Reflexões

"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia. (Leon Tolstoi)."

Concordo. Mas mas há que se ter mente uma questão de ordem  filosófica e antropológica: a aldeia existe somente porque existe o mundo, e o mundo existe porque existem lugares - no sentido de Milton Santos - plurais, diversos em suas culturas, que existem redes de horizontalidades e de verticalidades construídas pelas relações humanas. Falam-se,  hoje, no planeta terra, mais de 7.000 línguas. E cada língua pode ser falada, com suas variações (dialetos) por várias nações em vários pontos da terra. Precipitados de diásporas, processos coloniais, deslocamentos forçados e coisas do tipo. É nessa relação especular, entre o local e o global que pulsamos! Se eu canto "minha" aldeia, é porque existem outras que não são "minhas", são diferentes, são "outras", outras nações, outros grupos, outros povos, além de diferenças como as de gênero, orientação sexual, etc...que podem levar a formação de "outras" tribos, inclusive as chamadas tribos urbanas. Entre o "eu" e o "outro", o "local" e o global" ocorrem relações dialéticas, num processo sinérgico sem par, sobretudo no mundo atual. É preciso esclarecer que não basta cantar a "minha aldeia" para ser universal. É necessário a consciência da diversidade sociocultural e, portanto, linguística, de classe, de gênero, etc...e, ao cantar a "minha aldeia" ter plena consciência de que ela existe  enquanto um precipitado de formas de ser e estar no mundo, múltiplas, diversas, especulares, sinérgicas...E remendaria o texto: "Se queres ser universal, canta tua aldeia, sem que te olvides da tensa relação entre o local e global! Sem deixar de sentir-te apenas um, entre tantos "outros". E que há diferenças, mas há também semelhanças, recorrências onde dormitam, quiças, os sentimentos atávicos. Edir
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 06/02/2010
Reeditado em 04/09/2020
Código do texto: T2073067
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