UM MOMENTO FELIZ
Jamais experimentarei sensação tão maravilhosa, instantes tão sublimes, momentos tão magníficos como aqueles que marcaram de maneira indelével o nascimento do meu primeiro filho, Cassio.
Antes, quando duas enfermeiras levaram minha mulher para a sala de parto, agonia imensa tomou conta do meu coração aflito. Um gosto estranho na boca, um sorriso pálido, a garganta seca, lábios inquietos, as faces descoradas, eu a vi desaparecer no carrinho por detrás de duas grandes portas.
Começou, então, o meu tormento. Minhas mãos apertavam-se, nervosas, procuravam os bolsos da roupa, endireitavam a gravata, acendiam cigarros e mais cigarros (*). Meus olhos luziam numa expectativa intensa, meu coração batucava, minhas pernas tremiam.
Súbito, um grito e logo um choro forte de criança. Saltei como felino do banco, agitadíssimo, informei-me de como poderia ver o garoto. Não sei explicar, mas tinha certeza de que era um menino.
Conduzido por alguém fui até ao berçário. Postei-me defronte à grande janela de vidro, quando, do outro lado, surgiu uma enfermeira com a criança nos braços!
Era guri, eu bem o sabia. Bochechudo, gordinho e careca! Tinha os meus traços. O meu primeiro filho! ...
A boca entreaberta num sorriso de paz, bêbado de admiração e contentamento indescritíveis, eu contemplava o garoto, agradecendo numa prece muda e ardente ao Senhor Deus meu por toda aquela enorme felicidade.
Duas lágrimas, timidamente, afloraram-se-me aos cantos dos olhos. A seguir, sem acanhamento, rolaram-me pela face umedecida de alegria. Meu coração transbordava! ...
Fiquei ali, estático, feliz, enormemente feliz. E lembro-me de ter dito apenas duas palavras quando o levaram de volta, cujas sílabas até hoje ressoam com agrado aos meus ouvidos:-
“- Meu filho!”
-o-o-o-o-o-
São Paulo, 21/12/66
Obs.- Redação de Português, exercício em classe do Prof. Abner Correa Laureano (Escola Técnica de Comércio de São Paulo). (*) Diga-se, à guiza de esclarecimento, que o autor jamais fumou em sua vida ! ...