A Baixa do Avelino
Fiel, Avelino foi a vida toda. Desde o registro de seu nascimento no Cartório Municipal de Pitangui: Avelino Fiel, integrante de vasta irmandade. Sua amizade com papai veio da meninice. E a derradeira vez que o vi, em visita ao velho, foi na casa de vovó, que era vizinha de porta nossa, vindo do Brumado, justamente naquela noite em que Armstrong iria passear na Lua. Julho de 1969. Meio século, desde então.
E nem meio-século inteiro tinham esses dois amigos, mas nós nos fincamos no sofá, olhos colados na tevê, e atentos à prosa dos experimentados, atônitos que nem nós. Vovó foi que, já quase octogenária e acamada, não acompanhou o desenrolar da aventura, a não ser com seus gemidos intercalados, e interfalados.
Avelino expôs sua teoria, antes que se fizesse o pouso. Quase que acertou, pois julgava que a espaçonave, para ficar bem segura no solo lunar deveria penetrá-lo era de finquete. Aí não corria o risco de cair no espaço, aquele breu puro.
Café houve, e também biscoito frito, ou bolo de Tibebé. As tias, que eram quatro, não falhavam nunca nas cortesias. Mas não pareciam esposar nossos mesmos interesses da hora. Tampouco teriam cabido no sofá e nas poltronas da sala. De tio Antônio, agora, é que não tenho seguro se estava no espaço, ou na zona. A hora, afinal, já não era mais de igreja.
Desde então não mais vi Avelino. Mas soube por papai e pelo mano Beu que haviam ido visitá-lo uns anos dispois na vizinhança de Beagá, justamente na Cidade Industrial, para onde havia se mudado, aposentado da fábrica do Brumado, e à busca de uma vida melhor, que teria reiniciado como carroceiro, passando em seguida a construtor e administrador de um cortiço, espremido, numa semi-pirambeira, entre uns prédios de fábricas e casario miúdo, de oportunidade, ou de mais necessidade.
Já não tinha olhos para a Lua. Andava quase cego, mas em posição estratégica, à frente da propriedade para as necessárias e tempestivas coletas de aluguel.
Não levou muito tempo mais a dar baixa. E dar nome, para nós que o recordamos, à Baixa do Avelino, logo ali à margem direita da Avenida Amazonas, pouco antes da trincheira da Praça da Cemig, no caminho para Belorzonte...