A Cidade de Gelo

Alguns anos mais tarde, meu amigo Henri Petit – ao qual foi citado na introdução deste livro – realizou uma outra viagem, totalmente sozinho, pelo Atacama. Petit narrou-me a seguinte história:

Ainda que não tenha paredes que te fechem o caminho, ou corredores que te levem a lugar algum, o deserto é o maior dos labirintos.Perdi-me no deserto, e bem depois de já ter anoitecido, andando a esmo por uma planície, dei-me com uma bela cidade, cheia de luzes, cores, bares, restaurantes, ruas abarrotadas de gente que bebia e cantava. Eu mesmo pude comer uma deliciosa bisteca, beber, me uni a festa, e dancei com uma bela morena que tinha os longos cabelos negros a tocar o solo. Esta belíssima jovem presenteou-me com um lenço de seda púrpuro. Creio que exagerei na bebida, pois não me recordo de haver adormecido, o fato é que no dia seguinte despertei com a cabeça apoiada numa pedra, e abrindo os olhos, veio-me a terrível surpresa. A cidade, os bares, a mulher, já nada existia, o único que havia era a desoladora paisagem do deserto. A princípio, acreditei que havia imaginado tudo, porém, o lenço...o lenço de seda púrpuro que a mulher me deu, estava metido no bolso da minha calça!

A narrativa de meu amigo parece algo fantástica, contudo, acredito que ele realmente esteve nessa cidade em festa. Esta cidade seria a Cidade de Gelo em uma das noites em que celebravam o dia da Virgem La Impiedosa. Teria, em minha opinião, Petit cruzado uma linha temporal que o fez viajar no tempo até a época de esplendor da mítica cidade. O deserto é um sítio bastante propício para esses tipos de acontecimentos.

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Esteban Donato Ardanuy
Enviado por Esteban Donato Ardanuy em 29/07/2019
Reeditado em 15/10/2019
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