A Queda do Rei

“O rei caiu,” o informante lhe disse num sussurro.

“Como?”, ele perguntou com pressa, mesmo que a esperança estivesse começando nitidamente a esvair de seus olhos castanhos.

“No poço sem fim.”

Ele olhava as colinas sem realmente vê-las, a brisa tranquila da madrugada contrastando com suas emoções. Havia muito que não dormia a horários razoáveis, e, para ser sincero, devia isso ao rei, mas o mero pensamento o deixava esgotado.

“Como?”, repetiu.

O informante desviou os olhos para baixo, acompanhando o parapeito da janela alta da torre do rei— pois tudo lhe pertencia, naquela época— e logo seus dedos cravejados de verrugas acompanharam-nos. “Ele saiu escondido de sua torre. Quando alcançou o chão, descalçou os sapatos e as meias. Entrou no bosque e fez um primeiro pedido. Lá, depois de andar um pouco, fez outro pedido, ajoelhado em um anel de fadas.”

“Um anel de fadas?” A garganta apertou-se num nó. “Aquele anel de fadas?”

Não obteve resposta, mas não foi preciso. Soltou uma gargalhada.

O informante não se abalou; nem ao menos piscou. Apenas continuou: “Depois alcançou a maré infinita. Quando as ondas lamberam seus pés, teve uma ideia, e fez um terceiro pedido. Então ele abandonou a maré e foi atrás da Árvore que lhe concedeu a vida. Teve medo e pediu por proteção. A Árvore riu e disse, ‘Você não precisa disso; está perdido há eras’. Contou-lhe onde poderia encontrar o que precisava. Ele decidiu ser corajoso e foi até o poço sem fim.

“Lá, ele tirou seu manto e suas roupas, que continham os mais finos fios de ouro e seda e permaneceu apenas com a camisa de baixo e as calças, que já estavam começando a gastar com o uso. Por último, deixou sua espada de marfim juntamente com a coroa, pois onde estava indo não precisava de nada disso.

“O rei subiu na beira do poço e olhou para baixo. Estava escuro, mas podia ver seu reflexo e o da Lua. Ele olhou para cima e ela sorriu. As estrelas amontaram-se para retribuir seu olhar. E ele sorriu uma última vez para a Lua antes de pular na escuridão do poço.”

Ele continuou olhando para as colinas. Lentamente, ele assentiu. “Ele precisava fazer isso.”

O informante nada disse.

Muitas coisas se passaram pela cabeça dele. Nenhuma delas foi pessimista, embora ele soubesse que deveriam ser. Pensou na Árvore enquanto mordiscava o amuleto que carregava no pescoço distraidamente.

Um pensamento caiu sobre si como um raio. “O rei vai bater no chão.”

“Sim.”

“Ele vai ficar bem?”

O informante sorriu. “É claro que sim. Você sabe disso. Ele precisa de um susto.”

Ele sorriu tristemente. “Queria que não tivesse que ser assim.”

“Você sabe que isso é responsabilidade dele.”

Assentiu. “Sim.” E seus olhos castanhos acompanharam novamente as colinas e as veias de caminhos que as entrecortavam; logo pararam no céu. Um trovão soou, distante. “Lá vem chuva.”