguntou Carlos, que agora se aproximava de seu assento.
_ Estou melancólica. Respondeu Júlia tentando se recompor.
_ Isso vai passar quando chegar em São Paulo. Disse Carlos buscando com os olhos a confirmação da mãe, que tinha os olhos marejados e angustiados.
_ Meneou a cabeça afirmativamente. Levantou-se e foi para o seu lugar, onde buscou a prece e o refazimento.
_ Veja a cidade! Apontou Carlos pela janela do avião as casinhas lá em baixo.
_ É bonito! Mas deve ser mais belo à noite, quando as luzes estão acessas.
_ É verdade! A noite fica tudo iluminado. A mão de Carlos deslizou sobre a poltrona procurando a mão de Júlia, que percebendo aproximação segurou-a, trazendo para junto do peito e depois a levantou, depositando nas costas da mão um pequeno ósculo.
_ Eu te amo! Disse em voz tremula Carlos, que agora tinha as mãos frias feito picolé.
_ Eu gosto de você, mas tenho certeza, que eu ainda vou amá-lo de novo. E vou disser um dia: Eu te amo! Com toda a sinceridade de minha alma, de todo o meu ser, obrigado, por esperar. Isso era verdade, pois Júlia procurava em tudo que aquele homem lhe fazia, um motivo para amá-lo, para descobrir o quanto o amava e por que não se lembrava.
_ Eu espero! Respondeu Carlos com emoção indizível.
Assim seguiram todos, envolvidos em seus pensamentos, em suas culpas, em suas esperanças de dias felizes.
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Como é difícil fazer o bem, quando esse bem significa abrir mão de nossa suposta felicidade. Mas não há acaso, nem erros, nem injustiça, pois Deus é sempre bom e justo e em tudo as suas leis imperam.