O Fim e a Morte
O calor estava escaldante na noite sombria. A rua asfaltada no bairro da imensa cidade estava deserta, não se via uma alma passando e qualquer barulho faziam os cachorros latirem. A história do garoto começou muito tempo atrás, a ilusão o cercou, mas ele sobreviveu, o garoto teve esperança de que tudo daria certo e assim deu, passou pelos pecados como um guerreiro e viu a vida mais bela de perto, mesmo sendo atacado pela maldade que insistia em persegui-lo. Essa maldade o perseguiu tanto que o jogou no chão e o amor que ele sentia foi sugado, ele perdeu a pessoa que mais amava. Não havia mais felicidade, não havia mais motivos.
O garoto estava deitado no quintal de sua casa, ele olhava para o céu e as lágrimas corriam pelos seus olhos caindo pesadamente em seus cabelos. A Morte observava tudo a distância apreensiva, ela observava o garoto sem alma e com sentimentos fortes. Mas a missão dela naquela noite seria a mais difícil de todas, a lista que ela carregava nunca esteve tão cruel...
— Boa noite, garoto! — Disse a Morte solenemente.
— Boa noite, Morte. — Respondeu o garoto ainda deitado sem desviar o olhar.
— Tu não devias ter cometido esse atentado contra si mesmo. A vida é bela, não deve ser encerrada sem proposito.
— Morte, o fim chegou hoje, o fim de uma vida, de uma linda história. — Disse o garoto agora fitando o possível rosto da Morte — Eu entrei em desespero...
— Garoto, o desespero é um sentimento ruim, o amor que você sente pelo seu amado é muito forte, eu presenciei sua luta, mas temo lhe dizer que ela foi em vão. A vida é bem mais misteriosa do que a morte, já pensou nisso? — Questionou a Morte seriamente.
— Sempre achei que a vida fosse um corredor com muitas portas para escolher, uma escolha errada e você teria que voltar o corredor praticamente inteiro, mas quando eu voltasse, não escolheria a mesma porta...
— Certamente é um pensamento muito interessante — Disse a Morte pensativa — De certo modo, tu estás correto nesta afirmação. A vida é um aprendizado constante, a vida nunca para e, sim, termina quando você morre, novos rumos. Será que você escolheu as portas corretas? Se não escolheu, quanto que seu erro pesa para você? Mas neste momento lhe darei duas alternativas, eu deixarei você escolher, como raras vezes deixei, o que quer. Lhe interessa?
— Claro que sim, Morte!
— Pois bem! — Falou a Morte se aproximando do garoto, sua foice de prata estava ameaçadora — Lhe darei apenas duas opções, a primeira: Eu cumprirei a minha função e te levarei ao vale dos suicidas, você vagará um longo período no sofrimento até entender o que fez, até entender o valor de sua vida e a dor que causou com sua despedida inesperada; a segunda opção: Eu lhe deixo aqui, deitado neste chão gélido, curado e com vida, eu deverei ignorar o seu nome em minha lista. Você deverá se reerguer e lutar pela sua felicidade, por amor e por você. Eu lhe disse anteriormente: “É natural do ser humano errar, sofrer e se culpar. Mas também é natural amar, perdoar e ser feliz, independente do que os outros possam dizer, quem manda na sua vida, é você próprio”. Qual opção será?
— Morte, você sempre me aconselhou muito bem, eu não quero vagar eternamente, eu quero viver e quero lutar.
— Sim, o tempo é o Senhor da Razão. O tempo pode curar qualquer ferida, pode aliviar a dor, todos os dias algo pode acontecer, nada dura para sempre. Sua esperança nunca irá morrer, não a deixe mesmo cair no marasmo. — Disse a Morte calmamente — Viva sua vida. O que é verdadeiro perdura para sempre pela eternidade, o que não é, se desfaz como pó. O que anseio dizer, se for verdadeiro, o sentimento perdurará para sempre e quem sabe um dia as coisas se resolvam, mas não se precipite, viva e seja feliz. Conforme eu lhe prometi, eu irei embora, mas sem a sua companhia, por mais que me seja agradável lhe ver.
— Adeus, Morte! — Respondeu o garoto chorando — Obrigado por todos os conselhos em todos estes anos.
E assim, lá se foi a Morte, para outros rumos, outros caminhos, uma nova vida! Se ela visitará o garoto no futuro próximo, isso ninguém saberá, dependerá dele escolher o caminho a seguir depois de tanto aprendizado.
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