As correntes adolescentes
Uma lei instituída em pequenas cidades do país e que vem se prolongando para outras tem causado certa polêmica e trazendo à tona conceitos de liberdade entre as pessoas mais jovens. Trata-se da proibição da permanência de jovens nas ruas após as onze da noite. Nisso, entram em combate duas opiniões contrastantes: a liberdade deles e a segurança das cidades. Há quem creia que medidas como o toque de recolher não passam de cortinas de fumaça que a justiça decide lançar quando problemas graves do país parecem não se solucionar. Contudo, além de diminuir significativamente o poder de expressão desses adolescentes, essas medidas adiam a contenção da violência e procuram excluir da vida das pessoas a fase onde eles mais erram e aprendem com isso.
Espera-se sempre que se criam normas como essas, aliviar o trabalho dos pais de controlar a permanência dos filhos dentro de casa, diminuir o índice de futuros drogados e alcoólatras. Porém, fazer das casas dos adolescentes verdadeiras prisões noturnas mostra claramente o baixo poder argumentativo da constituição para solucionar problemas graves, tomando medidas radicais e pouco inteligentes.
Uma vez que é negado o direito do jovem de ir e vir, estaremos criando uma futura sociedade de pessoas caladas, inexperientes e com baixa convivência social. Passar pela adolescência, fazer tudo errado é comum a qualquer ser humano. E privar de que os jovens dessa idade criem seu próprio mundo, escolham o que é certo e errado, definam seu caráter frente a situações desafiadoras, é dar voz ao extermínio declarado à juventude e revelar a intolerância a tudo que não seja absolutamente adulto.
Botar um fim a diversão gratuita, impor horários pela justiça e deixar que um regime autoritário trate de assuntos familiares está criando uma barreira preconceituosa entre pais e filhos, tornando-os cada vez mais distantes e incapazes de resolver seus conflitos dentro de casa. Isso demonstra como a lei tende cada vez mais se preocupar com conceitos morais do que com o extermínio definitivo da violência.
Acredita-se, então, que preocupar-se com as regras familiares ainda está longe do poder da justiça, que tomando decisões como essa estará afastando a confiabilidade do jovem e de todo país com as leis que circundam nossos dias e noites. É preciso ver que o despertar da juventude é algo muito mais distante de ordens e códigos morais e que para conter as atrocidades do dia-a-dia é preciso muito mais criatividade ao escrever leis proibitivas e sem fundamentos.