O Amor e a Morte
As ruas asfaltadas do pequeno bairro de uma grande cidade estavam desertas, a noite corria e a chuva era intermitente. Um cenário típico para qualquer pessoa pensar em sua própria vida. Erros e acertos, até onde o ser humano deve caminhar para entender seu proposito nesta vida turbulenta e cheia de altos e baixos?
Depois da ilusão, medo e do caos assombrarem a vida do garoto, ele agora estava diante de uma das melhores coisas da vida, mas também do sentimento mais intrigante para os seres humanos: o amor. E sem respostas, a dor o consumia, a falta da pessoa amada lhe provocava uma sensação de vazio e de que sua própria vida havia terminado. Sua conselheira das sombras o observava com sua foice reluzente de prata pingando um sangue vermelho escarlate e entre tantos devaneios, ela decidiu interrompê-lo de suas fantasias.
— A vida é mesmo intrigante, não é mesmo meu jovem? — Se aproximou a Morte.
— Depois de tanto que passei Morte, ainda não entendo certas coisas que acontecem com nós, meros mortais viventes de fantasias e ilusões. — Respondeu o garoto tristemente.
— O amor que lhe machuca agora, no passado, lhe trouxe muitos sorrisos e felicidades. A vida é um enorme ciclo e tudo que fazemos aqui nesta terra, volta para si mesmo. Por exemplo: Se você constrói uma casa linda, com uma varanda enorme, piscina e tudo que desejar, com bases bem solidificadas, você sempre irá querer que o seu lar cresça conforme você evolui. Mas nem sempre as bases mais fortes aguentam o enorme peso que você põe sobre elas. — Disse a Morte lentamente, quase que em um suspiro demorado por baixo de seu capuz negro — O resultado disso é que tudo que está em cima pode desabar e destruir estas bases de uma vez. Por isso você sente essa dor e sofrimento neste momento. — Concluiu.
— Mas tudo ia tão bem.... — argumentou o garoto.
— Há muitas coisas na vida que não enxergamos, não vemos, mas mesmo percebendo que algo não vai bem, os humanos deixam isso passar, como se o tempo resolvesse. O tempo só faz esquecer o que poderíamos ter resolvido, mas o problema sempre estará lá. É natural do ser humano errar, sofrer e se culpar. Mas também é natural amar, perdoar e ser feliz, independente do que os outros possam dizer, quem manda na sua vida, é você próprio.
— Morte, eu tentarei entender isso, mesmo com a dor que sinto. — Disse o garoto encolhido em um canto — Mas porque a sua foice está sangrando?
— Essa é uma excelente pergunta, meu rapaz! — Disse a Morte calmamente — A minha foice está representando seu coração. Ele está cheio de amor, de compaixão, de humildade e de alegria, mas agora outros sentimentos o preenchem, como: a culpa, a saudade, o sofrimento e, principalmente e indubitavelmente, pela esperança. Esperança essa, que mesmo considerada morta em você, reluz como ouro. Essa esperança pode e deve ser mantida, mas lhe aviso de uma coisa muito importante. Posso? — Questionou a Morte seriamente.
— Mas é claro que pode, a ouvirei atentamente — respondeu o garoto levantando-se.
— O amor que você sente é lindo, poucas pessoas são capazes de amar como você que ama essa pessoa que passou anos ao teu lado. Vocês viveram seus melhores momentos, vocês tiveram o que nenhum casal teve em muitos mais anos juntos, vocês realmente se amam. Mas a vida pregou peças em ambos e, infelizmente, devo dizer que os dois caíram, suas bases estavam fracas, trincadas e os escombros que sobraram desta queda ainda podem servir para um novo castelo maior ainda. Mas o aviso que devo lhe dar é: Se é verdadeiro o que um sente pelo outro, o tempo, neste caso, dirá o que vai acontecer. O que for para acontecer, vai acontecer. O que eu digo, se for para vocês ficarem juntos, vocês irão ficar. Não odeie, não sinta raiva, apenas sinta e transmita o seu melhor e mentalize o melhor para ele. O amor supera tudo e você aprendeu muito com tudo isso, amem a si próprios primeiro e depois amem um ao outro, pois o destino de ambos foi feito para ser trilhado juntos, um ao lado do outro.
— Obrigado Morte, pelas lindas palavras. Não vou desistir. — disse o garoto esperançoso.
— Quando você ama, nunca deve desistir. — E assim se foi a Morte com sua foice sangrenta...
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