Com o pensamento historista e diltheyano, mundo humano é mar empírico da história desenvolvido num tecido emaranhado de história aonde nada é universal ou particular, no qual nenhum movimento ascende ou descende, regressa ou progressa: nesse mar não há dedução nem indução, mas a vida dada, demonstrada por si mesma –a vivência posteriormente desenvolvida em experiência vivida.

No mar empírico da história e em seu tecido emaranhado de história a que se convencionou chamar de realidade histórico-sócio-humana ou sociedade, a força e o movimento são de corso e ricorso, de sequência e recorrência, de fluxo e refluxo: é o que, entendendo a vida histórica das nações, conclui Giambattista Vico (1668-1744) em sua Ciência Nova.

Não se trata de ciclo, espiral, escada, círculo nem de níveis, dimensões, patamares ou camadas mas de tecido emaranhado, uma teia, uma rede de vivências e revivências históricas: é o que, compreendendo a vida por ela mesma, uma vivência e não um pensamento, conclui Guillermo Dilthey.

A seqüência e a recorrência viconianas correspondem, respectivamente, à compreensão diltheyana da lei de desenvolvimento, ou seja, aperfeiçoamento e diferenciação e da revivência histórica. Essa revivência histórica é o alfa e o ômega da racionalidade hermenêutica e não significa viver de novo o acontecido: "reviver é criar na linha do acontecer".

Na referência do pensamento judaico é a compreensão de que não há nada de novo debaixo do sol; na referência do pensamento socrático é a compreensão de que viver é reviver; na referência do pensamento junguiana é a compreensão de que a psique humana traz em si a sua história pré-humana e humana das raças. Em suma, passado é um conceito arbitrário: interpretando o pensamento de Dilthey, Parella registra que a vida é uma conexão de vivências na qual cada vivência particular vai adquirindo seu significado devido à sua posição na conexão total de vivências; nessa conexão de vivências tempo é a continuidade do presente que se faz passado e o futuro que se faz presente.

 A diferença fundamental entre os sistemas viconiano e diltheyano de história é que, para o primeiro, os mitos e as línguas dos povos são os instrumentos para entender o mundo das nações e, para o segundo, esse instrumento de compreensão do mundo histórico está nos sistemas culturais e nos sistemas de organização interna e externa da sociedade.


Se não nos esquecermos de que a Mitologia ou ciência que estuda os mitos e Lingüística são sistemas culturais, as diferenças conceptuais entre Vico e Dilthey não são substanciais.

História é o mar da empiria em que se realiza a vida no "curso do tempo e na simultaneidade"; Para Vico é tudo o que compõe o mundo civil ou das nações e para Dilthey é o que compõe o mundo da vida ou histórico.

Historismo (e não Historicismo), sistema criado por Guillermo Dilthey para superar o naturalismo, a filosofia da história e o (neo)kantismo, é a hermenêutica do espírito do tempo dentro do tecido emaranhado de história em que a vida se realiza no curso do tempo e na simultaneidade.

Espírito do tempo é fato histórico e refere-se ao novo objeto de investigação criado por Guillermo Dilthey com o qual institui o horizonte investigativo do historista.

Hermenêutica do espírito do tempo significa conhecimento, compreensão, interpretação, entendimento e esclarecimento do essencial e do necessário naquele mar da empiria tecido no emaranhado do sentir pensar querer humanos, num momento histórico definido e sua conexão com o espírito de todos os tempos.

A descrição analítica dos nexos do tecido emaranhado de história é historiografia.
 Historiografia é crítica filosófica da história, ou seja, a descrição analítico-crítica do que pessoas vão fazendo, pensando, querendo no curso do tempo e na simultaneidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DILTHEY, Wilhelm Guillermo. Crítica de la razón histórica. Barcelona: Península. 1986; p. 236, 280

PARELLA, Juan Roura. El Mundo historico social: ensayo sobre la morfologia de la cultura de Dilthey. México: Bblioteca de ensayos sociologicos/Instituto de investigaciones sociales/Universid Nacional. 1947









Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 22/01/2009
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