Ali e outrora
É um fim de tarde nublado. Cai uma garoa fina. Na entrada da câmara municipal Hank encontra um camarada que fuma um cigarro de palha protegido pela marquise da fachada do prédio. Pede o isqueiro emprestado para acender sua cigarrilha e nesse ínterim antes de arrumar o colarinho da camisa e adentrar no prédio; fica sabendo que o projeto que o interessa será negado por obra de um advogado infeliz que argumentou ao presidente que o projeto de lei não é válido por uma vírgula errada na redação.
Senta à esquerda do auditório e espera o começo da sessão. Alguém fala alguma coisa em nome de Deus. Quase cochila enquanto alguns legisladores pedem um minuto de silêncio pela a tia-avó da cunhada da esposa, um velho vizinho que vendia pipoca na praça central e morreu aos oitenta e sete anos de idade e por aí vai.
Tudo transcorre sem muitas surpresas. Com a desculpa de ir aliviar a bexiga, sai da sala e toma a rua. Liga para Lee e ela lhe diz que está no apartamento tomando uma sopa e assistindo Os Simpsons. É perto. Caminha até lá, faz festa com o gato, pega uma lata de cerveja na geladeira enquanto comenta os fatos do dia e, depois de tomar uma ducha, vai pra cama com ela.
Acorda com o sol da manhã antes do despertador. A televisão exibe transmite um debate matinal que era pra ser sobre literatura, mas que lembra um programa de fofoca vespertino daqueles canais que vivem de informerciais e pastores histéricos gritando com seu rebanho. Desliga o aparelho.
Caga e toma um banho sem pressa. Despede-se da amante e toma a rua consultando sua agenda no celular. Só tem outro compromisso no dia seguinte, dá tempo de acabar de escrever um ou dois capítulos do novo livro.