Terra nád(eg)a santa...
O Israel apareceu lá em casa levado pelo mano Beu que estudava no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica. Sua cegueira de nascença não o impediu de se locomover pelo país afora. Dizendo-se primo de um então Ministro da Aeronáutica, entrava e saía de salas e gabinetes oficiais com a desenvoltura de um pinto no lixo, e esse acesso catapultava-lhe a propensão para viver suas fantasias e estimular o compartilhamento dos que lhe eram próximos, ou melhor, de quem se tornava próximo.
Muito bem acolhido na casa singela de nossos pais, Israel prodigalizava-se em falar de suas ligações importantes, prometendo "colocações", com base em sua influência. O reloginho de pulso em que o tampo se abria para a certificação digital das horas era uma apreciada novidade que lhe dava adicionalmente a segurança no comando das ações.
Como éramos vizinhos de cerca de Vovó, com suas quatro filhas solteiras, além de tio Antônio, ficou combinado que para seu conforto, e sua higiene, a Israel seriam oferecidas as instalações sanitárias de Vovó, amplas e menos frequentadas.
Tia Rita, a terceira das filhas, para anunciar que estavam prontas para
a utilização as referidas instalações, chegou junto à cerca de tela grossa que dava de seu quintal para a coberta da cisterna onde todos nos encontrávamos em animados papos, e, temerosa de ferir as suscetiblidades do visitante em tocar num assunto a que toca a intimidade, sussurrou para mamãe, pressurosa:
- Olha, Zezé, as instalações nossas lá para o Dr Israel estão prontas, lavadas e enxutinhas, mandei até remover aquele pau que o Tonho tem pendurado atrás da porta, e que usa para atravessar a borda do vaso sanitário para fazer suas obras sem tocar a pele na louça, porque aquilo nos dá uma vergonha danada...Imagine um visitante ilustre como o Doutor Israel tocar naquilo por acidente, o quê ele há de pensar...
E foi ali que Israel interveio, em sentencioso estardalhaço:
- Ah, Dona Rita, eu sou é cego, e não surdo...Rô rô rô rô...