NETO UM PRESENTE DE DEUS



Só agora descendo os últimos degraus da vida, pude compreender o motivo daquele carinho tão especial de meu de avô. Por ocasião de nossa mudança. Para que eu frequentar a escola.
Ao iniciar nossa contagem regeressiva rumo ao nosso ocaso, as percas naturais que ocorrem sao invitáveis e em nosso fim de jornada os netos se tornam o mais eficaz remédio para alma e o coração, um alento precioso.Eles  são presentes de Deus em nosso apagar de luz.
Fui criado no mato até sete anos de idade, um mundo primitivo e rudimentar. Com a minha ingenuidade infantil, onde tudo me parecia mágico, eu não aceitara bem, a idéia de nossa mudança deixando aquele paraíso onde nasci. Que me parecia ter ficado tão distante. No entanto meu avô,"Guilhermino Rodrigues  da Costa" estava irradiante com a minha presença e me cercava de mimos e um carinho todo especial. Recebeu-me com largos sorrisos e a alegria, como se eu fosse seu primeiro e único neto. Sua primeira atitude para me agradar me marcou pela vida toda. Ele apanhando uma bela mexerica no seu pomar, levou-me até a bica d’água que despencava do monjolo, para cascar dentro d’água, ensinando-me a eliminar o forte cheiro do sumo. Um gesto simples capaz de marcar uma criança por toda vida. A partir daquele momento me apeguei a ele de uma forma especial e o transformei  no meu grande ídolo.
Após os primeiros dias frequentando a escola chegou o momento de receber a primeira lição ecológica ministrada por ele. Seu entusiasmo havia me contagiado aguçando-me o desejo de estar sempre junto a ele.  O  nosso primeiro passeio juntos  em sua fazenda, que a essa atura eu o julgava ser  meu novo ser um paraiso.
Mais tarde já adulto pude compreender os motivos que o levaram a insistir tanto ensinado-me os enogmas  da naturaza, como se eu fosse alguém tão importante. Ele quis fazer de mim seu seguidor, um discípulo na preservação ambiental cultuando a obra de Deus..
Fomos à sesmaria nome de uma parte de sua fazenda, situada onde se cultivavam extensas lavouras de cereais em se tratando das áreas de terras mais férteis, circuladas por extensos brejais também cultivados, e com alta produtividade de arroz.
Em fim chegou o tão sonhado momento, após aguardar com ansiedade por três longos dias até que chegasse o sábado, para que eu não faltasse à aula. Saímos, ele calçando um par de polainas longas, usando um capacete modelo policial. Sua figura está eternizada em minha mente e sempre o visualizo imaginariamente nos momentos que me vem à lembrança, este nosso primeiro contato. Mais duas pessoas, cujos nomes não me recordo nos acompanharam. Tenho apenas uma lembrança e a certeza de sentir a mesma sensação que atualmente sente uma criança ao visitar a Disneylândia.
Minha primeira surpresa foi o encontro com uma multidão de sapinhos que vinham ao nosso encontro na direção do cerrado. Fiquei encantado. Nunca vira tantos animais tão pequeninos e por mais esforço que fizemos foi difícil não pisarmos em vários deles, uma vez que cobriam toda a área da estrada. Satisfazendo minha curiosidade ele explicou-me que se tratava de uma migração. Um capricho da Natureza transferindo-os para fugir das cheias que aproximavam com as chuvas contínuas que chegariam muito breve. Quando ocorre este fenômeno, temos chuvas até por noventa dias seguidos alagando os brejais, explicou-me.
- O que é fenômeno? ... Perguntei!
–Fenômeno é um acontecimento extraordinário, inesperado, mais um capricho da Natureza!
Dando continuidade ele descreveu o ciclo evolutivo de vida daqueles pequenos anfíbios, com suas transformações metamórficas até ao ponto de se migrarem, voltando ao pântano mais tarde em idade adultos, para procriarem nos alagados.
Caminhávamos pausadamente, deixando para trás aquela estrada branca, arenosa, cortada por carros de boi. Na medida em que avançávamos, deslumbrados, meus olhos embarcavam todas as maravilhas do encantador cenário. Arvores centenária, onde uma diversidade de pássaros, de todas as cores, formava uma genial orquestra numa sinfonia de rara beleza. Ao fundo arrebatado do ventre da terra um gigantesco olho d’água formando o belo e límpido lago azul que partia ao meio o imenso pântano indo desaguar no rio picão. Para mim um pequeno oceano com variados cardumes, espécies que eu jamais vira. Encantei-me com o malabarismo das espécies que disputavam cada inseto que batia contra a água, suas escamas espelhavam contracenando o raio do sol que refletiam magnificamente no leito as core que me pareceram fábricas de arco-íris. Belas aves aquáticas mergulhavam no seu caudal buscando seus petiscos. Às margens do pântano macacos micos e insetos coloridos compartilhavam os espaços nos arbustos floridos. Mais ao fundo um tapete verde agropastoril, tornava a paisagem exuberante, sob um céu infinitamente azul, como se fosse o pano de fundo de uma bela tela. Com um bando de garças brancas que continuamente sobrevoavam inspecionando as áreas alagadas. A fragrância das flores aromatizava o ar combatendo o cheiro podre dos brejais. Carregada de perfume a brisa tocava-me o rosto de leve, carinhosamente, como se tivesse me dando boas vindas àquele paraíso encantado diante de meus olhos.
A essa altura senti-me como parte daquele fabuloso cenário, ouvindo detalhadamente o discurso que vovô passava-me, uma verdadeira aula explicando as funções de cada animalzinho que compunham a natureza. Eis que de repente um gaviãozinho azul que flutuava borboleteando no ar deu um mergulho rasante como se fosse estourar contra o chão. Fiquei curioso, e ele explicou-me que aquela pequena ave de rapina estava apenas cumprindo a lei natural da selva, lutando pela sobrevivência, a esta altura o pássaro já ia bem longe levando nas garras sua presa talvez para alimentar os filhotes.
-Esta é a lei natural da floresta concluiu. Deslumbrado de emoção eu tentava escolher onde encontrar maior beleza, se naquele mundo ecológico ou na figura de meu avô, um ecologista nato.
Ao voltarmos para casa nossas imagens já se confundiam com as silhuetas das árvores alongadas pelo sol se escondendo no poente. A brisa soprava suave empurrando o ar frio. As aves de hábitos noturnos começavam a se espalhar em sua jornada, misturando seus cantos e gritos com o coaxar das rãs, e bem no fundo muito distante a piarem triste, as corujas, anunciavam mais uma noite sem luar. Iluminada por miríades de vaga-lumes e lacraias que se espalhavam pelos brejais como se fosse um fundo espelhado refletindo o infinito coalhado por bilhões de estrelas.
. (Obs.: lógico que naquela idade eu interpretava com a minha maneira de menino chucro, e não com esta concepção atual).


Obs:( Imagem arquivo pessoal meu netinho Otávio lobinho escoteiro)
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 03/09/2019
Reeditado em 07/09/2019
Código do texto: T6736016
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