O PALHAÇO E O PSIQUIATRA
O palhaço estava deprimido. Estava triste demais.
Fazia as pessoas rirem. Porém, dentro de si, só havia melancolia.
Depois do picadeiro, ele ia para o camarim, retirava a maquiagem, e via seus olhos cerrarem-se em lágrimas.
Um dia, cansado desta tristeza, resolveu buscar um médico: o Psiquiatra.
Foi ele lá. Aguardou como todos os melancólicos a chegada do doutor.
O doutor passa pelo meio dos neuróticos e diz:
- Bom dia!
E entra no consultório.
O palhaço é o terceiro a ser atendido.
O médico pergunta:
- O que o senhor está sentindo?
O palhaço diz:
- Doutor, faço as pessoas rirem: eu sou palhaço. Porém, todas as noites choro depois do picadeiro.
O médico diz:
- Já tomou algum tarja preta? Diazepan? Lorax?
O palhaço respondeu:
- Não.
O médico então falou:
- Tome dois comprimidos: um ao acordar e outro ao dormir.
O palhaço questiona:
- Doutor, se o meu público souber que eu tomo tarja preta eu perco a minha graça. Como pode um palhaço ser um deprimido?
O médico lhe responde:
- Na vida, meu caro, tudo é uma máscara. Para você viver no meio das pessoas você precisa representar o que você não é.
O palhaço então pega a receita e vai embora.
Um dia qualquer, o palhaço no meio do show encontra o médico psiquiatra com uma criança numa cadeira de rodas. Os dois assistem o show no meio da platéia.
Após risadas, o palhaço recebe no camarim os dois: o psiquiatra e a criança cadeirante.
Ambos eram pai e filho.
O médico diz:
- Esse é meu filho. Ele teve problema neurológico. A mãe dele morreu no parto. Vim trazer o meu filho para te ver. Ele pediu muito. Você fez ele rir, coisa rara, viu?
O palhaço então começou a chorar. O médico também.
Sem máscaras. As máscaras caíram.
Os dois ficaram frágeis e isso os fez bem.