ETERNO PÉ DE GOIABA
Eu era criança. Sim, bem pequenino, e me lembro bem daquele pé de goiaba, onde meus irmãos, eu e minhas primas brincávamos. Era o nosso pé de goiaba preferido.
Não pertencia a meus pais; estava plantado no terreno de um vizinho que não fazia caso se brincássemos nele.
No nosso sítio, e isso não mudou, tinha uma espécie de planície – um lugar mais baixo que o nível da casa. Nós o chamávamos de brejo. Um riacho fazia o limite entre o nosso sítio e o terreno onde figurava a imponente e tão querida árvore.
Não contarei, embora sinta vontade, as boas lembranças que tenho do riacho e das vezes que lá ficávamos pegando peixinhos...
Pulávamos, então, o rio e rumávamos em direção ao pé de goiaba. Lá estava ele, como um atalho para o céu.
Talvez o leitor me pergunte: o que esse pé tinha de tão especial? Tudo, a começar pelo sabor de suas frutas. Não havia nada igual: as outras goiabas dos outros pés apodreciam rapidamente e, por isso, atraíam dezenas de bichos – besouros, ou outros insetos parecidos. Era horrível aqueles bichos tirando rasante na nossa nuca. As goiabas daquele pé eram muito adocicadas, nunca apodreciam. Nós as comíamos ainda verdes e mesmo assim eram saborosas.
Esse pé de goiaba de que falo, eu me lembro bem, tinha quatro galhos; cada qual, por sua vez, pertencia a uma criança. O interessante é que cada uma respeitava a outra, pelo menos enquanto juntas, não comendo do seu galho; depois, depois é outra história...
Daquele pé de goiaba nós olhávamos a rua, as pessoas passando..., as outras árvores, os pássaros. Chegávamos a sonhar com aquele pé de goiaba.
Ah! Tristeza!! Não queria contar isso. Mas não tenho escolha: tinha um medo; de que um dia cortassem a nossa goiabeira. Era mais uma predição que um medo. Triste dia! Mas eu era criança e precisava enfrentar situações daquele tipo.